E lá se foi o interino

Cuca montou estratégia simples, perfeita, executada em detalhes pelo Palmeiras

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Por Paulo Calçade
Atualização:

Cristóvão Borges chegou ao Corinthians carregando o bastão da interinidade. Substituir Tite seria difícil para qualquer um, mesmo se a equipe campeã brasileira de 2015 tivesse sido mantida. Torná-lo o capitão de mudanças tão severas, sem um grande passado como treinador para avalizá-lo, deixou a situação delicada e perigosa para ele. 

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A comparação entre métodos de trabalho e resultados seria inevitável, mesmo diante da certeza de que nada seria como antes. “Interino, por enquanto” foi o título da coluna do dia 20 de junho, três meses atrás, quando o novo treinador foi anunciado.

Surpreendente até para o escolhido, a escolha foi uma resposta rápida à saída de Tite, embora desprovida de convicção, é verdade, se é que isso existe no futebol.

Em 2016 o Corinthians paga pelo sucesso de 2015. Lamentavelmente é assim que funciona. Quando se gasta além do permitido pelo bom senso, no ano seguinte a casa cai. É a versão bem brasileira da administração profissional do futebol.

A responsabilidade pelo momento ruim, porém, devem ser bem distribuída entre diretoria e treinador. É fato que o novo Corinthians, depois de negociar seus principais jogadores, jogou melhor com Tite no início da temporada. Com Cristóvão a situação agravou-se devido o movimento de saída que ampliou o esvaziamento técnico da equipe.

A derrota no clássico, a primeira como mandante no Campeonato Brasileiro, transformou o estádio corintiano numa panela de pressão prestes a explodir.

Tão importante quanto o resultado é a maneira como ele foi construído. E como o Corinthians expôs, em casa, sua incapacidade de enfrentar o rival.

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Fábio Carille, da comissão técnica permanente, deverá ser o treinador até o final do Brasileiro, avisa a diretoria. Com Tite, ele era responsável pelo treinamento da defesa, que não vem jogando bem, sobretudo com falhas nas bolas altas, como mostraram os clássicos contra Santos e Palmeiras.

Cuca montou estratégia simples, perfeita, executada em detalhes pelo Palmeiras. Precisava que o adversário tivesse a posse de bola para construir seu jogo a partir do momento que ela fosse recuperada, infiltrando-se nas rachaduras corintianas e tirando proveito da tensão que isso poderia gerar.

Bingo! Com 60% de posse de bola, o time de Cristóvão acertou um único chute a gol. Não havia rota para o ataque, todos os caminhos foram obstruídos. E assim o Corinthians sumiu do mapa da partida. Não havia como conduzir a bola para o campo ofensivo. 

O ótimo trabalho defensivo de Dudu e Erick, em apoio aos laterais Egídio e Jean, trancou a saída pelas laterais. E quando o Corinthians buscava o centro do campo encontrava Moisés e Tchê Tchê impedindo qualquer iniciativa de Camacho e Rodriguinho. Foi o tempo todo assim, com o Palmeiras no controle, encaixado, modulando o jogo dentro da estratégia bolada por Cuca. Um time mais maduro, com tempo de treinamento e equilibrado em seus setores, teria encontrado algumas saídas. Não este Corinthians, sem grandes ideias com a bola e frágil sem ela.

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O Palmeiras foi objetivo, conquistou uma vitória importantíssima, agora que a luta pelo título está mais clara, mas deve refletir até que ponto o futebol jogado é suficiente para mantê-lo em primeiro lugar.

Restam 36 pontos em disputa e o grande rival, o Flamengo, vem crescendo, conduzido por Diego e empurrado por uma torcida capaz de lotar qualquer estádio.

O controle da liderança não pode travar a evolução do futebol palmeirense. Ausente do clássico por suspensão, o ponto de desequilíbrio é Gabriel Jesus, o menino que decide jogos, que finalmente conseguiu descansar, recuperado do calendário massacrante que o clube preferiu ignorar. 

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A conquista do título passa por ele, inteiro, voando.