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Operação contra corrupção no futebol recuperou R$ 720 milhões aos EUA

Valor se refere a multas e acordos de delação premiada

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Por JAMIL CHADE e CORRESPONDENTE NA SUÍÇA
Atualização:

A operação da Justiça norte-americana contra a corrupção no futebol já recuperou aos cofres dos EUA mais cerca de US$ 190 milhões (cerca de R$ 720 milhões), em multas e acordos de delação premiada. O valor não inclui as fianças pagas pelos dirigentes para que possam aguardar o julgamento em liberdade condicional.

Dos 41 indiciados no caso, pelo menos oito deles já fecharam acordos para cooperar nas investigações. Os entendimentos envolveram o pagamento do valor considerado pelos americanos como parte da fraude cometida.

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O FBI, por exemplo, contou com a cooperação de dois brasileiros nesta segunda fase da operação. Fabio Tordin e José Margulies admitiram culpa e passaram a colaborar com as investigações. Como parte do acordo, eles aceitaram devolver cerca de R$ 37 milhões, que foram para os cofres americanos como compensação pelos crimes cometidos.

Tordin, que trabalhava na Traffic de José Hawilla, pagaria cerca de US$ 600 mil. Hoje, ele já trabalhava normalmente pela empresa Media World, em Miami. Mas confessou os crimes de evasão fiscal e fraude. Seu acordo foi fechado no dia 9 de novembro.

Há uma semana, foi a vez de José Margulies aceitar pagar US$ 9,2 milhões ao admitir fraude e lavagem de dinheiro. Ele controlava duas empresas - a Valente Corp. e a Somerton Ltd - e serviam para realizar os pagamentos das propinas de Hawilla aos cartolas.

Os acordos ainda incluem o empresário Zorana Danis, que deixou aos cofres americanos US$ 2 milhões, o ex-presidente da Federação Colombiana, Luis Bedoya, que abriu mão de todos os seus recursos num banco suíço, o empresário argentino Alejandro Burzaco, que pagou US$ 21 milhões por sua participação na corrupção na Copa América, além do ex-vice-presidente da Fifa, Jeff Webb, que desembolsou US$ 6,7 milhões.

SEM FIM

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Mas se no dia 27 de maio de 2015, a Fifa viveu um terremoto, com a prisão de sete cartolas em Zurique, o que o FBI descobriu nos meses seguintes é que os dirigentes continuaram a pedir e receber propinas, mesmo depois de ver seus colegas nas prisões.

Nas investigações, a Justiça americana se deparou com cenas, encontros e telefonemas entre dirigentes negociando propinas e até combinando formas para melhor esconder do FBI as transações. Para fontes próximas ao caso, isso apenas demonstra que a corrupção no futebol é "endêmica" e "sistemática".

"Em algumas instâncias, a conduta criminosa continuou mesmo depois das denúncias", indicou o Departamento de Justiça dos EUA. Nos dias 31 de maio e 5 de junho, a seleção de El Salvador disputou amistosos em Washington e no Chile. O empresário brasileiro Fabio Tordin, porém, havia fechado um acordo para pagar uma propina de US$ 5 mil por jogo para um dos dirigentes centro-americanos para que a partida pudesse ocorrer.

Com as prisões do dia 27 de maio, Tordin não fez o depósito. "Em resposta, o dirigente de El Salvador e aliados pressionaram Tordin de forma repetida para que fizesse o pagamento", indicou o documento oficial da Justiça. Isso ocorreu por telefone, cartas e viajando de El Salvador para os EUA para se reunir com o empresário.

Em outros casos, a ordem era criar formas para esconder a propina. "Em junho de 2015, Alfredo Hawit se tornou o presidente da Concacaf e vice-presidente da Fifa", indicou o indiciamento do Departamento de Justiça dos EUA. Ele ocuparia o cargo de Jeff Webb, preso em maio.

No dia 9 de julho, Tordin esteve com o cartola Brayan Jimenez, da Guatemala, em um encontro em Chicago. A reunião serviu para discutir como ele receberia a propina para as Eliminatórias para a Copa de 2022. Ao final do encontro, Jimenez disse: "Nada deve ser dito pelo telefone. Nada! Nada! Nada!".

Alfredo Hawit, presidente da Concacaf, detido na quinta-feira, parecia apenas querer esconder a propina, mesmo depois das prisões. "Após o indiciamento inicial de 27 de maio, Hawit direcionou um co-conspirador para criar contratos falsos com o objetivo de camuflar pagamentos de propinas e para que fizesse declarações falsas sobre esses pagamentos aos agentes da polícia".

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Ele havia viajado meses antes em um jato privado para uma reunião em Punta del Leste, no Uruguai, para se encontrar com os empresários Hugo e Mariano Jinkis. Ao lado de outros dirigentes, ele concordou em influenciar a Concacaf para vender direitos de marketing para a empresa Full Play. Ele ficaria com US$ 250 mil pelo serviço, pagos em uma conta no Panamá.

No dia 1 de julho de 2015, já depois das prisões, um dos agentes da empresa se encontraria com Hawit e sua esposa, em Houston. O empresário se mostrava preocupado diante do indiciamento de Hugo e Mariano Jinkis e com a possibilidade de que eles cooperassem com a Justiça americana, denunciando o cartola também.

No encontro, a solução encontrada foi a de pedir que o agente mentisse ao FBI sobre a origem dos recursos. Um contrato falso de compra de um terreno em nome da esposa do dirigente ainda foi elaborado, indicando que o valor teria saído da aquisição de um terreno em Honduras.

Quando Hawit foi questionado semanas depois, ele ainda insistiu que o agente da Full Play não o pagou. "Ele comprou terras em Honduras, de minha esposa". Mas Rafael Salguero, cartola da Guatemala e que também recebeu US$ 100 mil no mesmo pacote, se mostrava preocupado e pediu que todos os envolvidos se reunissem para acertar uma estratégia. "Estamos todos na mesma merda", disse, segundo o documento da Justiça americana.

Na Conmebol, a situação não seria diferente. Um ex-tesoureiro da entidade, Romer Osuna, manteve sua posição no Comitê de Auditoria da Fifa mesmo depois das prisões e de saber que estava sendo investigado.

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