Titular absoluto do Santos, considerado o “novo Neymar” e esperança de renovação para o ataque da seleção, Gabriel Barbosa, o Gabigol, parecia a um passo de explodir para o futebol mundial quando a Inter de Milão desembolsou quase 30 milhões de euros (R$ 112 milhões) para levá-lo em 2016. Mas, depois de uma temporada na Europa e de colecionar mais polêmicas do que oportunidades em campo, tudo mudou. Agora, o jovem atacante tenta se reerguer no Benfica.
Gabriel chegou à Internazionale com moral. Havia acabado de conquistar o ouro olímpico nos Jogos do Rio, ao lado de Neymar, e de ser convocado por Tite para as Eliminatórias Sul-Americanas. O desempenho pelo Santos o credenciava a ser uma das esperanças do Brasil, e tudo isso aos 19 anos.
Ocorre que, na Inter, ele teve poucas oportunidades, atuou em dez jogos – um apenas como titular – e marcou um mísero gol. Não fazia jus ao apelido levado na bagagem do Brasil. Não raramente, Gabriel foi criticado pelos três técnicos com quem trabalhou em Milão e viu o auge deste descontentamento acontecer quando abandonou, irritado, o banco de reservas da equipe em partida do Campeonato Italiano. Taxativo, o treinador Stefano Vecchi disparou contra o brasileiro: “É um jogador que se acha”.
A falta de maturidade parece ser justificativa unânime para o momento (ruim) do atacante, até por aqueles mais próximos. “Ele tem 21 anos apenas, é muito novo. Está amadurecendo ainda”, comenta seu agente, Wagner Ribeiro. “Ele foi contratado como estrela. Pagaram 30 milhões de euros por um campeão olímpico, titular do Santos e convocado por Tite. Chegou com essa bagagem à Itália.”
O ex-meia Elano, auxiliar de Levir Culpi na Vila Belmiro, acompanhou o crescimento do jovem atacante quando ele ainda vestia a camisa do Santos. Elano sabe bem de suas qualidades. “É menino novo, teve evolução grande no início. Mas na Europa é diferente, os treinadores gostam de esperar um pouco para te dar chance, e isso vai irritando o brasileiro. Pela idade e a qualidade que tem, precisa ter mais paciência para encaixar direitinho e ter sucesso.”
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Sem espaço na Inter, Gabriel tenta se provar no Benfica. É sua segunda chance na Europa. Emprestado, o jogador também não vem tendo vida fácil em Portugal. Em sua chegada, viu o técnico Rui Vitória vetar o apelido Gabigol. “Isto é coisa de artista”, justificou o português. “O Gabriel não gostava mesmo do apelido. Ele não é o camisa 9”, diz Wagner Ribeiro.
O fato é que o atacante continua sem espaço. Até este domingo, quando o Benfica encara o Marítimo, pelo Campeonato Português, Gabriel disputou três partidas – uma como titular. Ficou em campo por 89 minutos. Nos dois últimos compromissos do time, não saiu sequer do banco.
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Quem viveu situação semelhante à do jogador, porém, aposta em sua volta por cima. Após despontar ainda jovem, o atacante Keirrison chegou à Europa para atuar pelo Barcelona aos 21 anos. Como Gabriel, não teve o espaço esperado e foi emprestado ao mesmo Benfica. No caso do atual centroavante do Coritiba, a falta de chance continuou e ele nunca voltou a desempenhar o futebol do início de carreira. Hoje, acredita que o ex-santista possa fazer diferente.
“O Gabriel é um grande atleta. O importante é focar no futebol, manter o profissionalismo. Acredito nisso para que ele possa se desenvolver e melhorar. É isso que o jogador busca. Meu conselho é que se foque nisso, concentre-se, porque está em um grande clube”, sugere.
Se Keirrison nunca se reergueu da primeira experiência frustrada na Europa, Geovanni viveu história oposta após traçar o mesmo caminho. Também aos 21 anos, deixou o Cruzeiro e foi para o Barcelona, mas sofreu com a falta de espaço e foi emprestado ao Benfica. Em Portugal, o meia se firmou, atuou por três temporadas e foi fundamental na conquista do título nacional de 2004/2005, após 11 anos de jejum. Ele próprio, porém, admite que a transição foi bastante complicada.
“O Gabriel fez mais ou menos o que aconteceu comigo, foi direto para um grande da Europa. O Benfica é gigante, mas Portugal é um país mais fácil de se adaptar, tem muitos brasileiros, cultura parecida. É complicado porque o jogador sai do Brasil como ídolo, importante, vai para a Europa e se torna só mais um. Isso afeta. Dava desespero não jogar”, lembra.
O que todos parecem concordar é sobre a qualidade de Gabriel. “Tem talento. Se jogar intensamente, brigar, tem tudo para virar ídolo”, diz Geovanni. “Tendo sequência, acredito que possa evoluir e ter sucesso como teve aqui”, considera Elano. “É um grande jogador, tem condições de fazer boa trajetória na Europa”, acredita Keirrison.
Três perguntas para Geovanni, ex-atacante do Benfica
1. Acredita na volta por cima do Gabriel após a temporada na Inter?
O que o Gabriel passou na Itália foi um aprendizado. Eu também sofri muito no Barcelona para me adaptar e, quando fui para o Benfica, as coisas começaram a fluir na minha carreira. O jogador sai do Brasil como ídolo, como um nome muito importante, vai para a Europa e se torna mais um. Isso afeta, tive essa dificuldade. Mas Portugal... Se eu pudesse ter ido para o Benfica antes, as coisas seriam diferentes.
2. Qual é a sensação quando percebeu que não teria espaço no Barcelona?
Quando você se junta ao plantel e é bem aceito, isso te dá moral. O treinador precisa apostar também. No Barcelona, sabia que tinha valor, mas não jogava. Dava desespero saber que era destaque no Brasil e não jogava na Espanha. Ainda mais sendo jovem. Pensava se deveria voltar para o Brasil, se iria para a seleção...
3. No que você acha que o Gabriel precisa evoluir para se firmar?
O que eu mais aprendi na Europa é o espírito de luta, a intensidade. O Gabigol precisa colocar tudo que sabe em prática. Às vezes, a gente joga, faz gol e acha que está bem, mas, na verdade, não participou coletivamente. Nós, brasileiros, somos bons demais individualmente, mas precisamos aprender a jogar coletivamente. A mudança é da mentalidade com a qual ele saiu do Brasil. Se colocar isso em prática, vai ser não só um grande jogador no Benfica, mas vai virar ídolo.