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Fifa dá um duro golpe nos investidores de jogadores

Entidade vai proibir que empresários sejam donos de direitos econômicos de jogadores; Brasil será bastante afetado

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Foto do author Raphael Ramos
Por Raphael Ramos
Atualização:

O presidente da Fifa, Joseph Blatter, anunciou nesta sexta-feira, em Zurique, na Suíça, a proibição da participação de investidores nos direitos econômicos de jogadores de futebol. A medida deve provocar uma forte mudança no mercado de transferências. A Fifa estima que os empresários movimentem US$ 360 milhões (R$ 874,9 milhões) por ano, o que representa quase 10% do montante relativo a transferências de atletas no mundo.

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"Tomamos uma decisão firme de que a participação de terceiros deve ser banida, mas não pode ser banida imediatamente, haverá um período de transição", disse Blatter. Segundo o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, o prazo para a medida ser implantada deve ficar entre três e quatro anos.

Para estabelecer as novas regras de participação de empresas e empresários nos direitos econômicos de atletas, foi montado um grupo de trabalho liderado por Geoff Thompson, presidente da Câmara de Resolução de Disputas da Fifa e membro do Comitê de Status de Jogadores. Caberá a ele elaborar o texto, que deverá ser votado na próxima reunião do Comitê Executivo da Fifa, em dezembro, antes de entrar em vigor.

O Brasil será um dos países mais afetados pela medida. Estudo feito pela KPMG, empresa de consultoria e auditoria, apontou que a prática de fatiar os direitos econômicos dos atletas começou na América do Sul e abrange não apenas jogadores profissionais, mas também jovens das categorias de base. De acordo com a KPMG, "quase 90% dos jogadores inscritos para competir na primeira divisão brasileira têm seus direitos econômicos compartilhados entre as diferentes partes interessadas (empresas, investidores privados, familiares, fundos de investimento, etc)". A porcentagem de direitos econômicos que está nas mãos de empresários varia entre 10% e 50%, dependendo do modelo de parceria adotado.

Fifa bane participação de investidores em negociações de atletas Foto: Sebastien Bozon/AFP

"Atualmente não há nenhum controle sobre as transações de direitos econômicos no Brasil. É um mercado livre, e livre até demais. Futuramente, quando o banimento entrar em total vigência, serão proibidas quaisquer transações e fatalmente serão puníveis os clubes que desrespeitarem essa obrigação", afirma o advogado Eduardo Carlezzo, especialista em direito esportivo internacional.

Para Carlezzo, a mudança provavelmente terá impacto relevante nas contratações dos clubes brasileiros nos próximos anos. "Os clubes brasileiros estão fortemente endividados, embora tenham receitas altas, e alguns clubes da Série A, por exemplo, não têm condições de contratar jogadores sem o auxílio de investidores. Além disso, alguns investidores podem querer ao longo dos próximos anos acelerar a transferência de atletas para garantir sua remuneração."

Clubes. Os principais clubes de São Paulo encaram a determinação da Fifa de maneiras bem diferentes. No Palmeiras, por exemplo, o presidente Paulo Nobre, que chegou a investir mais de R$ 100 milhões do próprio bolso para ajudar o clube, considera a medida negativa. 

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"Os investidores são um mal necessário. O ideal seria que os times estivessem saneados financeiramente e pudessem contratar atletas ou, por opção própria, dividir seus riscos com os investidores. No cenário atual, ficará muito difícil contratar sem apoio externo."

Para o gerente de futebol do Corinthians, Edu Gaspar, a decisão da Fifa será ruim apenas em um primeiro momento. "Os clubes e o mercado vão ter de se adaptar. Mas a longo prazo será positivo para os clubes." O dirigente comentou que em certas transferências de jogadores os times têm direito a apenas cerca de 20% dos direitos econômicos dos atletas, parcela considerada insignificante para os cofres do clube.

Já o gerente de futebol do São Paulo, Gustavo Vieira de Oliveira, prevê que, sem investidores, o valor das negociações vai mudar. "Não vejo grandes complicadores. Os investidores injetam os recursos, mas inflacionam os valores. Acredito que no mercado nacional os valores serão reduzidos. O desafio vai ser com jogadores que têm mercado internacional."

A diretoria do Santos também foi procurada pelo Estado para comentar a nova determinação da Fifa, mas não respondeu até o fechamento desta edição./ COLABORARAM CIRO CAMPOS, PAULO FAVERO, SANCHES FILHO e VÍTOR MARQUES

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