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Família de Sinval vai à Justiça para acionar torcidas

Um mês após briga, autor do disparo não foi identificado pela polícia

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Por Gonçalo Junior
Atualização:

A família de José Sinval Batista Carvalho, morto no confronto entre torcedores no clássico entre Corinthians e Palmeiras, vai abrir uma ação judicial contra as organizadas envolvidas no conflito. A família pretende aguardar o andamento das investigações – 19 torcedores continuam presos –, mas vai lutar na Justiça por uma indenização para a filha de Sinval, Débora Carvalho. Nesta terça-feira, a briga das torcidas que se espalhou por quatro pontos diferentes da cidade, antes e depois do jogo, completa exatamente um mês.  Sinval foi a única vítima. Ele foi atingido por um tiro no peito na praça Padre Monteiro Aleixo Mafra, em São Miguel Paulista. As investigações apontaram que ele estava passando pelo local, conhecido como praça do Forró, e não era torcedor. "Pensamos em processar o governo, mas é muito difícil responsabilizar o Estado. Os responsáveis mesmo foram os torcedores que brigaram. São eles que têm de pagar pelo que fizeram", explica Luzia Fátima da Silva, ex-mulher de Sinval. 

A filha Débora Carvalho e a ex-mulher Luzia Fátima da Silva vão à luta por indenização Foto: Rafael Arbex|Estadão

Representantes das torcidas organizadas não quiseram comentar o caso e preferem aguardar o andamento das investigações. "Se há um equipamento público, como esses em parques em que pessoas fazem ginástica, e ele desaba e mata uma pessoa, o Estado deve indenizar. Agora, quando uma terceira pessoa, um assaltante ou um torcedor delinquente, dispara uma arma de fogo em uma briga e acerta uma pessoa, é ele, quem atirou, o responsável, não o Estado", opina o advogado Roberto Delmanto Jr.  Luzia e Sinval viveram juntos por 13 anos e tiveram Débora, hoje com 16 anos. A mãe conta que a adolescente tem muitas dificuldades para voltar a retomar as atividades diárias. Além do contato frequente – as visitas eram feitas uma vez a cada 15 dias –, Sinval ajudava financeiramente a família. Luzia é empregada doméstica e trabalha como diarista; Sinval era entregador de água. Outros familiares de Sinval também apoiam a responsabilização das torcidas. "Mesmo depois desse tempo, a gente continua indignado e inconformado. Ainda tenho esperança de que vão achar quem fez isso. É preciso fazer justiça", afirma Selma, irmã de Sinval. A ação judicial ainda está em estudo. A família prefere aguardar o avanço das investigações, pois tem esperança de que a polícia consiga identificar de onde partiu o tiro. Exames de resíduo de pólvora feitos em torcedores presos logo após o conflito deram resultado negativo. A polícia investiga a origem do disparo – o projétil e a arma não foram localizados. "Ainda estamos na fase de análise para ver como podemos abrir a ação de ressarcimento, pois se trata de um caso bastante delicado", afirma a advogada Vania Lima. A especialista não descarta processar as torcidas mesmo que haja a identificação de um autor específico. "Se houver uma filiação à torcida, é possível. Se não houvesse a briga, ele ainda poderia estar vivo", explica.  A morte de Sinval causou comoção na zona leste e se tornou um caso importante para a polícia. Depois da tragédia do dia 3 de abril, ele demorou a ser reconhecido por estar sem documentos. A polícia divulgou um retrato falado para facilitar a identificação e só conseguiu encontrar os familiares na quinta-feira, quatro dias depois.  Além do confronto em São Miguel Paulista, em frente à Estação São Miguel Paulista da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), a estação Brás, da Linha Vermelha do metrô foi palco de tumultos. Outras duas brigas aconteceram em Guarulhos e próximo do Pacaembu, local do jogo.  

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