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Ideias, por favor

O futebol brasileiro carece de novidades dentro de campo. Todo mundo repete fórmulas

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Por Redação
Atualização:

O futebol que se joga nesta terra carece de ousadia, destreza, consistência e ao mesmo tempo leveza. Os times patrícios repetem esquemas à exaustão, e os técnicos se aferram a fórmulas surradas ou se apegam a modismos europeus, em geral sem adequá-los às condições locais e à qualidade dos elencos que têm à disposição. Por isso, se assemelham tanto os jogos entre concorrentes ao título quanto aqueles de equipes ameaçadas pelo descenso. Tudo igual e misturado.

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O amigo pode estranhar o ataque de baixo-astral no parágrafo anterior e achar que o autor está mal-humorado. Não cometerá injustiça grave. Difícil empolgar-se com o que se vê na Série A no momento em que entra na reta final e na qual se insinua, pela enésima vez no ano, a possibilidade de uma reviravolta na parte de cima.

Soa contraditório fechar a cara na hora em que se vislumbra enfim o crescimento de sombras sobre o Corinthians, líder a perder de vista. Era para vibrar com a temperatura a subir, depois de meses de clima morno. No entanto, até a perspectiva de mudança a curto prazo na classificação tem a ver com o tom zangado deste bate-papo.

Por quê? Porque o encurtamento da distância entre o primeiro colocado e perseguidores ocorreu menos pelo crescimento destes e mais pela queda daquele. Grêmio, Santos, Palmeiras, Cruzeiro e até Flamengo mantêm a rotina de oscilação desde o início, enquanto os corintianos desabaram no returno, após turno memorável. Por isso, a vantagem caiu para nove pontos e não parece mais insuperável.

O Corinthians surpreendeu pelo jeito seguro com que se comportou na primeira metade da competição. Fábio Carille recebeu elogios merecidos por dar estabilidade a um grupo mediano de atletas. Pôs em prática uma forma de jogar simples e sem complicações. Mudou pouco a escalação, revelou defesa sólida e ataque econômico e certeiro. Sem inventar, sem sofisticar.

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Pois aí está, agora, a constatação que azeda. Carille fez o óbvio, com classe é verdade, mas o básico. Da mesma forma com que Cuca levou o Palmeiras à taça em 2016. Evidente que há legitimidade na conquista; se não houver maracutaia, não se pode diminuir o feito.

No entanto, não se acrescentou nada à maneira de jogar de nossos times, assim como não foi histórico o Cruzeiro do bicampeonato de 2013/14 ou o Corinthians de Tite em 2015. Recuo no tempo é capaz de parar no Cruzeiro de 2003, e olhe lá. Vanderlei Luxemburgo então ainda mostrava atrevimento que o consagrou no início de carreira.

Os maestros de hoje não se distinguem uns dos outros, exceto pela idade e número de demissões. A roda gira, gira, gira em torno dos mesmos Luxemburgo, Dorival, Oswaldo, Levir, Mancini, Mano, Renato Gaúcho (que às vezes some), Cuca, Abel, Carpegiani, Falcão (que não se afirma). A lista é longa. Daí despontam Eduardo Baptista, Roger, Ceni (cometa, vapt-vupt) sem que se possa apontar um e dizer: “Opa, temos algo novo. Esse é bom!”

Nada contra nenhum deles, absolutamente. Gente digna e que trabalha porque precisa e tem mercado. Mas será o Benedito que nenhum inove pra valer, bote pra quebrar, dê uma chacoalhada no marasmo?! É possível alegar que não têm respaldo de cartolas, torcida e crítica, bem como lhes falta material humano para abandonar o lugar-comum.

Verdade, em parte. Sob a alegação da precariedade, se escondem com frequência a carência de ideias, o olhar arguto para tirar o melhor do pouco de que se dispõe, o espírito inquieto, a ciência. Carille sobressaiu pela estupenda arrancada corintiana; agora enfrenta refluxo. Tite ganhou visibilidade e respeito pelas vitórias importantes com o Corinthians e por colocar a seleção nos eixos. Para ele, a grande prova virá no Mundial da Rússia. A conferir.

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