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Futebol avassalador

City soma 46 pontos em 16 jogos, campanha superior à do Corinthians no Brasil

Por Mauro Cezar Pereira
Atualização:

Após 16 rodadas, o Corinthians tinha 40 pontos ganhos no Campeonato Brasileiro de 2017, campanha construída com 12 vitórias e quatro empates. A trajetória sensacional do time que seria campeão brasileiro a três rodadas da metade do certame é pouco perto do que o Manchester City de Pep Guardiola alcança depois do mesmo número de partidas pelo Campeonato Inglês 2017/2018. São 46 pontos em 48 disputados!

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Se nesta quantidade de pelejas os corintianos tinham 26 gols marcados e sete sofridos, o time que segue na ponta da tabela na Premier League levou mais gols (11), mas assinalou praticamente o dobro do campeão brasileiro nesta altura de seu certame: 48. Um saldo de 37 tentos para o time azul da cidade de Manchester. Marca impressionante.

A avassaladora campanha da equipe de Guardiola, que jamais abre mão do direito de ter a bola sob seu controle, contraria a tese tão discutida na última temporada do futebol brasileiro, aquela dos times sem a pelota. Sim, equipes que durante o Campeonato saíam vitoriosas jogando sem posse, abrindo mão do instrumento que faz o jogo acontecer para surpreender o adversário em momentos específicos. Uma proposta eficaz em muitas ocasiões. E ao mesmo tempo pragmática e sem grande brilho.

O Manchester City chegou a ter mais de 80% do tempo de posse de bola na primeira metade da etapa inicial na vitória sobre o Manchester United no domingo – 2 a 1 na casa da equipe de José Mourinho. Imposição absurda no controle de jogo somada a um maior número de chances criadas e mais três pontos na conta. No Campeonato nacional mais difícil do mundo, com times ricos que formam autênticas seleções transnacionais, os Citizens ficam com a bola e derrotam a praticamente todos. Implacavelmente.

Em 16 pelejas até aqui, a equipe só não venceu um jogo, na segunda rodada, 1 a 1 com o Everton, em Manchester, jogando por mais da metade do tempo com um homem a menos - Walker foi injustamente expulso. Ainda assim ficou muito mais tempo com a bola nos pés, criou mais chances, acumulou número muito maior de finalizações e não virou o placar por acaso.

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A história que o City vai escrevendo neste temporada reabilita o sucesso dos times que fazem questão de ter a bola, que desejam jogar, que se propõem a jogar. Mais do que uma disputa pelo título e um duelo de escolas, acentuado quando Guardiola e Mourinho voltam a se enfrentar, trata-se de uma recuperação, uma retomada.

A volta das vitórias sendo alcançadas por um estilo de jogo, por uma maneira de atuar desprezada por inúmeros times e técnicos. Que a deixam de lado porque é muito mais difícil jogar assim.

No Brasil as equipes há tempos priorizam o jogo sem requinte, apoiado nos erros do adversário, elas são muitas vezes treinadas, preparadas para ficar sem a pelota e forçar o erro do rival. Então poucos instantes tendo a redonda podem ser suficientes para chegar ao gol. Sim, eficiente em muitos casos, mas pobre especialmente quando se trata de um elenco mais técnicos do que os demais. Não era o caso do Corinthians de 2017, vale destacar.

Mas é preciso mais, mostrar mais, jogar mais. O problema fica maior quando nos acostumamos a uma situação cômoda para quem, independentemente da qualidade do elenco, faz o caminho mais curto. Aquele que busca vencer os jogos sem preocupação alguma com a qualidade do que apresentam, com a qualidade do futebol mostrado. Algo muito diferente do que Pep Guardiola prega e vem conseguindo levar adiante com beleza e eficiência. Isso é, de certa forma, uma vitória do futebol real. Um futebol avassalador.

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