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Livro revela que PSG prometeu a Neymar contratação do técnico Luis Enrique

Obra 'Paris – Revelações de uma Revolução' conta bastidores do clube francês depois da contratação do atacante

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Por Andrei Netto e Paris
Atualização:

Desde que Neymar pisou em Paris com um contrato assinado com o Paris Saint-Germain (PSG), em 5 de agosto de 2017, dois fenômenos se produziram no clube. O primeiro foi tornar-se um furacão de mídia internacional. O segundo, de acordo com seus dirigentes e torcedores, foi tornar-se alvo preferencial de rumores, especulações, notícias falsas e campanhas de desestabilização, não raro vindas da imprensa espanhola, irada com sua saída do Barcelona.+ Neymar prevê volta aos treinos para daqui um mês+ Neymar crava: 'Nossa seleção é a mais forte da Copa'

Indignados com a cobertura, um grupo de oito jornalistas e profissionais de diferentes áreas, todos com acesso a fontes de informação primárias sobre o clube, decidiu criar um jornal online, o Paris United, para informar a respeito do dia a dia do time. Desde então, conquistaram credibilidade ímpar ao confirmar em primeira mão bastidores sobre as disputas internas no maior clube da França.

Neymar desembarcou em Paris no dia5 de agosto de 2017 Foto: Benoit Tessier/ Reuters

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O rápido prestígio levou os jornalistas a escreverem um primeiro livro, Paris – Revelações de uma Revolução, que se tornou best seller na França nas últimas semanas. A obra revela detalhes do funcionamento – e ‘disfuncionamentos’ – do clube parisiense que tem Neymar como seu maior astro e que sonha com a conquista da Liga dos Campeões. Segundo os autores, o PSG é oficialmente dirigido em Paris, mas suas decisões estratégicas são tomadas no Catar. O livro revela bastidores da transação de € 222 milhões que fez o astro brasileiro deixar o Barcelona. Conforme os jornalistas, o “clã Neymar” tenta intervir com frequência, que seja em favor de jogadores – como Lucas ou Ben Harfa –, seja com os métodos de treinamento e até o nome do futuro treinador – Luis Enrique, ex-Barcelona, que seria o preferido do craque. Ao Estado, Alexandre Couppey, fundador de Paris United e um dos autores do livro, faz um apanhado de revelações e análises sobre o clube. Paris United foi criado há um ano e meio. Seu espírito é partidário, como os jornais esportivos espanhóis, como Marca, As e outros, não? Exatamente. A ideia é um veículo de mídia partidário, com um verdadeiro trabalho jornalístico. Nós queremos o sucesso do clube. Mas para isso queremos restabelecer certas verdades, trazer a público informações e fazer avançar algumas coisas. Há gente demais na França que reclama do tratamento midiático do PSG. Há apenas um jornal de esporte no país, L’Équipe, que detém o monopólio, e a ideia é gerar um contrapoder. É preciso que o ambiente do clube seja menos nacionalizado e mais “parisiense”.

Vocês creem que L’Équipe é um veículo contrário ao PSG?

Não. É apenas um jornal nacional, e a dominação extrema do PSG no cenário nacional pode ser um problema para eles. Daí a vontade de bater no PSG, que é um clube superdimensionado para o mercado da Liga. Historicamente não é um clube forte. É um clube que progrediu com o tempo, mas que ainda era o clube de Paris. Ele precisa ser mais valorizado, ao mesmo tempo com exigência. Ser um veículo partidário não significa dizer sempre coisas boas do PSG, mas sim frisar crítica positiva.

Você menciona o exemplo de Lucas, que decidiu dar uma entrevista para tentar ter mais espaço.

O caso que você mencionou acontece todos os dias. Era um jogador que não estava jogando, que não estava satisfeito e que usou a mídia para tentar obter uma reação dos dirigentes. É um caso clássico. Penso que Lucas foi excluído em função da concorrência. No ano passado ele foi titular, marcou gols, fez sua melhor temporada. Mas o PSG tinha muito menos concorrência. Hoje os jogadores do PSG estão entre os melhores do mundo, com Neymar, Mbappé, Di Maria, Draxler, Pastore, Cavani. Lucas, que é um bom jogador, não é do mesmo nível e por isso teve menos tempo de jogo. Desde o início da temporada, como Ben Harfa, os dirigentes lhe disseram que ele jogaria menos e que seria interessante buscar mais tempo de jogo em outro clube. Foi o que fez ao ir ao Tottenham.

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O livro traz revelações sobre a transferência de Neymar, e diz que a decisão havia sido tomada cerca de um mês antes do anúncio oficial. É isso?

Sim. O que é interessante na transferência de Neymar é a diferença entre junho de 2016 e junho de 2017. Nos dois casos o PSG procura sua família e anuncia que quer sua transferência. Por que sua transferência fracassa no primeiro caso? Por que no segundo dá certo? Não podemos revelar tudo nessa entrevista, mas quando o agente Pini Zahavi entra na dança, a transferência acontece. No final de junho, a contratação já está resolvida e Neymar se torna jogador do PSG.

Dani Alves veio graças a isso?

Sim, ele foi convencido pelo discurso de Neymar.

Foi um sinal de que Neymar chegaria logo mais.

Nesse momento Neymar já sabia que viria.

Você diz que o “clã Neymar” faz reivindicações frequentes e não raro inconvenientes, inclusive na escolha de jogadores, de treinador, etc.

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Sim, é preciso ver como o "clã Neymar” será gerenciado a partir da próxima temporada por Nasser Al-Khelaifi e Antero Henrique, diretor esportivo do clube. Na viagem ao Brasil, em março, os dirigentes lhe fizeram promessas de que Luis Enrique seria o novo treinador do PSG. Neymar e seu ex-treinador estão em contato. Se jamais ele não for o escolhido, o PSG poderá ter problemas. Ao mesmo tempo, não é possível que Neymar seja maior do que a instituição e tenha privilégios demais. É normal que ele tenha alguns, porque é o melhor jogador do PSG, o maior do Brasil, fez uma escolha muito boa. Mas ele fez a escolha da audácia ao vir ao PSG, grandiosa e magnífica, um pouco como Maradona fez ao partir ao Napoli. Ele pode ganhar a Liga dos Campeões em Paris, porque é jovem, tem um talento incrível. Mas Neymar precisa acreditar, estar convicto de sua escolha, assim como seu “clã”. Se jamais ele acreditar, ele alcançará esse objetivo e será o herói eterno de Paris.

O que lhe incomoda no futebol francês? A qualidade da Liga?

Há todo um contexto. O PSG está superdimensionado para a Liga 1, é verdade. Mas o Bayern de Munique conhece o mesmo problema na Alemanha. O Manchester City tem 17 pontos de vantagem na Inglaterra. É algo que acontece cada vez mais nos campeonatos, que estão cada vez mais desequilibrados. Neymar talvez ache que não é protegido na França, que recebe muitas jogadas duras.

A gestão de seu tratamento médico, e em especial o tempo que está permanecendo no Brasil, incomoda o PSG?

O PSG não teve muita escolha a partir do momento nem que o médico da Seleção Brasileira se imiscuiu no assunto. Para o Brasil, é essencial que Neymar participe da Copa do Mundo em excelente forma física. A Copa do Mundo acontece a cada quatro anos, e na última competição ele se machucou contra a Colômbia nas quartas de final. Essa competição Neymar não quer perder de forma alguma, e, a partir do momento em que o PSG foi eliminado pelo Real Madrid, a temporada perdeu parte de seu interesse. Talvez apenas a Copa da França tenha algum interesse. Se Neymar estiver restabelecido, ele poderá jogar a final, se o PSG estiver presente.

Sobre Mbappé, sua transferência também foi cercada de dificuldades. O que se pode dizer desse jogador tão promissor?

Mbappé queria seguir em Mônaco. Ele havia comprado uma casa, e sua vontade era permanecer no clube. Mas, após um jogo contra Fenerbahçe, os dirigentes do Mônaco lhe explicaram que por algumas razões seria necessário que ele partisse. Sua vontade de ficar na França, então, foi maior. Sua decisão se orientou rapidamente para o PSG, porque ele quer marcar a história do clube, do futebol francês, da Liga 1. Se não era mais possível pelo Mônaco, ele então escolheu o PSG, no momento em que seu clube preferia o Real Madrid.

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Você acredita que essas duas estrelas do futebol, Neymar e Mbappé, ao escolherem Paris, preterindo o futebol espanhol, atraíram uma agenda negativa dos veículos de imprensa espanhóis?

A escolha desses dois atletas representou a revolução que dá título a nosso livro. O PSG inverteu a história da Liga 1, atraindo dois astros que no futuro disputarão entre eles a Bola de Ouro. Hoje eles jogam na mesma equipe. Para o PSG isso é único, porque vai resultar em algo maior, a Liga dos Campeões, em algum momento do futuro. Isso provocou a ira dos clubes “históricos”, como o Real Madrid, o Barcelona, a Juventus, o Bayern de Munique, que não suportam uma nova equipe que possa gerar rivalidades em nível europeu, mas também lhes roubar os melhores jogadores do mundo.

Vocês dizem no livro que o clube é dirigido a partir do Catar, e não de Paris. É isso mesmo?

Sim, o funcionamento do PSG é muito particular. É um clube que pertence a um Estado, é o emir que toma as decisões mais importantes. A organização do clube às vezes tem falhas, porque as decisões nem sempre são tomadas em Paris. Mas é preciso entender que o PSG é uma jogada geopolítica, algo muito particular no futebol europeu. Acho que nessa próxima temporada vai acontecer uma reorganização a partir de Doha para que o clube seja mais bem estruturado, colocando fim às carências institucionais.

Vocês consideram uma boa ideia que um grande clube europeu seja gerenciado por um governo, ainda mais um que não tem tradição nem no futebol, nem no esporte?

É complicado. No ano passado o poder esportivo foi delegado a Antero Henrique, que tem uma experiência excelente pelo Porto e que conhece bem o futebol. O problema é que pode haver ingerências, em especial sobre o treinador. 

Você diz que há dissonância no futebol, inclusive na definição do novo treinador, por exemplo.

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Sim, Antero Henrique gostaria de um treinador, Nasser Al-Khelaifi, de outro. Mas isso também acontece em muitos clubes. Há uma luta de influências no interior do PSG. Quanto ao técnico, a informação que temos é de que o ex-jogador do Barcelona Xavi é alguém que conhece bem o futebol e que aconselhou a Doha o nome do treinador alemão Thomas Tüschel. É uma forte pista, porque eles escutam o Xavi – que poderá um dia vir a ser treinador do PSG.

Thomas Tüschel, que só passou por dois clubes alemães de expressão, sem títulos grandes, pode mesmo se tornar o novo treinador do PSG?

Talvez sim. É alguém de imenso talento, visto na Alemanha um pouco como o Guardiola alemão. É alguém que tem um temperamento forte, uma tendência de jogo extremamente ofensiva. Se for ele o escolhido, será interessante ver como vai gerenciar o grupo, Neymar, e evitar que seja parasitado pela ingerência.

Que outras mudanças podemos antecipar de 2018/2019?

Em relação às perspectivas do clube, vai haver uma reorganização a partir de Doha. A partir disso, chegará o novo treinador. Durante a janela de transferências, o PSG vai recrutar um volante, um lateral esquerdo – que poderia ser Alex Sandro, da Juventus. Houve contatos e ele está muito interessado. Já há muitos brasileiros no clube…

Fabinho, do Mônaco?

Sim, com Fabinho já houve contatos. Mais um brasileiro… Entre os 11 titulares do PSG, não estaremos longe de ver uma equipe impressionante em cada posição. Se conservar essa base de jogadores durante três ou quatro temporadas, a montar uma equipe em torno de Neymar e Mbappé, nosso sentimento é de que o PSG estará próximo de conquistar a Liga dos Campeões. É uma equipe plena de talentos, mas será necessário muito trabalho, muito esforço. Vai ser necessário que os jogadores saiam um pouco de sua zona de conforto.

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No futebol sul-americano, temos uma expressão para isso: garra, raça, pegada. Você acredita que é o que falta no PSG?

É exatamente isso, a garra. É o que falta, inclusive de Neymar. Sua escolha pelo PSG foi excepcional, porque é única. Se ele for ao Real Madrid e conquistar a 13.ª Liga dos Campeões do clube, ele será mais um atleta inscrito na história do clube, mas não haverá nenhum heroísmo. Se ele conquistar com o PSG, isso fará dele um herói eterno.

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