Nova casa do Palmeiras tem luz própria

Allianz Parque, que deverá ser inaugurado em novembro, é autônomo na produção de energia elétrica e tem várias inovações

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Por Ciro Campos e Gonçalo Junior
4 min de leitura

Em 15 minutos, cinco torcedores pararam para tirar fotografias da fachada do Allianz Parque na entrada da Rua Turiaçu na tarde chuvosa de sexta-feira. Os mais saidinhos costumam pedir que os seguranças tirem fotos do gramado. Outros querem saber do telão. Esses símbolos – gramado, nome, telão – já enchem a torcida palmeirense de orgulho antes mesmo da inauguração do estádio, prevista para o dia 9 de novembro, no jogo contra o Atlético-MG. Existem outros itens, no entanto, que os torcedores nem vão perceber, como as soluções de sustentabilidade e de geração de energia. Em uma visita exclusiva, o Estado verificou como está a infraestrutura da arena. O Allianz Parque é autônomo na produção de energia elétrica. Quatro geradores fornecem os 7,5 MW de que a arena necessita para se manter em funcionamento. Eles também podem ser usados paralelamente ao fornecimento público. Os equipamentos são tão potentes que seu funcionamento durante um mês, ligados oito horas por dia, seria suficiente para abastecer uma cidade de oito mil habitantes, considerando a média mensal de 163kWh. Holambra, por exemplo, tem 8.100 pessoas morando lá. Essa autossuficiência será fundamental nos dias de grandes eventos, sujeitos a quedas de tensão. A sala de geradores tem até um diferencial inusitado: possui isolamento acústico para não incomodar a sede social do clube, que fica ao lado, e também o restante da arena.

Filme 12 de Junho de 1993 é exibido no teste de luz no Allianz Parque Foto: Evelson de Freitas/Estadão

O revestimento em aço inoxidável é o charme do estádio. São 972 placas de larguras diferentes que melhoram o isolamento acústico e a dissipação de calor e diminuem os custos de manutenção. A chuva forte que caiu na sexta-feira, no entanto, mostrou que elas são mais bonitas do que funcionais. Como são todas “furadinhas”, permitiram que a chuva molhasse bastante os corredores das arquibancadas, que, provavelmente, vão precisar de uma proteção adicional. 

O compromisso com a sustentabilidade está em dia. A cobertura da arena – uma estrutura de 2.200 toneladas – foi projetada para captar a água da chuva. Com a reutilização, a arena consegue economizar 76% do que gasta na irrigação do gramado, na lavagem de áreas de grande circulação e nos sanitários (bacias e mictórios). Além disso, evita o volume excessivo nas galerias pluviais, um problema recorrente na região da Pompeia, onde se localiza o estádio. Na mesma sexta-feira, o gramado estava tomando um banho de luz. Oito potentes refletores – cada lâmpada possui 1000W de potência – oferecem o calor necessário para o desenvolvimento do campo. A ideia é fortalecer e acelerar o enraizamento. O banho é dado diariamente, muda apenas a quantidade de horas que as lâmpadas ficam ligadas. Além disso, sensores analisam a quantidade de nutrientes do solo. Isso não é exclusividade do estádio do Palmeiras, também é comum no Mané Garrincha e no Maracanã. Lá do alto, as telas translúcidas também contribuem com a entrada da luz natural, o que ajuda a preservar a saúde do gramado. Os avanços tecnológicos estão, entre outros locais, nos dois telões, que dão um charme especial à arena. Cada um possui 103metros quadrados, o que equivale a 200 televisores de 42 polegadas, um colado ao outro. O torcedor terá internet sem fio grátis em todos os assentos. Cerca de 500 antenas foram instaladas nos três andares. Além da parte de entretenimento, o pacote de tecnologia conta com catracas inteligentes para comercialização dos ingressos. Nos pontos de venda de comida, serão instaladas 700 televisões, que vão reproduzir a partida. Todas as inovações têm um propósito. O projeto arquitetônico foi construído para garantir a rentabilidade de uma arena multiuso, que será palco não apenas dos jogos, mas também de shows e eventos corporativos. O estádio possui, por exemplo, 3.100 camarotes, o que significa 7,5% do total de 43.600 lugares. A média das outras arenas é de 4% a 5%. Vale lembrar que os camarotes são visados principalmente por pessoas jurídicas. “A ideia é receber eventos de qualidade para cumprir o plano de negócios”, afirma Rogério Dezembro, gerente de Novos Negócios da WTorre, construtora da arena. Sim, trata-se de um negócio. A receita virá da venda de ingressos de shows, espetáculos culturais e eventos esportivos, do aluguel de lojas, restaurantes, lanchonetes e espaço publicitário e dos naming rights. As rendas dos jogos do Palmeiras não geram receita para o empreendimento, é toda do clube. As mudanças sustentáveis facilitaram a comercialização dos naming rights. Na linguagem corporativa, agrega valor e facilita a venda de patrocínios e camarotes. “Esse investimento em infraestrutura, tecnologia e sustentabilidade serve para oferecer a melhor experiência para o torcedor do Palmeiras e outros que virão assistir aos shows ou frequentar a arena, que é mais do que um estádio de futebol”, diz Dezembro. Mesmo que o objetivo final seja o lucro, os profissionais envolvidos na finalização da arena – 98,5% das obras estão concluídas – reconhecem que há algo diferente nesta construção. É como se pressentissem a emoção que vai impermeabilizar paredes e alicerces nos dias de jogos. E, ainda com tinta fresca, a arena já nasce com uma missão: acolher o time na luta contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro. “Todos querem ver o estádio pronto, até porque o Palmeiras em seu campo pode ser ainda mais forte”, declarou o treinador Dorival Junior após o triunfo sobre o Vitória.

A ARENA EM NÚMEROS

630 milhões de reais é o custo das obras do estádio. Construtora diz que R$ 100 milhões foram gastos em obras no clube e na cidade.

43.600 lugares é a capacidade do estádio. Do total, 3.100 são camarotes, dado que evidencia o foco em eventos corporativos. 

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12 mil lugares estão disponíveis no anfiteatro localizado na arena. No Ginásio do Ibirapuera, por exemplo, cabem 11 mil pessoas. 

29 milhões de litros de água serão coletados por ano para reutilização nos banheiros e na irrigação do gramado.

191 câmeras espalhadas por vários pontos vão garantir a segurança na arena. O acesso terá um sistema de reconhecimento facial.

43 lanchonetes e mais oito cozinhas de apoio e uma central, além de um restaurante panorâmico, vão cuidar da alimentação no Allianz Parque.