Fifa 'premia o silêncio', denuncia testemunha da corrupção no Catar

Phaedra Almajid acusa entidade de tê-lo exposto, enquanto quem optou por não alertar sobre esquemas de corrupção foi protegido

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Por Jamil Chade
Atualização:

Uma das pessoas que foi testemunha nas investigações sobre a corrupção na Copa do Catar de 2022 vem à público para denunciar o processo e acusar a Fifa de "premiar o silêncio". Em uma carta obtida pelo Estado e enviada pelo ex-dirigente Phaedra Almajid, a testemunha acusa a Fifa de tê-lo exposto por ter feito denúncias, colocando a vida em risco, enquanto aqueles que optaram por não alertar sobre esquemas de corrupção foram protegidos. Almajid foi um dos primeiros a denunciar, de forma sigilosa, os esquemas de corrupção. Até 2010, ele trabalhou na campanha do Catar para receber o Mundial. Mas abandonou o processo e, em 2011, resolveu denunciá-lo. Na semana passada, a Fifa publicou sua decisão sobre as investigações relativas à Copa de 2022. Apesar de contar com dezenas de indícios de corrupção na compra de votos dos cartolas, a entidade optou por contar o Catar como sede do Mundial e dizer que não existia motivos para reabrir o caso. A decisão foi anunciada pelo juiz supostamente independente da Fifa, Hans Eckert. Mas suas conclusões foram imediatamente alvos de um recurso por parte de Michael Garcia, o investigador que passou 18 meses debruçado sobre as evidências. A promessa a todas as testemunhas era de que seriam mantidas em sigilo para garantir a proteção daqueles que estivessem prontos para denunciar os esquemas. Mas, no informe publicado, a Fifa dá claras indicações de que uma das fontes é Almajid, numa manobra para queimá-lo. Agora, uma carta enviada para Garcia por uma das testemunhas do processo denuncia o esquema montado. "Assumi um grande risco pessoal ao lutar pela verdade num ambiente altamente politizado", escreveu Phaedra Almajid. "Fui traído e denegrido por ser corajoso suficiente para entregar informações cruciais. O que ocorreu comigo revela muito da Fifa e de seu modus operandi. A cultura do silêncio é premiada", atacou. "Aqueles que ousam falar e questionar o sistema não apenas são colocados de lado, mas ironicamente impedidos de ter uma proteção ou respeito", completou. Segundo ele, ao identificá-lo no informe e tirar qualquer crédito, a Fifa "manda um recado a qualquer um que quiser falar que seu futuro estará ameaçado, para sempre". Phaedra Almajid agora lançou um processo contra Eckert por ter, em seu resumo sobre o caso, identificado a testemunha como uma das fontes do caso. Para ele, isso foi uma "violação do princípio da confidencialidade" e que ele apenas aceitou fazer as denúncias depois que foi garantido que seu nome seria mantido em sigilo.

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