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Outro jogo

Cuca imaginou um jogo e o Palmeiras jogou outro, desperdiçado em cruzamentos

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Por Paulo Calçade
Atualização:

Cuca imaginou um jogo e o Palmeiras jogou outro. Para enfrentar o Atlético Mineiro sem o atacante Gabriel Jesus, o treinador palmeirense manteve a estrutura tática e os princípios que levaram o time à liderança do Campeonato Brasileiro. Mas ficou apenas no campo das ideias. Com Róger Guedes, Gabriel e Dudu, o Palmeiras é uma equipe fundamentada na velocidade e na movimentação. Levado ao centro do ataque, o atacante olímpico tem conseguido transformar seu talento em gols pela imposição técnica. Por isso Cuca escalou Erik para substituí-lo, para tentar manter o padrão, embora sejam jogadores diferentes.  O Palmeiras levantou bolas demais na área, agravadas pela ausência de atacantes com essa característica. Atuou como se Lucas Barrios e Alecsandro estivessem em campo. Quando eles entraram, porém, a vantagem do Galo era superior ao 1 a 0 estampado no placar.  Quando tem os grandalhões, o time é obrigado a se transformar, a buscá-los e interpretá-los, é outro futebol, diferente do que hoje pensa o treinador. Por enquanto, só os veremos em campo em caso de emergência. Marcelo Oliveira obteve sucesso ao fechar o meio de campo atleticano. Com a bola circulando menos pela marcação de Leandro Donizete, Lucas Cândido e Rafael Carioca, o Palmeiras, naturalmente, encontrou nos cruzamentos alternativa quase obrigatória. E perdeu muito tempo com isso. O problema, porém, não era exclusivo do ataque, estava na origem, na criação. A inexpressividade de Cleiton Xavier exauriu Tchê Tchê, aflito pela falta de qualidade das conexões entre defesa, meio de campo e ataque, defeito agravado pela ausência de Moisés. O Atlético Mineiro apostou num jogo mais simples, soube lidar com o tempo e levou o Palmeiras a um futebol que, pelo menos neste momento, não é o dele. Marcelo Oliveira, que durante tanto tempo que esteve no comando do Alviverde pecou pela falta de alternativas, pelo jogo pobre, impulsionado por chutões, trabalhou muito bem no reencontro.Cristóvão. O Corinthians não está bem. Quando não falta profundidade, ocasionada pela ausência de um atacante próximo ao gol, por imposição física ou mesmo por intenção, falta organização nos últimos 30 metros, obviamente mais grave e preocupante.  É quando a posse de bola vira apenas um número, sem sentido. Possuí-la não significa ter o controle das ações ou dominar o adversário. Sem o contexto do jogo, é apenas um número, independentemente do seu tamanho. O segundo tempo contra o Figueirense explica. Desta vez a bola parada não ajudou a abrir a defesa catarinense, agora treinada por Argel Fucks. Mas foi decisiva no empate, no gol de cabeça marcado por Danilo. Reclamar da postura do adversário, de como ele se tranca, de como abdica do jogo e de seus contra-ataques, é bobagem. Cada treinador escolhe a maneira de sua equipe jogar. E os técnicos também têm a obrigação de desenvolver suas equipes para superar qualquer situação, inclusive times que se fecham demais. Falta organização ao time do Corinthians, refletida em triangulações e infiltrações que desmontam defesas que entram em campo muito fechadas. Quando o jogador não se apresenta para receber o passe, a equipe trava. Por isso não convém observar o jogo apenas do ponto de vista individual.  Quanto mais se aproxima da meta adversária, complica-se pela dificuldade em transformar a posse de bola em algo produtivo. O passe é a base de um mecanismo que tem a infiltração na outra ponta, até chegar à finalização. Não convém cobrar deste time do Corinthians o futebol da equipe que conquistou o título do Campeonato Brasileiro do ano passado. A mudança de estilo não deve cair na conta do novo treinador, mas o desenvolvimento de uma nova equipe é atribuição dele.

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