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Onde começam as crises

São Paulo estacionou no tempo após títulos na década passada

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Por Paulo Calçade
Atualização:

As crises começam e terminam no campo. O resultado ainda é, infelizmente, a única forma de se classificar e avaliar um clube de futebol no Brasil. Em dezembro de 2008, tricampeão brasileiro, o São Paulo era o modelo de perfeição a ser copiado. E amava ser visto dessa maneira.

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Tudo era lindo e maravilhoso. Organizado e pragmático, Muricy Ramalho se transformou no melhor treinador do planeta, e Juvenal Juvêncio virou a esperteza em pessoa, pela perspicácia e as vitórias. Foi quando começou a derrocada. Como criador do novo paradigma do sucesso, o São Paulo não resistiu e abraçou aquelas fórmulas, desejando eternizá-las, ignorando a evolução do jogo e da concorrência.

Nesse ponto, o clube foi muito importante para o futebol brasileiro ao provar que o alicerce do sucesso é a organização. Mas estacionou, virou uma instituição comum, doente como outras tantas. Nem mesmo a vitória sobre o Coritiba mudaria a situação. O empate deste domingo, um 0 a 0 vazio de ideias e de atitude, apenas reflete a crise que não será eliminada com dois ou três bons resultados.

Momentos antes da partida, o presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, pressionado pelos problemas e pelos repórteres, parecia mais preocupado em dizer que a sua diretoria não tinha responsabilidade pelo caos, somente o administrava.

Com certeza não é isso o que o são-paulino gostaria de ter ouvido naquele momento. Como também não ficou mais tranquilo ao saber que as agressões aos jogadores no treinamento de sábado foram superficiais, apesar de terem sido veementemente condenadas pelo dirigente.

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Voltamos ao gramado, afinal é lá que as relações com o clube são criadas e desenvolvidas. Quando a bola entra, está tudo bem e toda a política administrativa, boa ou ruim, confirma seu caráter vencedor. Desde que o time seja campeão, quem vai reclamar de uma diretoria que não paga salários? 

A desordem administrativa tricolor, que conduziu Carlos Miguel Aidar e sua voracidade ao poder, levou o time para o buraco, destruindo-o interna e externamente, com danos históricos irreversíveis.

O grupo atual precisa recuperar identidade e compromisso. Os jogadores procuram referências e não as encontram. Nenhuma equipe alcançará estabilidade ao promover rodízio de treinadores. Nos últimos 20 meses, várias ideias e conceitos de futebol se alternaram em ritmo frenético.

Muricy, Milton Cruz, Osorio, Doriva, Bauza e agora Ricardo Gomes. Cada um com as suas referências e pensamentos, juntos e misturados. É impossível desenvolver algo que preste nesse ambiente. Independentemente disso, os jogadores têm responsabilidade pelo momento. 

Por mais bagunçado que esteja o time, alguns comportamentos devem ser mantidos, sempre. Quarta-feira, na derrota para o Juventude, no Morumbi, por 2 a 1, pelas oitavas de final da Copa do Brasil, faltou compromisso coletivo. Nos momentos de crise, principalmente, é necessário correr e correr. E isso não tem acontecido. 

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No primeiro gol sofrido, é nítido que parte do time estaciona, desiste, e começa a torcer pelo sucesso dos companheiros. O sentido coletivo do jogo está presente em todos os acontecimentos, nas vitórias e nas derrotas. 

A conversa de Maicon e Lugano com os invasores do CT, no último sábado, representa bem o nível da calamidade tricolor. A que ponto chegou o São Paulo? Justamente o clube que adorava exibir ao mundo suas vantagens e diferenças.

Hoje, no auge da crise, nem a oposição consegue enxergar uma saída. Não existe um nome, nem candidato a salvador da pátria, o que também não é a melhor solução. O São Paulo precisa de novas ideias para voltar a ser um clube profissional de verdade. O que aí está é triste.

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