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(Viramundo) Esportes daqui e dali

Fanáticos e covardes

Há quem recorra a ameaças de morte ou linchamento moral para 'vingar honra' de clubes

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Por Redação
Atualização:

É chover no molhado falar que se convive, hoje, com a banalização do mal. O culto ao ódio está presente, ativo e atento, pronto a entrar em ação à menor oportunidade. O tripé política, religião e futebol mantém a dianteira nas explosões de ira, aqui e no mundo todo. Por estas bandas, nos últimos dias dois episódios ligados ao tema ganharam destaque, na enésima prova de descontrole, desrespeito, depressão espalhados por aí. Sentimentos que ganham ressonância com o uso de redes sociais, este anjo vingador dos tempos modernos, capaz de selar destinos com veredictos sumários, implacáveis e irrecorríveis. O primeiro caso. Palmeiras frustrou expectativas do público. Fato. O clube investiu muito, em contratações, com a perspectiva de ser o papa-títulos de 2017. As ilusões caíram uma a uma, à medida que a temporada avança. No máximo, como prêmio de consolação, pode beliscar vaga para a próxima edição da Taça Libertadores. Isso se conseguir reaprumar-se em tempo. O caos dentro de campo é constrangedor. Pois bem, ao lado das reações normais, que vão do esvaziamento das arquibancadas às vaias e protestos, aparece algo terrível: ameaça de morte. O alvo é o diretor Alexandre Mattos, executivo responsável pela montagem e administração do elenco. O “mago” do mercado, o artífice do grupo campeão brasileiro, transformou-se em vilão, a ponto de desequilibrados e covardes prometerem atentar contra a vida dele. Como se esse tipo de conduta fosse limpar a honra palestrina. Muito provável que não passe de bravata, terror barato e rasteiro. Mesmo assim, a ser investigada. Nunca se sabe com que tipo de deformidade moral se lida – e futebol exacerba instintos sórdidos, é combustível para mentes descompensadas. Mattos tem parcela de culpa no fiasco verde – e como executivo deve ser cobrado por seu empregador. Ponto, sem nenhum porém, contudo, entretanto. Assim como Cuca tem responsabilidade na ineficiência atual. O treinador veio a público, ontem, para avisar que assume toda a carga pelo momento ruim. Eximiu cartolas e atletas do acúmulo de resultados decepcionantes. Gesto bacana e inócuo. O técnico falha, como gestor e estrategista; normal que seja criticado. Mas, num trabalho conjunto, não faz o menor sentido a figura do bode expiatório. Nesse bolo, entram também os boleiros, os auxiliares, Mattos e a cúpula. Obrigação de todos fazerem mea culpa, dentro dos próprios limites de ação, e tomarem medidas coletivas para sair da maré baixa. O incidente dois veio no final de semana. Após a queda da invencibilidade do Corinthians, houve entrevista de Vagner Mancini, empolgado com o feito do Vitória (1 a 0). Um jovem repórter de rádio – 20 anos de idade e pouco mais de um de estrada – não formulou a pergunta de maneira adequada; embaralhou-se em estatísticas e deu a impressão de que desmerecia o placar.  Mancini aborreceu-se, com razão, numa hora de alegria. Mas se perdeu, a partir do instante em que questionou se o moço era corintiano. Tropeçou na ilação entre uma pergunta mal construída e a lisura do jornalista.  Muito bem. Minutos depois da desavença, alguém buscou, no Twitter, histórico de comentários do radialista. Foram encontrados posts de sete anos atrás! Neles, havia comentários e gozações que induziam a concluir que, de fato, tinha paixão alvinegra. A colagem se alastrou pela rede e não faltaram xingamentos e ameaças. Maldade extrema: não se deram conta de que, em 2010, era adolescente de 13 anos que, como tantos nessa fase, não têm freios na língua. E não havia relação com a profissão que hoje exerce. Trazidos para a atualidade, viraram prova de “má-fé” do moço. Tem gente doente e com sede de sangue.  Mancini ontem se desculpou. Ok, tomemos como sinal de boa vontade. Mas o estrago demora a ser reparado.

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