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Gol de letra

Reportagem do "The Telegraph" desmascara fraude e provoca demissão de técnico da seleção inglesa

Por Antero Greco
Atualização:

A imprensa britânica fez gol de placa nesta semana. Repórteres do jornal "The Telegraph", com sede central em Londres, desmascararam esquema fraudulento com a participação de Sam Allardyce, técnico da seleção da Inglaterra, e provocaram a demissão dele. O mister, havia pouco mais de dois meses no cargo, admitiu que poderia driblar proibição da Fifa e da federação de futebol do país e atuar na negociação de passes de jogadores. A cobiça e a sensação de impunidade fizeram Allardyce cair feito patinho na armadilha que lhe foi preparada. Jornalistas se passaram por agentes de clubes orientais, dispostos a investir os tubos em atletas. Para tanto, precisavam do aval do treinador do English Team. Afinal, recomendação de técnico de seleção tem peso incomum na hora de definir contratações, em qualquer parte do mundo. Na conversa, devidamente gravada e filmada, os falsos intermediários advertiram Allardyce de que temiam retaliações diante da determinação de que não pode haver terceiros interessados numa negociação entre clubes e astros da bola. O treinador garantiu-lhes que não haveria problema algum e mostrou que contornaria o empecilho com a desculpa de que viajaria para lugares como Cingapura e Hong-Kong na condição de "embaixador" do futebol.  Pelo serviço de consultoria - o disfarce para encobrir a atuação como intermediário - ganharia em torno de R$ 1,6 milhão. O trato virou reportagem e Allardyce levou um belo pontapé nos fundilhos desferido pela Football Association, a CBF de lá. Com isso, viu rompido acordo que lhe renderia salários de RS 12,3 milhões por ano, durante três temporadas, fora bônus por metas. Ele dirigiu a seleção apenas uma vez, contra a Eslováquia, pelas Eliminatórias para a Copa de 2018 na Rússia.  O jornal conseguiu provar algo de que se suspeita largamente, aqui, ali e acolá: a participação de pessoas influentes nas transações de jogadores. O dinheiro que corre no vaivém de mercado é extraordinário, e salta muitas vezes para cifras exorbitantes, se o rapaz tiver visibilidade. Um dos meios para valorização instantânea é vestir camisa de selecionados. Vitrine tanto mais importante quanto mais estrelada for a seleção. Daí as tentativas de aliciar treinadores de conjuntos nacionais para tal tipo de forcinha extra. Allardyce foi "mané", para ficar na linguagem popular, e se sentiu confortável para tocar uma prática que, na explicação que deu, seria corriqueira num meio em que o tilintar das moedas seduz. Para azar dele, e para alento do futebol, a Federação Inglesa não seguiu roteiro semelhante e não pensou duas vezes para tomar a decisão de mandá-lo cantar em outra freguesia. O episódio merece reflexão, em especial de treinadores. A função é importante e reflete no destino de jovens em busca de sucesso e nos interesses que os cercam. Por isso, é imprescindível que não tenham ligações com empresários e que as convocações sejam transparentes e lógicas. E, de quebra, a turma do "Telegraph" provou como jornalismo de verdade, aquele que vai pra rua, consegue levantar histórias e se mostrar relevante para o esporte e a sociedade.Oito times, uma taça. As quartas de final da Copa do Brasil terão a primeira parte na noite de hoje. O troféu vale por si só, além do prêmio adicional de vaga na Libertadores. Pelas circunstâncias, se torna imprescindível para seis equipes, já que Palmeiras e Atlético-MG mantêm o foco no título do Brasileiro.  A tendência é de equilíbrio, sem favoritos disparados. Corinthians x Cruzeiro reúne rivais em crise na Série A. O Santos pega Inter com um pé na Segunda. O líder Palmeiras topa com o Grêmio. O Galo terá pela frente Juventude franco-atirador. Dois toques. A partir de hoje, esta coluna passa a ser publicada às quartas-feiras e aos domingos. A frequência diminui, mas o prazer de escrever, a independência e a interação com o leitor continuarão intensos. 

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