EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

(Viramundo) Esportes daqui e dali

Mau humor

O futebol brasileiro perdeu qualidade. Fato. Mas a Série A não é o horror que se pinta

PUBLICIDADE

Por Antero Greco
Atualização:

Estatísticas apontam 86% de chances de o Palmeiras ser campeão nacional de 2016. A previsão generosa cruza dados matemáticos do aproveitamento do líder e demais seguidores, além de levar em conta a série de confrontos principais nas cinco rodadas restantes. Isso tudo na teoria. A prática confirmará ou desmentirá os cálculos feitos pelos especialistas. 

PUBLICIDADE

Mas, independentemente disso, se os palmeirenses levantarem a taça, será merecido. Da mesma forma que não terá sido acidente de percurso se o troféu ficar com o Flamengo. Ou com o Santos. Ou mesmo com o Atlético-MG, um pouco mais atrás agora, na classificação, embora com chances. Quem chegar na frente receba os aplausos calorosos pela proeza, e que não se diminua o valor dela.

A ressalva soaria descabida e desnecessária, pois óbvio que o campeão arrebate elogios e provoque comoção, ao menos em seus seguidores. Não é assim. Há indisfarçável e crescente mau humor na avaliação da Série A. Parece que se trata do pior torneio das últimas décadas disputado por aqui. E os competidores não passariam de bandos de tropas de pernas de pau, orientadas no banco por boçais e incapazes. 

Não há nestas bandas supertimes. Fato. Infelizmente, não desfilam nos gramados pátrios elencos milionários e estrelados como os de Real, Barcelona, Juventus, Bayern e congêneres europeus. Pena. Os mais jovens talvez não acreditem, mas houve tempo em que Santos, Botafogo, Cruzeiro, Palmeiras, Flamengo, São Paulo e outros eram compostos por muitos craques. 

O mundo girou, a grana corre solta para os gringos, os clubes brasileiros perderam o bonde da história e se tornaram fornecedores de pé de obra qualificada. Vê-se com naturalidade revoada de jovens imberbes para o exterior. Há até impaciência, se um candidato a astro permanecer em casa por duas ou três temporadas. Um acinte não sair!

Publicidade

Muito bem, não se deve iludir o torcedor: caiu o nível do joguinho de bola praticado no país pentacampeão mundial. Não está no topo. Exerça-se o senso crítico, ao ponderar trajetória e estratégia dos times, qualidade e eficiência dos jogadores e ousadia dos treinadores. No entanto, se cometem excessos, a ponto de confundir-se seriedade com sisudez, critério com azedume. 

O coitado do fã de futebol às vezes fecha o jornal ou desliga a tevê deprimido. Lá vai ele em busca de informações sobre as perspectivas da equipe pela qual é apaixonado e... tome ducha gelada. Oba, o Palmeiras na frente há 15 rodadas ou mais?! Ora, não tem variação, joga aquém de suas possibilidades, está em queda. O Fla?! Fogo de palha. O Santos?! Irregular; excelente na Vila, oscilante fora. O Atlético-MG?! Grande plantel, mas sem fôlego.

Há constatações, claro! E exageros.

Para confirmar tese de pobreza técnica e tática desabam enxurradas de cifras: tantos cruzamentos sonsos, tais e tais chutes amarrotados, centenas de passes errados, faltas a torto e direito. Gols que surgem “de bola parada” ou os que se originam em cobranças de lateral são quase lesa-futebol. Cobra-se criatividade, mas se torce o nariz para essas jogadas.

Se um Leicester vence o Campeonato Inglês, sinal de novos tempos. Se uma Ponte Preta sobe na tabela, significa indigência dos grandes. Se um Chelsea se tranca numa final, vê-se o dedo genial do técnico e o ferrolho como alternativa legítima para chegar ao título. Se o Flamengo recua para garantir vantagem, é sintoma de medo. Se a Juventus dispara na liderança, brava! Se um Cruzeiro abre folga, prova de que pontos corridos são sistema falido. 

Publicidade

Tudo nesta terra vale menos. 

A crítica não deve ser cor de rosa, tampouco chapa-branca. Cruz credo e Deus nos livre dessa praga difundida! Nem precisaria render-se a gráficos de ibopes, exemplares vendidos ou cliques. Antes, que desperte consciência, esclareça, faça refletir, contribua para o desenvolvimento do esporte. Com equilíbrio, espírito desarmado. Com afeto. E não desencoraje a torcida campeã.