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Está manchado, Levir!

Por Paulo Calçade
Atualização:

Caro Levir Culpi, você tinha razão, o Campeonato Brasileiro está manchado. Mas faltou dizer que a mancha de 2015 tem sua origem na sujeira disseminada pela hierarquia de um padrão que controla o futebol no planeta. Perto disso, as complicações da arbitragem são um minúsculo acessório do problema. A lama produzida nos escritórios da Fifa na Suíça se esparrama pelas confederações continentais e, pela força da gravidade, chega sem obstáculo às CBFs da vida. A capilaridade da corrupção, obviamente, atinge outros parceiros da estrutura de poder que vem lesando o futebol há muito tempo. Ao contrário do que você imaginava, Levir, quando se preocupava exclusivamente com a situação do seu time, a mancha não atinge apenas este Campeonato Brasileiro, que teve a chancela de Marco Polo Del Nero, agora definitivamente enroscado na teia da justiça norte-americana. A mancha desonra todas as competições controladas por João Havelange, Ricardo Teixeira, José Maria Marin e o próprio Del Nero. Embora existam outros nomes que mereçam fazer parte dessa lista, vamos nos concentrar apenas nesses quatro, por enquanto. Lamentavelmente, os norte-americanos estão muito mais avançados que os brasileiros na missão de expurgar essa gente do futebol. Por aqui ainda temos dificuldades institucionais, até com barreiras criadas por quem deveria ter o dever de esclarecer os fatos. Imagine o que seria uma Lava Jato da bola? Quem se atreve? Levir, seu olhar decepcionado é justo, mas precisa ser expandido para todo o sistema do qual fazemos parte. Não podemos esquecer que os clubes da Primeira Divisão e as federações nada fizeram para evitar que o poder fosse transferido a Del Nero.  Se houver algum eleitor do cartola brasileiro surpreso com seu indiciamento nos Estados Unidos, este merece ser retirado de circulação por demência. A diferença entre Del Nero e os que o antecederam é que ele procurou passar o verniz da modernidade na administração da CBF, além de tentar fazer pegar a ideia de que a entidade estava realmente mudando. Não é fácil Levir, o mundão do futebol continua o mesmo e você é prova disso. Se o Atlético Mineiro acreditasse mesmo no campeonato manchado, decidido pelas más arbitragens, não teria demitido seu treinador, você. Veja a situação do São Paulo, que mesmo tendo se esforçado para não dar certo, acabou premiado com vaga na Copa Libertadores do ano que vem. E não foi fácil, pois estava a caminho do caos com a presidência de Carlos Miguel Aidar, expurgado da instituição por ter sido flagrado utilizando a metodologia administrativa da escória que agora o FBI investiga. E o Vasco, Levir? Quais são as perspectivas do centenário clube carioca, rebaixado pela terceira vez nos últimos oito anos? O torcedor vascaíno não merece tanta tristeza, mas é preciso reconhecer que muitos incautos e espertinhos foram fisgados pelas falsas promessas de Eurico Miranda. É quando o futebol vira terra de ninguém. A ideologia e as figuras são conhecidas, mas qualquer iniciativa, que precise de reflexão e de apoio no Congresso Nacional, é barrada pelos representantes do povo, boa parte deles afinadíssimos com a CBF, a quem protegem. É ou não é o fim da picada, Levir? E você preocupado com a arbitragem? Mas fique tranquilo que a situação vai melhorar quando o deputado Marcelo Aro (PHS-MG), diretor de ética e transparência da CBF, resolver dar um pouquinho de dignidade ao cargo. Por ironia do destino ou por um inusitado alinhamento dos astros, Aro foi indicado pessoalmente por Eduardo Cunha, o enrolado presidente da Câmara dos Deputados, a Marco polo Del Nero. Levando a questão para um campo exotérico, deve ser mais que afinidade, só pode ser questão de energia, Levir.  

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