Muito lero-lero

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Por Antero Greco
Atualização:

Durante os anos em que ficou sob o controle de Marco Polo Del Nero, a Federação Paulista se especializou em ganhar espaço com factoides, em final e início de ano. Na época em que a bola para de rolar, a entidade tratou de aparecer com medidas de marketing, do gênero “árbitros farão curso e exames médicos”, “tais estádios estão vetados para o Paulistão”, “torcedores violentos serão fichados”, “campeonato entregará milhões em prêmios” e assim por diante. Provas de dinamismo e modernidade. Na prática, os juízes continuaram a errar como sempre, a maioria dos campos foi liberada, os bagunceiros - salvo exceções - circulam pelas arquibancadas e os clubes enfrentam dificuldades. Noves fora os grandes, e olhe lá, as pequenas agremiações vivem penúria de dar dó e tendem à extinção. O estilo de muito barulho para pouco rojão se estende à CBF, entidade que Del Nero herdou de dois ex-amigos e correligionários, um evaporado e outro preso. E vem na fórmula de promessas de impacto para tirar o futebol nacional e, por extensão, a seleção, da draga técnica atual. O coordenador Gilmar Rinaldi anunciou, como marco de nova era, a convocação dos treinadores que guiaram a amarelinha para compor uma espécie de conselho de sábios, que analisará os porquês da nossa bola murcha e apontará o rumo certo. Em princípio soa gesto de humildade recorrer a profissionais experientes para a reconstrução de um símbolo pátrio. Se vai funcionar na prática, é outra conversa, há interrogação enorme a respeito da eficácia. Por inúmeros motivos, e um deles se refere à relação que vários têm com a CBF.  Vamos lá. Quase todas as trocas ocorreram porque técnicos do momento não alcançaram objetivos em missões que lhes foram confiadas. Leão recebeu bilhete azul em 2001 no aeroporto de Narita e nunca mais quis saber de seleção. Avisa que declinará de gentil convite que lhe for feito.  Mano Menezes foi despejado por Marin e Del Nero. Se bem que o presidente de hoje diz que não tinha nada a ver com a gestão anterior... Parreira e Felipão foram demitidos por Marin e... por Marin apenas, claro. Só que Parreira já se antecipou e diz que, sim, topa, e não seria diferente para quem tem a CBF como modelo de um Brasil que deu certo. Lazaroni está fora do País, mas deve sua fama, para o bem ou para o mal, ao período em que foi treinador da equipe. Falcão vive incerteza em torno do futuro da própria carreira.  Luxemburgo está sempre atento às movimentações das marés e, sabe-se lá como é o porvir... Zagalo é um entusiasta histórico, Carlos Alberto Silva e Evaristo de Macedo estão aposentados. Faltaram na relação Edu Coimbra e Candinho. Sim senhor, ambos sentaram no banco como técnicos da seleção. Muito bem. Você consegue imaginar técnicos na ativa dando palpites para Dunga, em reuniões em que prevaleça jogo franco e sem ressentimentos? Vislumbra cavalheiros a abrir mão de respectivas convicções e vaidades? Quem ficará com as glórias? Sobre quem recairão cobranças?  A CBF fala em ouvir até estrangeiros. E a ciumeira local permitirá? Treinadores daqui vivem a alardear que não devem nada aos colegas de fora. Não custa lembrar-lhes que, para ficarmos na nossa região, as seleções semifinalistas da Copa América têm argentinos como professores.  Pressionada por desconfianças gerais, a CBF prega a necessidade de ampla discussão para uma reviravolta no futebol. Então, significa que ouvirá jogadores? Receberá o Bom Senso para debater pautas e propostas conjuntas? Incentivará a Lei de Responsabilidade no Futebol? Pretende colaborar com CPI do Futebol, por coincidência protelada por hábil manobra da Bancada da Bola? Vai rever contratos assinados por ex-dirigentes renegados? Faz-se fumacinha para turvar os olhos, distrai-se o público, adoça-se a boca de críticos e ...vida que segue. No Bom Retiro do filósofo da várzea Toninho Cazzeguai, havia definição para tais atos. “Muito lero-lero.”

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