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Mansão na Sardenha era suborno do Catar a Jerôme Valcke

Investigadores suíços e italianos fizeram operação em uma propriedade na ilha que teria sido oferecida ao francês em troca de direitos de TV para os Mundiais

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Por Jamil Chade e correspondente na Suíça
Atualização:

GENEBRA - O ex-secretário-geral da Fifa, Jerôme Valcke, é suspeito de ter usado uma mansão na ilha da Sardenha como parte da recompensa por ter dado os direitos de TV a investidores do Catar. A informação foi revelada pelo jornal italiano, Il Messaggero, um dia depois de um anúncio de que Valcke e o empresário do Catar, Nasser Al Khelaifi, estão sendo investigados por corrupção+ Valcke nega irregularidades na Fifa, mas descarta voltar ao futebol

+ Executivo que bancou Neymar no PSG é acusado de pagar propina a Valcke Conforme o Estado revelou, uma mega-operação ocorreu na quinta-feira, com buscas e apreensões em quatro países. Valcke é acusado de ter recebido propinas em troca de direitos de TV para os Mundiais de 2018, 2022, 2026 e 2030. Um dos suspeitos de ter pago subornos foi o representante do Catar, controlador da rede BEIN e do PSG. 

Valcke é investigado por participar de um esquema de venda de ingressos para Copa do Mundo de 2014 Foto: Christian Hartmann/Reuters

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Entre os locais da operação esteve Porto Cervo, uma das praias mais exclusivas da ilha italiana. A mansão de luxo, avaliada em 7 milhões de euros, seria um "meio de corrupção" de Al Khelaifi para Valcke. 

A polícia italiana, ao lado de representantes suíços, esteve no local. A casa, segundo a suspeita, está "à disposição de Valcke". O jornal ainda revela que um Tribunal de Cagliari deu uma ordem de embargo da propriedade.  Valcke, por meio de seus advogados, disse que era ele mesmo quem pagava pelo aluguel da mansão, o que não impediu de ela ser confiscada pela Justiça italiana. 

Enquanto isso, na Fifa, a entidade anunciou que seu Comitê de Ética abriu investigações preliminares sobre Nasser Al Khelaifi, que comanda o PSG. 

Uma eventual suspensão do dirigente poderia significar um impacto forte para o clube de Neymar, que apostou justamente na chegada de investimentos do Catar para concorrer contra os grandes times da Europa. Ao jornal L'Equipe, o ex-secretário-geral da Fifa declarou que "nunca recebeu nenhuma recompensa de ninguém". A BEIN também rejeitou qualquer tipo de irregularidade e diz estar cooperando com as investigações. 

Mas o caso vai muito além da relação entre os dois suspeitos. Procuradores fora da Suíça admitiram ao Estado com exclusividade que a investigação e a operação permitem a abertura de uma brecha inédita para que mergulhem na relação entre o Catar, o futebol europeu e a Fifa. Ontem, a sede da BEIN foi alvo de uma operação policial na França, com o confisco de computadores de sua cúpula. "Vamos começar a puxar o fio da meada", disse um deles, na condição de anonimato.

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Para procuradores, Khelaifi é apenas um dos rostos Tamin bin Hamad Al Thani, o emir que decidiu usar o futebol como instrumento de influência. 

Se os contratos para a Copa estão na mira, o que os investigadores querem é saber o que existe de fato entre o Catar e eventuais compras de votos para obter o evento de 2022 e outras suspeitas de injeção de recursos. Uma das suspeitas já em fase de inquérito é de que a compra do PSG pelo Catar teria feito parte de um acordo entre o emir e o então presidente da França, Nicolas Sarkozy. Em troca do dinheiro ao clube e outros negócios, os votos do francês Michel Platini e de outros europeus iriam ao Catar na eleição na Fifa. 

Agora, a esperança dos investigadores é de que o confisco dos emails, celulares e outros documentos do cartola possa começar a dar uma dimensão da real influência nos bastidores envolvendo o Catar no futebol internacional, um assunto que vem gerando polemica há uma década. O caso ainda ocorre num momento em que dirigentes questionam como o time de Paris encontrou 222 milhões de euros para levar Neymar do Barcelona e diante de uma pressão diplomática sem precedentes pela Arábia Saudita contra o Catar. 

Há apenas uma semana, líderes no Oriente Médio chegaram a apontam que bastava o Catar abandonar o Mundial de 2022 que os bloqueios hoje existentes contra o país seriam repensados.