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Jogadores espanhóis são julgados por agredir atletas sul-americanos

Incidente ocorreu durante partida em janeiro; acusação alega que houve xenofobia.

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Por Anelise Infante
Atualização:

Sete jogadores de futebol espanhóis começaram a ser julgados nesta segunda-feira em Barcelona por supostamente terem agredido atletas de um time rival formado em sua maioria por imigrantes sul-americanos, entre eles um brasileiro. A promotoria alega que as agressões tiveram motivação xenofóbica e pede de dois a seis anos de detenção para cada um dos acusados. O incidente aconteceu no dia 10 de janeiro deste ano em Barcelona durante uma partida entre as equipes Bada Bing e Rosário Central da Catalunya, pela terceira divisão da Liga Regional Catalã de Futebol. De acordo com a súmula do árbitro, a expulsão de um atleta do Bada Bing durante a partida gerou discussões e agressões verbais de cunho xenofóbico contra atletas vindos da América do Sul. Entre os xingamentos registrados pelo árbitro estão provocações como "sul-americano de m..." e "vou te quebrar, colocar os pedaços em um pacote e mandar para a sua m... de país". Em seus depoimentos durante o julgamento desta segunda-feira, as dez pessoas que foram agredidas (seis atletas, dois dirigentes e uma espectadora) afirmaram ainda que, entre outras ameaças, estariam frases como "se (o ditador espanhol Francisco) Franco estivesse vivo, você não estaria aqui". Já os atletas acusados teriam afirmado perante o juiz que "não entendem (o tamanho) da repercussão de um incidente normal no futebol" e chamaram os jogadores do time adversário de "menininhas". Confusão A confusão ocorreu quando faltavam 18 minutos para o fim do jogo e o Rosário ganhava por 3 a 1 do Bada Bing. A expulsão de um jogador do Bada Bing alterou de vez o ambiente, e a briga que começou no campo acabou no túnel de acesso aos vestiários. Jogadores do Rosário Central - clube criado por imigrantes argentinos e que tem 80% do plantel formado por atletas sul-americanos de sete nacionalidades - teriam sido agredidos e ameaçados com tacos de beisebol, cabos de vassoura e cadeiras. "Foi uma confusão anunciada. Este time (Bada Bing) vinha de quatro jogos com suspensões por violência. Eu telefonei insistentemente para a polícia, mas, de uma hora para outra, apareciam amigos, torcedores... todos para participar da agressão; quando a polícia chegou o sangue já estava correndo", disse à BBC Brasil a diretora de futebol do Rosário Central, Laura Rodríguez. Alguns dos jogadores agredidos do Rosário Central ficaram com dentes quebrados e contusões graves. O atacante brasileiro Marcelo Gomes, no entanto, não teria ficado ferido. O caso mais grave foi o de um meio-campista argentino Santiago, que sofreu uma fissura nas costelas e perdeu parte da audição depois de ter 75% de uma de suas orelhas arrancados. Violência Uma espectadora que gravou a agressão com uma câmera de vídeo caseira na arquibancada também foi agredida e, segundo o depoimento dela, um dos jogadores espanhóis roubou o cartão de memória com as imagens da câmera. O árbitro, que suspendeu o jogo e relatou o incidente na súmula, participa do julgamento como testemunha. Ele é peruano e afirmou que também recebeu agressões verbais racistas e xenófobas dos jogadores. A Comissão Antiviolência da Federação Catalã de Futebol decidiu proibir a participação do Bada Bing nesta temporada e estuda excluir o clube permanentemente da liga. Em uma nota divulgada à imprensa, a comissão afirmou que "os atos são extremamente preocupantes", de uma "violência desmedida" e que é preciso pensar em que lições tirar deste incidente. Um dos atletas que estão sendo julgados, Valentim Moreno, já cumpriu pena por um homicídio há nove anos. O irmão dele, que também está no banco dos réus pela agressão no jogo, têm outros antecedentes penais. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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