Fifa é alvo de processo milionário por ingressos na Copa

Empresa acusa entidade por perdas de US$ 40 milhões no Mundial

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Por Jamil Chade - Correspondente em Genebra
Atualização:

O comércio milionário dos ingressos da Copa do Mundo no Brasil em 2014 abre uma guerra sem precedentes entre a Fifa, intermediários e empresas. Nesta sexta-feira, a companhia JB Sports anunciou que vai abrir um processo nos tribunais contra a Fifa por perdas de R$ 132 milhões (US$ 40 milhões) no Mundial e sugeriu que entradas "sumiram", alimentando o mercado negro. A Fifa rebateu, prometendo um "processo criminal" contra a JB Sports e acusando a empresa de tentar subornar dirigentes.

Segundo o representante da JB Sports, Heinz Schild, cerca de 3,5 mil de entradas para aquele Mundial que eles receberam da Fifa para revender a parceiros não eram os ingressos combinados num contrato fechado entre a JB Sport, com o empresário Jaime Byrom e a Fifa. "Os ingressos que recebemos não eram as entradas combinadas e, para algumas das partidas, eles desapareceram", disse Benny Alon, um dos conselheiros da JB Sport.

Ingressos da Copa do Mundo de 2014 já renderam inúmeras polêmicas Foto: Divulgação

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Pelo acordo original, os ingressos seriam em alas nobres dos estádios brasileiros e para jogos da semifinal e da final, além das partidas da seleção brasileira. Mas acabaram recebendo apenas entradas atrás do gol, o que deixou irritadas as empresas que haviam comprado os ingressos para distribuir a seus clientes.

A suspeita da empresa é de que os ingressos originais alimentaram o mercado negro. "Eram os melhores ingressos", disse Alon. Questionado sobre o destino das entradas, o executivo insinuou um uso irregular dos produtos. "De repente, devemos perguntar para Ray Whelan", disse, numa referência ao executivo da Match que foi preso no Rio de Janeiro, suspeito de fazer parte de um esquema de vendas ilegais de entradas.

Segundo a JB Sports, um acordo tentou ser fechado com a Fifa para encerrar o caso e que pagamentos fossem feitos para compensar pelas perdas. Depois de uma série de encontros, nenhum acordo foi fechado. "Eles não estão interessados em um entendimento. Mas em adiar um acordo", disse. 

"Consideramos que perdemos US$ 40 milhões com o caso. Perdemos 20 dos nossos 21 clientes", disse Schild. Segundo ele, o caso será levado a uma corte de arbitragem de Zurique. Processos em tribunais em Nova York e Londres também poderão ser abertos. 

Segundo Schild, ex-dirigentes da Fifa vão ser convocados para serem ouvidos, entre eles Jerome Valcke, ex-secretário-geral e que foi afastado por envolvimento em vendas ilegais de ingressos. 

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Para chegar ao valor de US$ 40 milhões, a empresa calculou as perdas no Brasil, mas também sua incapacidade de comercializar ingressos nos Jogos Olímpicos e na Rússia em 2018. "Perdemos nossos clientes", disse Schild.

RESPOSTA DA FIFA  A entidade máxima do futebol não demorou para responder, e com ameaças. Segundo a Fifa, a acusação "não tem base". "A FIFA vai contestar vigorosamente", indicou a entidade em um comunicado. "Além disso, a FIFA vai considerar todas as opções contra a JB Sport, inclusive um processo criminal", alertou.

De acordo com a entidade, o entendimento com Alon acabou em 2013 "quando foram descobertas várias irregularidades com os contratos de marketing com a FIFA".

A organização também acusa Alon de ter revelado como tentou subornar Valcke para vender ingressos de forma ilegal. Valcke foi demitido depois da revelação. "A FIFA condena todos os que abusam de sua posição por ganhos pessoais", concluiu a entidade.

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