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Morre Leônidas da Silva, o Diamante Negro

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Por Agencia Estado
Atualização:

Leônidas da Silva, um dos maiores jogadores da história do futebol, morreu na tarde deste sábado, aos 90 anos. O Diamante Negro estava internado no Recanto São Camilo, clínica geriátrica em Cotia, São Paulo, onde passou os últimos 10 anos, época em que começou a agravar-se a doença que sofria, o Mal de Alzheimer. Goleador genial, iniciou carreira no Bangu, em 1931, e brilhou no Peñarol, Vasco, Botafogo e sobretudo no Flamengo e no São Paulo, equipes que defendeu por mais tempo. Na seleção brasileira, se destacou como artilheiro da Copa de 38. O ?Homem Borracha?, criador da ?bicicleta?, foi um dos primeiros atletas a romperem preconceito contra negros, freqüentou o meio artístico e foi comentarista esportivo. O corpo de Leônidas será velado no salão nobre do Morumbi, a partir das 3 horas da madrugada deste domingo, e será enterrado às 14 horas de amanhã, no Cemitério da Paz. Os termos ?craque? e ?gênio? hoje são usados para qualquer jogador que saiba dar dois ou três toques refinados na bola ou que faça uma jogada mais bonita. Mas houve tempo em que eram empregados com rigor e critério. Por isso, poucos mereciam essa distinção. Um deles foi Leônidas da Silva, carioca de São Cristóvão, onde nasceu em 6 de setembro de 1913. Habilidoso, brigador, ágil, elegante, genioso, carismático, perseverante são outros adjetivos que serviriam para definir sua vida, sua carreira, sua personalidade. A identificação de Leônidas com a bola começou na infância, como acontece com a maioria dos garotos, mas não se rompeu jamais, como ocorre só com os talentos especiais. Desde menino, não pestanejava ao trocar as aulas pelas peladas de rua com bola de meia. O sonho era ser jogador - conseguiu, para felicidade de milhões de torcedores que o viram exibir sua elegância nos gramados nas décadas de 30 e de 40. Ele conquistou primeiro o Rio, ao brilhar em 1931 e 32 no Bonsucesso, que o descobriu no antigo Sírio Libanês. Em seguida, teve breve passagem pelo Peñarol, mas voltou para casa e desfilou por Vasco (campeão estadual em 1934), Botafogo (campeão em 1935) e Flamengo (campeão em 1939 e pelo qual marcou 142 gols em cinco temporadas). Depois, foi a vez de encantar platéias paulistas, com a camisa do São Paulo, clube que defendeu de 42 a 50 - nesse período ganhou os títulos paulistas de 43, 45, 46, 48 e 49. Nesse meio tempo, também se mostrava imprescindível para a seleção. Ele representou o Brasil nas Copas de 34 (Itália) e 38. No torneio da França, foi artilheiro, com 8 gols - quatro deles na vitória por 6 a 5 sobre a Polônia, na estréia. A mobilidade e a pontaria fizeram com que um jornalista francês o chamasse de "Homem Borracha". Leônidas arrastava multidões nos anos 40, proeza reservada apenas para o presidente Getúlio Vargas e o cantor Orlando Silva. Prova de prestígio ocorreu na apresentação ao São Paulo, que tinha sede no Canindé. Os jornais da época calcularam que 10 mil torcedores foram ver o ídolo de perto. Na estréia, empate de 3 a 3 com o Corinthians, em 24 de maio de 42, o Pacaembu recebeu 72.018 pagantes - recorde até hoje insuperado. Leônidas era bom de briga. No Botafogo, se revoltou porque não era escalado por ser negro. No Flamengo, teve discussões memoráveis com o técnico Flávio Costa, que não tolerava suas manias de estrela e atrasos em treinos. No São Paulo viveu entre o endeusamento da torcida e desentendimentos com companheiros, aos quais criticava quando erravam. Mesmo assim, venceu, foi símbolo de ascensão social para os negros, se vestia com elegância. Foi um dos primeiros atletas a ter carro do ano. Nos anos 60, 70, foi comentarista temido, por análises precisas na Rádio Jovem Pan. A grande batalha foi contra o Mal de Alzheimer. Os últimos dez anos, passou internado. No começo, tinha momentos de lucidez. Aos poucos, foi perdendo consciência, apesar da dedicação de médicos e do carinho de Albertina Santos, com quem viveu 48 anos. O corpo estava presente, mas o Diamante Negro já vivia em outra dimensão, mais condizente com sua condição de ídolo.

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