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‘Existe o sonho do título’, diz Guto Ferreira, vice-líder da Série B com o Sport

Próximo do acesso ao Brasileirão, treinador destaca crescimento da equipe e mescla entre atletas jovens e experientes

Por Luiz Carlos Pavão
Atualização:

Treinador do Sport desde fevereiro, o experiente técnico Guto Ferreira completa 27 anos de carreira neste ano. O piracicabano de 54 anos, que iniciou nas categorias de base do time de sua cidade, o XV de Piracicaba, coleciona trabalhos reconhecidos principalmente em divisões de acesso. A sete rodadas do fim da Série B do Campeonato Brasileiro, o Sport soma 56 pontos, é o vice-líder e está próximo de mais um acesso. O líder é o Bragantino, com 62 pontos. Em entrevista ao Estado, Guto afirma que o título ainda é um “sonho”, disse ser fã do trabalho do argentino Jorge Sampaoli e fez uma reflexão sobre o tratamento que os treinadores estrangeiros recebem ao trabalhar no Brasil.

O Sport tem feito uma campanha muito boa na Série B, está próximo do acesso e entrou na briga pelo título. Qual é o pensamento do grupo? O primeiro grande objetivo é o acesso à Série A. À medida que isso for alcançado, se ainda houver tempo, fatalmente vamos correr por algo a mais. Se houver alguma chance, lógico, existe o sonho do título. A gente não deixa de sonhar com o resultado maior. O título vai ser consequência dos nossos acertos, mas necessita dos erros do Bragantino também.

Guto Ferreira, técnico do Sport Foto: Anderson Stevens/Sport

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Analisando a competição que o Sport fez até aqui, quais os principais méritos do time? O grupo foi ultrapassando etapas, fomos delegando responsabilidades e os jogadores foram amadurecendo. Passamos experiências que mostraram o caminho que deveria ser seguido. Todo mundo está focado no projeto, pois quem não estava já saiu. Os jogadores se cobram, sabem o que querem, estão percebendo o crescimento. 

Qual é a importância do pensamento coletivo em um campeonato tão longo como o Brasileiro? Os jogadores sabem que dependem do coletivo. Hernane e Guilherme, por exemplo, após o jogo contra o Paraná, deram entrevista coletiva juntos. Eles não têm guerrinha, briguinha de quem vai fazer mais. Um passa a bola para o outro. Até mesmo nos pênaltis. O importante é o melhor do Sport.

O que o torcedor do Sport pode esperar até o fim do campeonato? Vamos trabalhar muito para conseguir os resultados que estamos buscando. O grupo não está medindo esforços. Sempre estaremos brigando no limite. O espírito de buscar a vitória desde a primeira rodada nunca nos faltou.

A compra do Bragantino pela Red Bull tornou a competição injusta? O que é justo e o que é injusto? Se formos falar de valores, então a Série A em relação à Série B é totalmente injusta. Cada um tem seu tamanho e você tem de se adequar. Lógico que uma visão de um campeonato mais equilibrado é uma visão de investimentos mais equilibrados. Logicamente nunca vamos ter um equilíbrio total, pois os grande clubes têm apelo e condições de obter mais dinheiro do que outros. Uma empresa como a Red Bull tem o caminho dela, cabe ao clube dentro do campo fazer o seu melhor trabalho e conseguir fazer a diferença. 

Como avalia a importância da mescla de juventude e experiência na sua equipe?  É super importante. Contamos com o Hernane que já subiu com o Bahia, o Guilherme, com o Botafogo e o Norberto, com o América. Cada um sabe o que precisa e passa a sua bagagem e experiência para os outros.

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Os mais jovens têm a humildade de ouvir e os mais velhos. Se pegar os mais velhos, eles correm para caramba também

Guto Ferreira, técnico do Sport

Com a boa campanha na Série B é natural que outros clubes se interessem pelo seu trabalho e mesmo o Sport em renovar o seu contrato. Vocês têm conversado sobre isso? Qual é o planejamento para 2020? Temos de primeiro conquistar os objetivos traçados e depois vamos sentar para definir. O importante é ter projeto de qualidade, estou super feliz aqui. A direção tem dado total condição, a maneira que se trabalha é bastante importante para que os projetos aconteçam. Hoje se colhe tudo aquilo se plantou. Para projetos futuros, o caminho é esse também.

Neste ano Jorge Sampaoli e Jorge Jesus têm obtido bastante protagonismo no futebol brasileiro. O que você pensa desse intercâmbio de trabalho com treinadores estrangeiros?  Muitas vezes a mídia precisa olhar um pouquinho mais para o treinador brasileiro, que tem o seu mercado de trabalho cada vez mais arrochado. Quantos estrangeiros vieram ao Brasil e quantos tiveram sucesso? O Jorge Jesus está tendo agora, mas e os outros? O acréscimo deles não foi tão superior. Sem tirar o mérito do Jesus, mas o grande plus dele foi pegar o time do Flamengo do jeito que era e transformar no que é. Tiveram outros treinadores que passaram por aqui que foram tremendos fracassos e que hoje estão em seleção, inclusive. Não é o fato de ser estrangeiro que é bom. Em todo o mundo há os bons, médios e os ruins. Sou fã do trabalho do Sampaoli também. Ele está fazendo um bom trabalho, mas não espetacular.

Você acha que os modelos de treinamento são muito diferentes? Tudo que ele (Sampaoli) passa nós também passamos. Não é simplesmente chegar, dar treino e ir embora. Tem muita coisa que envolve a gestão da equipe, do clube. O treinador precisa fechar todos esses pontos e muitas vezes não são fechados por falta de respaldo de cima.

Você tem estudado com técnicos estrangeiros? Estudo um pouquinho de tudo, nacionais e estrangeiros. Recentemente estive assistindo in loco o trabalho do Simeone, no Atlético de Madrid, do Lopetegui, no Porto, do Julian Nagelsmann, que está no Leipzig e é o treinador mais jovem da Alemanha, com resultados expressivos. Acompanho também o Maurizio Sarri, Guardiola, Mourinho, Marcelo Bielsa e Mauricio Pochettino. Quando assumi a Chapecoense, tirei meu auxiliar para fazer uma semana de estágio com Marcelo Gallardo, do River Plate. Depois até joguei contra ele pela Copa Sul-Americana. Estamos acompanhando o tempo todo, a gente entra no YouTube, vê o treinamento dos caras e as análises que os europeus fazem sobre modelo de jogo. Moldamos isso tudo e integramos no nosso trabalho.

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Você já teve por duas vezes problemas com arritmia cardíaca, em 2014 e 2018. Como está a sua saúde? Estou totalmente 100%, sem problemas. Aliás, as duas vezes que tive problema eu estava em um pico de stress muito grande. Em 2014 foi uma situação e, em 2018, pelo falecimento da minha mãe, mas não tenho nada. Fiz todos os exames ano passado em Salvador, estou bem, o motivo nestes casos foi unicamente o stress.

Com a experiência de treinador desde 1993, quando começou na base do XV de Piracicaba, acha que o futebol mudou muito de lá para cá?  O futebol evolui o tempo todo, o futebol jogado na década de 90 não é o jogado hoje. Evoluiu muito na parte técnico-tática, mas principalmente na parte física. Essa parte física direciona a evolução técnica e, principalmente, a tática. Hoje, os grandes craques têm de tomar decisão de uma maneira muito mais rápida do que antigamente. Sem contar que os jogadores jogam sob uma pressão muito maior do que anteriormente.

Por que você acha que hoje há mais pressão? Anteriormente, quando não se passava (de fase) ou não se chegava ao título, cada um sabia o limites da sua equipe. Existiam críticas, claro, mas não eram tão desenfreadas como atualmente. Hoje todo mundo quer ser campeão. Temos de crescer na parte mental, na tomada de decisão.

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