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Época do choro

Por Antero Greco
Atualização:

O choro está na moda no futebol daqui. Infelizmente, não o gênero musical tão brasileiro, que faz sorrir em vez de provocar lágrimas. Não se trata da arte de Chiquinha Gonzaga, Altamiro Carrilho, Waldir Azevedo, Abel Ferreira, Canhoto, Jacob do Bandolim e tantos outros bambas da canção popular. Tampouco se fala do diálogo harmonioso entre violão, cavaquinho, flauta, trombone, pandeiro. O negócio não é chorinho, mas choradeira. Raros os jogos em que não há algum tipo de reclamação contra os árbitros – e a chiadeira engloba todo mundo, dos que perdem aos que vencem. Uns para justificar os tropeços; outros para alegar que o resultado lhes foi favorável “apesar” do desempenho da turma do apito. Está chato pra chuchu, tão cansativo quanto as teorias de conspiração. Se um juiz erra por incompetência ou por azar mesmo, na bucha aparece um jogador, um técnico, um dirigente a sugerir que tem coisa no ar, com aquele jeito falso de quem sabe de maracutaias, mas não pode escancará-las por temer represálias. E os torcedores embarcam. Não se assume mais que time tal desperdiçou chances de gol ou que jogou bulhufas. Não se dá crédito ao esforço do adversário nem se exaltam as jogadas bonitas. O bacana é levantar suspeitas, fazer cara de vítima e principalmente se fingir de morto, se houve algum lance que tenha sido a seu favor. Tome-se como exemplo Palmeiras 3 x Inter 2, na noite de quarta-feira. O clássico foi nervoso, emocionante, com os palestrinos a abrirem vantagem de 2 a 0 e os colorados a empatarem, para logo em seguida tomarem o terceiro e decisivo gol. A torcida ficou com o coração na mão até o último segundo dos minutos de acréscimo. Duelo memorável de dois times tradicionais. E do que se falou mais, após a partida? Das mancadas de Wilton Sampaio e auxiliares. As defesas de Prass, os dribles de Dudu, a reação do Inter caíram para segundo plano. Está bem, Wilton pisou na bola em momentos importantes, um horror – nem por isso merece a pecha de desonesto. Atrapalhou todo mundo, mas cada qual só olhou para o lado do outro. O dirigente Alexandre Mattos esbravejou contra perseguição a Dudu, que ele supõe esteja marcado pelos árbitros. Ignorou que o moço, pela maneira de jogar, atiça os zagueiros rivais. O técnico Marcelo Oliveira disse que Wilton influiu no resultado pelos dois gols com irregularidades do Inter (e as houve, de fato). Mas, ao analisar o pênalti sobre Lucas, na origem do segundo gol palestrino, alegou que deveria rever as imagens. Lucas e Alex tropeçaram, sem intenção de se atingirem. No mínimo, lance polêmico, para usar outra expressão em voga e que serve para opiniões em cima do muro. A rapaziada do Inter não deixou por menos e seguiu toada idêntica. O técnico Argel Fucks desceu a ripa no pênalti e se referiu até a colocação incorreta de Rafael Moura no reinício do jogo, após o gol de empate. Cartola gaúcho viu tramoia semelhante àquela do Brasileiro de 2005 para prejudicar o time dele. E todos de bico calado a respeito de falta no primeiro gol e impedimento no segundo.  É treinador que fala em “campeonato manchado”, é jogador que vê muitos pênaltis para o Santos (por exemplo) ou complô em favor do Corinthians, é diretor que xinga árbitros e pede cabeças na CBF. Futebol que é bom aparece só como perfumaria. Como aconteceu nesta crônica que você acaba de ler... A novela do Osorio. Já esgotou audiência a trama que envolve a permanência ou saída de Juan Carlos Osorio no São Paulo. Técnico e dirigentes não falam a mesma língua, sem nenhum trocadilho com português ou castelhano. O colombiano a todo momento dá dicas de que pode bater asas e, em entrevistas, nunca é claro, direto e incisivo. Os são-paulinos garantem que, “nos bastidores”, Osorio reafirma interesse de cumprir contrato. Na prática, batem cabeça e só desgastam o clube. Custa ter transparência e profissionalismo?

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