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Evaristo de Macedo, que jogou nos dois, fala da rivalidade entre os gigantes da Espanha

Atacante atuou por Real Madrid e Barcelona, sendo bicampeão espanhol com ambos os clubes

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Por Redação
Atualização:

Ele foi o primeiro brasileiro a jogar pelas duas equipes. Evaristo de Macedo jogou de 1957 a 1962 no Barcelona e de 1962 a 1965, vestiu as cores do Real Madrid. Foi bicampeão espanhol pelas duas equipes, mas sua identificação é maior com o time da Catalunha, onde jogou por meia década, e fez 178 gols em 226 partidas e ainda levou uma Copa del Generalísimo. Pelo Real, devido às lesões em seu joelho, disputou apenas 19 jogos e fez seis gols. Nesta entrevista, Evaristo fala um pouco de sua passagem pelos maiores rivais da Espanha.

 

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Você foi contratado pelo Samitier, um dos maiores ídolos da história do clube. Além disso, jogou com o húngaro Kubala, que também é venerado em Barcelona. Fale sobre o seu convívio com eles.

 

O Samitier foi um dos grandes amigos que fiz no futebol, amigo pessoal mesmo, uma ótima pessoa, que bancou a minha vinda para o clube. Já o Kubala eu conheci no fim da carreira dele, era um excepcional jogador, muito bom para o grupo, mas um pouco reservado.

 

Você trabalhou duas temporadas com o Helenio Herrera, treinador que fez sucesso na Inter com um esquema defensivo que ficou conhecido como Catenaccio. Mas o Barcelona dele não era defensivo, certo?

 

O Helenio era ótimo treinador. Muito ativo, se preocupava com tudo e com todos. Além disso, dava muita ênfase ao preparo físico dos atletas. O Barça que ele treinou era bem ofensivo, mas isso era decorrente das características dos jogadores e do futebol espanhol. Na Itália, onde eles dão mais importância à defesa, o Helenio arquitetou um esquema que protegia mais a defesa. Esse tipo de sensibilidade, de ver o estilo dos jogadores e o modo como se joga o futebol em determinado lugar, mostra o quão inteligente ele era.

 

Como você via a rivalidade entre Real e Barcelona?

 

É uma rivalidade política, quanto a isso nunca tive dúvida. É o jogo entre o "Estado da Catalunha" e o "Estado de Castela", algo que transcende a esfera esportiva. Os catalães são muito ressentidos pela perda de liberdade que eles tiveram no franquismo, a Guerra Civil... por isso sempre era um clima que ia além das outras rivalidades esportivas que vivenciei.

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O que marcou você em sua passagem pelo Barcelona?

 

Sem dúvida, a forma como fui recebido. Todos me trataram muito bem e lá pude desenvolver meu melhor futebol. Deixei grandes amigos lá. Mas há um ponto negativo: fiquei muito sentido com a perda da Liga dos Campeões para o Benfica na temporada 1960-1961, quando perdemos por 3 x 2. Fomos melhores, dominamos o jogo, mas os benfiquistas foram mais efetivos...

 

Mas antes disso vocês eliminaram o Barcelona nesse torneio. Você inclusive fez um gol decisivo.

 

Verdade. Foram duas partidas emocionantes e o Real tinha uma grande equipe. Marquei o gol no Camp Nou, de cabeça, que nos permitiu ter mais tranquilidade na partida. Foi um dos mais importantes que fiz pelo clube.

 

Você jogou pelo Real Madrid depois. Como foi a reação da torcida?

 

Eu sofria pressões no Barcelona para me naturalizar espanhol, algo que não me atraía. Meu contrato com o Barcelona acabou e o Real me fez uma proposta que eu aceitei. A torcida não ficou brava comigo, não houve nenhum tipo de polêmica. Acho, inclusive, que eles ficaram mais chateados com a diretoria por ter deixado eu ir embora...

 

E como foi sua recepção no Real? Dizia-se que Franco tinha simpatia pelo Real...

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Nunca notei uma influência do Franco no clube. Nunca. Os jogadores que lá estavam me receberam muito bem. O problema é que minhas lesões me impediram de jogar como eu gostaria. 

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