Fernando Diniz aproxima vida e futebol no Osasco Audax

Técnico tem relação estreita com atletas da sensação do Paulistão

PUBLICIDADE

Foto do author Gonçalo Junior
Por Gonçalo Junior
Atualização:

Uma das maneiras de entender a boa campanha do Osasco Audax, classificado às quartas de final do Campeonato Paulista, é analisar os livros de cabeceira do técnico Fernando Diniz. Não são todos de futebol ou de esportes. A base de sua filosofia de jogo – posse de bola, uso do goleiro como um homem a mais na linha e troca constante de posições entre os jogadores – começa nos seus títulos de Psicologia, curso no qual se formou em 2012. 

Na sua visão, o primeiro passo para um bom jogo coletivo é um relacionamento estreito entre técnico e jogadores. Aí, a importância da Psicologia. “Procuro ter esse lado humano e promover um ambiente favorável como a base do meu trabalho. Se eu conheço bem o jogador, tenho condições de cobrar ou compreender uma fase ruim. A vida não é divorciada do futebol”.  O treinador de 42 anos também apela para o aspecto lúdico do futebol. “É importante resgatar o prazer de jogar, buscar a criança que existe em cada jogador. A dimensão humana tem primazia sobre a parte tática”. 

Técnico Fernando Diniz comanda o Osasco Audax, sensação do Paulistão Foto: Renato Silvestre/Zopress

PUBLICIDADE

Esse forte trabalho psicológico se traduz em reuniões quase diárias, individuais ou coletivas. Com o grupo na mão, Diniz coloca suas ideias táticas em campo. Tudo começa na seleção do elenco. O atleta tem de atuar em mais de uma posição – de preferência, ser bom de bola – obviamente – e inteligente para fazer o trabalho tático. “Gosto de criar situações de ocupação do espaço que estejam fora dos esquemas como 4-4-2, 4-5-1. Prefiro um jogo mais fluido”. 

O goleiro tem um capítulo especial na cartilha do treinador. Ele participa ativamente do jogo e começa a organizar a saída da defesa. Tem de saber jogar com os pés com habilidade suficiente para tocar e eventualmente driblar, sem dar chutão. 

A campanha neste Paulistão mostra a evolução das ideias do treinador. Depois de alguns títulos menores, como a taça da Série A-3 e o bi da Copa Paulista em 2009 e 2010, ele ganhou destaque em 2013 com esse mesmo Osasco Audax. Foi aí que apresentou com consistência seu “tiki-taka à paulista”. Saiu e voltou no fim do ano passado e agora seus conceitos começam a vencer. Seu time tem dois pontos de vantagem sobre o São Paulo na liderança do Grupo C, mas tem uma missão difícil diante do Santos na Vila Belmiro. O time é corajoso, corre riscos, mas não abre mão da bola de pé em pé. O auxiliar Eduardo Barros resume em duas palavras fáceis de entender: “jogo bonito”.

Se a Ferroviária de Sérgio Vieira – já demitido – foi a sensação do início do torneio; o Osasco Audax se destaca pela mesma eficiência tática, com o diferencial da regularidade. 

Osasco Audax vence São Bento pelo Paulistão Foto: Renato Silvestre/Zopress

Em tempo: Tiki-taka é um sistema marcado por passes curtos e movimentação, mantendo a posse de bola. É associado ao Barcelona desde a época de Cruyff. Diniz nega a inspiração. “O toque de bola é a melhor maneira de se jogar futebol. Minha maior inspiração foram os grandes jogadores, as grandes equipes em que joguei”, diz o ex-atacante com passagens por Palmeiras, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense e Santos, entre outros. 

Publicidade

Entre os craques que se tornaram suas referências estão Zico, Maradona, Romário, Zidane e Ronaldo. Seus esquadrões inesquecíveis são o Flamengo do início dos anos 80 e o São Paulo de Telê. “Acho que fui jogador de futebol para me preparar para ser treinador”, acredita. 

Diniz tem suas falhas, obviamente. Seu trabalho inovador não deu certo no Paraná. Foram 17 partidas, com sete vitórias, três empates e sete derrotas. O retrospecto foi razoável, mas ele teve problemas de relacionamento com alguns jogadores. Só ficou quatro meses. 

Um dos problemas foi o temperamento forte. Reza a lenda que ele comanda muitos treinos fechados – nesta semana, foram três em cinco –, entre outras razões, para evitar o constrangimento público dos atletas por causa de suas broncas. “Sei que isso (temperamento) não é perfeito, mas acho que traz mais coisas positivas do que negativas”