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Ex-gerente do São Paulo recebeu R$ 1,5 milhão no 'Caso U2', afirma diretor

Alan Cimerman é suspeito de interferir na venda de ingressos e aluguel de camarotes de shows no Morumbi

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Por Matheus Lara
Atualização:

O diretor executivo de comunicação e marketing do São Paulo, Márcio Aith, enviou uma carta ao presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, onde informa as razões que fizeram o departamento demitir por justa causa o então gerente de marketing do clube, Alan Cimerman.

No comunicado, enviado também a conselheiros do São Paulo, Aith afirma que Cimerman recebeu depósitos de pelo menos cerca de R$ 1,5 milhão em sua conta pessoal de parentes de primeiro grau, a quem o ex-funcionário do clube teria prometido ingressos e aluguel de camarotes para os shows do U2, em outubro, e do cantor Bruno Mars, em novembro, no Morumbi. A defesa de Cimerman nega as acusações.

Venda de ingressos para os shows do U2 no Morumbi virou caso de polícia; em 2011 (foto), banda já se apresentou no estádio Foto: Rubens Chiri/São Paulo FC

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Aith garante que o São Paulo não chegou a sofrer prejuízos, pois as vendas não chegaram a ser concretizadas. O gerente diz ter conversas e aúdios que comprovam a intenção de Cimerman de forçar o clube a firmar um contrato de cessão, com uma empresa terceirizada, de nove camarotes do Morumbi, no valor de quase R$ 190 mil. O plano do ex-gerente, de acordo com Aith, era sublocar os camarotes a valores exorbitantes e desviar ingressos de lotes gratuitos que o São Paulo costuma distribuir para os eventos no Morumbi.

"Nas conversas, o funcionário demitido admite ter enganado o clube, falsificado documentos e assinaturas e se beneficiado financeiramente dos atos delituosos que praticou", informa Aith.

Os detalhes sobre o suposto esquema liderado por Cimerman foram obtidos em investigação interna do departamento de marketing do São Paulo, com o aval de Leco, e o caso agora está sendo investigado pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais da Polícia Civil, que já ouve testemunhas.

Confira a carta, na íntegra:

"Ao Ilustríssimo Senhor Carlos Augusto de Barros e Silva, Presidente da Diretoria Executiva do São Paulo Futebol Clube

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Transmito a V.S.ª os fatos abaixo descritos, apurados pela Diretoria Executiva de Comunicação e Marketing do SPFC, que levaram a direção de nosso clube a demitir, por justa causa, o Sr. Cimerman, Gerente de Marketing, bem como a solicitar a abertura de um inquérito policial no Departamento Estadual de Investigações Criminais - DEIC.

Registro, desde já, estarmos à disposição de todos os Conselheiros para prestar os esclarecimentos adicionais desejados, assim como já nos dispusemos a fazê-lo na reunião extraordinária do Conselho Deliberativo do dia 21 de Agosto de 2017.

Importante iniciar o relato salientando que, apesar da gravidade e da publicidade dadas ao caso, o SPFC não sofreu qualquer prejuízo direto, visto que as práticas infracionais, embora tenham prejudicado terceiros, em benefício direto do Sr. Cimerman, puderam ser amplamente comprovadas antes de consumadas contra o clube.

Em breve resumo, o Sr. Cimerman obteve ilegalmente, na conta pessoal de uma familiar de primeiro grau, depósitos de pelo menos cerca de R$ 1,5 milhão. Esses depósitos foram feitos por terceiros, aos quais o Sr. Cimerman prometera a “venda” de ingressos e o “aluguel” de camarotes para os shows da banda irlandesa U2 (nos dias 19, 21, 22 e 25 de outubro) e do músico norte-americano Bruno Mars (22 e 23 de novembro).

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Os crimes restaram provados por meio de cópias de recibos de depósitos e de conversas em áudio e texto (do aplicativo WhatsApp) exibidos espontaneamente por terceiros prejudicados à Diretoria do SPFC, e, posteriormente, entregues ao DEIC. Nas conversas, o funcionário demitido admite ter enganado o clube, falsificado documentos e assinaturas e se beneficiado financeiramente dos atos delituosos que praticou.

Os ingressos prometidos pelo Sr. Cimerman seriam desviados de lotes de ingressos de cortesia habitualmente entregues ao SPFC pela produção de shows; já os espaços de camarotes oferecidos pelo ex-gerente, localizados no Estádio do Morumbi, são de propriedade do clube. Registre-se que os ingressos de cortesia, ainda não emitidos, serão entregues ao SPFC somente em meados de setembro.

Para atingir o seu objetivo, o Sr. Cimerman, a quem competia funcionalmente a comercialização de espaços durante eventos, planejava forçar o clube a firmar um contrato de cessão de nove camarotes, no valor de R$ 189.000,00 (cento e oitenta e nove mil reais), contrato esse entre o São Paulo Futebol Clube e uma empresa intermediária.

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Os mesmos camarotes seriam mais tarde sublocados (com direito aos ingressos) a terceiros a valores exorbitantes. Depósitos antecipados chegaram a ser feitos em uma conta pertencente a uma integrante da família do Sr. Cimerman.

Como bem sabe V.S.ª, a diretoria comunicou a Presidência tão logo surgiram os primeiros indícios, e dela recebeu a orientação de apura-los até o fim, sem qualquer constrangimento nem limites pessoais. Dos demais diretores recebeu a discrição e o apoio técnico necessários para a apuração do caso - apuração esta que, agora, está a cargo do DEIC.

Embora reconheçam a gravidade do episódio, colaboradores, parceiros e patrocinadores do SPFC demonstraram satisfação com a pronta reação da direção do SPFC.

Marketing não se faz apenas por meio da promoção de bons ativos - dos quais, diga-se, o SPFC está repleto - mas, também, do combate intransigente a desvios éticos.

Cordialmente,

Marcio Aith"

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