A Polícia Civil abriu inquérito para investigar a morte do torcedor vascaíno Davi Rocha Lopes, de 27 anos, baleado no peito na noite deste sábado, após a partida de futebol entre Vasco e Flamengo, no Estádio São Januário, no bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro.
Lopes foi atingido durante a confusão desencadeada por torcedores vascaínos, após a vitória do Flamengo por 1 a 0. O tumulto levou pânico a quem estava no estádio. A vítima chegou a ser levada para o Hospital Municipal Souza Aguiar, mas já chegou sem vida. Outros quatro torcedores feridos também por tiros receberam atendimento no mesmo hospital e foram liberados, segundo a Secretaria Municipal de Saúde.
A confusão começou ao fim do clássico. Torcedores vascaínos, indignados com a campanha da equipe no campeonato brasileiro, atiraram pedras e rojões contra o gramado, sendo contidos pela polícia com bombas de gás e spray de pimenta. Os torcedores destruíram as instalações do estádio, e a confusão se prolongou pelas ruas do bairro, onde Lopes foi ferido.
Os torcedores do Flamengo que acompanharam a partida precisaram de proteção policial para deixar o local. As investigações sobre as circunstâncias em que Davi Lopes foi ferido e de onde partiu a bala que o atingiu estão em andamento na Delegacia de Homicídios da Capital.
Nas redes sociais, houve comoção pela morte de Lopes. O perfil intitulado “Torcida Vasco da Gama” publicou uma foto da vítima no Facebook, em que lamenta a morte de Lopes e acusa a polícia militar de ter feito os disparos que atingiram o rapaz e os demais feridos no entorno do estádio.
“Lamentamos o falecimento do torcedor vascaíno atingido por um tiro no peito dado por um policial. Que a justiça seja feita”, escreveu.
A Polícia Civil apura se os tiros partiram das armas usadas pelos policiais militares que participavam da ação para conter o tumulto dos torcedores. Serão colhidos depoimentos de todos os envolvidos, como policiais, testemunhas e feridos. Agentes tentam obter imagens de câmeras de segurança da região que possam auxiliar na investigação.
A Polícia Militar informou que instaurou procedimento para apurar a conduta dos policiais que integravam o esquema de segurança montado para a partida. Na parte externa do estádio, os policias teriam sido atacados pelos torcedores com garrafas e pedras.
“A Corporação aguarda perícia e apuração por parte da Polícia Civil. Paralelamente a isso, o Comando da Corporação, através do 4º BPM (Batalhão da Polícia Militar) instaurou procedimento para apurar as condutas dos policiais”, comunicou a PM, em nota.
Segundo a polícia, as brigas entre torcedores do Vasco têm sido recorrentes no Campeonato Brasileiro deste ano, especialmente em São Januário. A PM lembra que as ocorrências foram relatadas nas súmulas, mas que, até o momento, o clube não foi punido, tendo sido absolvido em audiência na semana passada.
A partida entre Vasco e Flamengo contou com 220 policiais na parte interna do estádio e outros 200 na parte externa, mas foi acionado o reforço de agentes do Batalhão de Choque após o tumulto. Em nota, a PM afirmou que o Vasco cumpriu as exigências previstas na Portaria do Ministério dos Esportes e da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para realização da partida em São Januário. Mas ponderou que a revista para entrada dos torcedores ao estádio é de responsabilidade do clube, que possui funcionários destinados a isso em todos os pontos de acesso. Os policiais apenas supervisionam a revista.
Após o jogo, em entrevista coletiva, o presidente do Vasco, Eurico Miranda, pediu desculpas pelo ocorrido em nome do time. Em coletiva de imprensa, ele lamentou o episódio.
"Eu pedi pra dar esta coletiva basicamente porque eu precisava, como presidente do Vasco, pedir desculpas. O que aconteceu, isso não é Vasco. Isso não é Vasco. Eu tenho certeza que é algo que já estava preparado, isso é algo que vinha sendo feito e, na primeira derrota que tivéssemos aqui em São Januário, isso viesse acontecer. Isso foi premeditado. Isso não é torcida organizada, é grupo político. Normalmente, essas coisas são financiadas por alguém que só visa desestabilizar o futebol", declarou Miranda.