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Por futuro melhor, presidente do Bahia vê necessidade em mudar esferas do clube

Em entrevista ao 'Estado', Guilherme Bellintani comenta sobre os planos para o clube no próximo triênio

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Guilherme Bellintani assumiu o Bahia no final de dezembro de 2017. Apesar de ser do mesmo grupo político do antecessor, o novo presidente vê necessidade de mudança em diversas esferas do clube, como nos programas de sócio-torcedor, preços dos ingressos (inclusive trazendo conceitos de fora do país), setor de análise de desempenho e no relacionamento com o torcedor. Em entrevista ao Estado, Bellintani comenta sobre os planos para o clube no próximo triênio.

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O Bahia vem numa mudança desde 2013, que ocorreu uma intervenção judicial no clube. Um grupo de torcedores conseguiu uma liminar na justiça para que fosse realizada eleição direta no clube. O juiz nomeou um interventor e este organizou uma eleição direta entre os sócios do clube. O primeiro presidente ficou por um mandato mais curto, depois veio o presidente Marcelo Sant'Ana, que ficou por três anos. Eu e o Marcelo pertencemos ao mesmo grupo político, e eu fui o escolhido para ser o candidato da sucessão, e fui eleito com 82% dos votos dos associados.

Presidente do Bahia Guilherme Bellintani. Foto: Felipe Oliveira / EC Bahia

Como estava o Bahia nos aspectos financeiros e organizacionais quando você assumiu?

Apesar do clube ter se organizado bastante nos últimos quatro anos, ainda tem um endividamento muito grande, com um total de 200 milhões de reais, e um faturamento baixo em relação a outros clubes do país. O faturamento projetado para 2018 é de R$ 100 milhões e a despesa é de R$ 115 milhões. Então, esperamos ficar em déficit de 15 milhões para 2018, além da dívida de 200 milhões. Claro que a gente tem o dever de casa de reduzir despesas e aumentar receitas. Agora o Bahia adotou um princípio de ter uma responsabilidade financeira muito grande, principalmente no departamento de futebol, que é o grande responsável pelas das despesas do clube. Não fechamos nenhum contrato sem que ele caiba no orçamento. Esse é o motivo para que mesmo tendo uma dívida alta e estando em déficit, ainda consigamos pagar os salários em dia.

Qual o caminho para aumentar o faturamento?

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Temos de ter criatividade muito grande. Não podemos nos prender aos contratos nacionais como cotas de TV e patrocínios. Por isso, estamos fazendo uma reestruturação completa no nosso programa de sócios, já que começamos o ano com apenas dez mil sócios ativos. Isso está muito aquém do que é possível, então estamos reestruturando o sócio-torcedor e também a bilheteria, no contrato com o consórcio que administra a Fonte Nova, que vence em abril e estamos rediscutindo. E também os royalties, de vendas de camisetas e produtos, estamos com um programas para potencializá-los. Temos também as vendas, como as do Jean e do Juninho Capixaba. Apesar deste déficit de 15 milhões, estou animado com a oportunidade de virada econômica do clube.

Quais são os principais pontos dessa renegociação de contrato com a Fonte Nova?

Temos algumas questões. Apesar de termos sido a quarta melhor média de público do Campeonato Brasileiro, achamos que o estádio é muito grande e tem sido subaproveitado. Ele tem capacidade para 43 mil pessoas e a média de público é de 18 mil. Você pode questionar: mas não é assim no Brasil inteiro? Em geral é, mas não é por isso que temos que nos acostumar. Porque, se temos tantas pessoas que se interessam por futebol, temos que trazer essas pessoas para dentro do estádio. Clima, ambiente, preço do ingresso e até da cerveja influencia. A precificação é uma coisa que a gente vai mexer, mudar modelos. A Arena tem coparticipação no nosso programa de sócios e acabamos dividindo com ela as duas coisas, o preço dos ingressos e o sócio-torcedor, então iremos propor uma reestruturação neste processo. Outra coisa importante é acabar com o número de cortesias, de pessoas que entram sem pagar. No ano passado, 16% das pessoas dos jogos do Bahia não pagaram ingressos. É um dado alarmante. Eu propus que a gente atinja o grau de 0 gratuidade. Se a pessoa não estiver trabalhando no jogo, tem que pagar ingresso. Se o Bahia ou a Arena quiserem dar um ingresso a um patrocinador, têm que comprar esse ingresso. Nisso, temos um aumento de 20 a 30% na arrecadação do contrato.

Você consideram utilizar o estádio de Pituaçu?

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Até consideramos, não descartamos essa hipótese. Mas só vale a pena levar jogos para Pituaçu que poderiam representar prejuízo na Arena, em que o custo da Fonte Nova seja maior que a arrecadação. Portanto, considero levar poucos jogos para lá.

Como será a nova precificação dos ingressos?

A gente tem uma segmentação muito grande no estádio. Ainda estamos no sistema operacional da Copa do Mundo e isso em comparação com a antiga Fonte Nova é muito grande. Nossa ideia é mudar a setorização, abrir mais esse estádio em diferentes locais, primeiro pela questão do incômodo. Temos sete ou oito divisões dentro do estádio que dificultam e encarecem a operação, com um serviço totalmente segmentado, o que eleva muito o custo.

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O preço do ingresso vai ficar mais barato?

Não necessariamente mais barato. Pode ficar mais barato em um setor ou mais em outro. A gente tem que ver o preço ótimo, ou seja, qual é o mais acessível que garanta que aquela cadeira estará ocupada, além da compra antecipada. Essas são as questões: qual o nível de desconto que a gente pode dar para garantir o ingresso? Isso não é garantido pela cabeça das pessoas. Quais os estudos de precificação? Qual o público que queremos? Qual a renda média naquele setor? Por outro lado, a gente tem que trabalhar com o espaço, assim como as companhias aéreas. Se voar com a cadeira vazia, elas nunca mais recuperam aquele dinheiro. Por isso, tem o preço de acordo com a necessidade do cliente, com um sistema de que quem compra cedo paga mais barato, e se deixar para comprar em cima da hora, mais caro. Então, a nossa filosofia é: aqueles que comprarem de forma planejada o ano inteiro serão privilegiados, e aqueles que não comprarem terão um preço que não valerá a pena. Assim, ficaremos com uma média melhor do que a que temos hoje.

Vocês vão tentar adaptar o conceito de ingressos para a temporada que existe fora do Brasil?

Sim. Muita gente diz que no Brasil não tem cultura para ingresso de temporada. Na minha visão, o que existe é um mau planejamento do preço e da forma de abordagem. Quando o torcedor perceber que comprar antes é melhor que na véspera, vai preferir comprar antes. Fizemos um estudo que cerca de 15 mil pessoas veem um jogo e meio por mês. No programa que vamos lançar, vai ser muito mais vantagem ir a todos os jogos do mês do que em jogos isolados.

Nesse programa de sócios, o que mais será oferecido?

Nosso programa atual não oferece nenhuma vantagem aos sócios, quem se associa hoje é meramente para ajuda o clube. Isso tem um teto, o torcedor além de ajudar o clube quer vantagens e é com essa parcela que a gente começa a mexer agora. Pensamos em dar esse salto oferecendo vantagens dentro do estádios, clube de vantagens com os parceiros, que atualmente são poucos. Não posso citar tudo ainda porque estamos negociando e não está resolvido.

Você pretende renegociar os contratos de televisão e patrocínio?

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Não, a gente tem um contrato com o Esporte Interativo e temos que negociar a TV aberta agora. Estamos discutindo com o Esporte Interativo para fechar as duas coisas, TV aberta e fechada. Vamos conversar também com a Globo para ver qual a melhor opção para o clube. Faremos algumas rodadas de conversas até o fim de fevereiro.

Esporte Interativo vai negociar TV aberta também?

No contrato deles para TV fechada, é obrigatório atingir um valor que tínhamos no contrato anterior com a Globo, então não podemos ter perdas em relação a ele. Se não fecharmos com a Globo, eles tem que pagar o que Globo pagava antes.

Você pretende mudar a relação com a torcida? As organizadas consideravam que Marcelo Sant'Ana as marginalizava.

São duas perguntas em uma. Uma coisa é o relacionamento com o torcedor e outra é a relação com as organizadas. Houve afastamento gradativo do torcedor de menor renda do estádio e consequentemente do clube. Hoje o estádio está mais reservado às pessoas que tem um poder aquisitivo maior e isso não é bom para um clube de massa. Essa é uma retomada que precisamos ter, não necessariamente através do programa de sócios, mas também da presença no estádio. Sobre a presença da torcida organizada, eu acho que ela é importante e em muitos jogos se torna determinante. Mas eu sempre digo que é a torcida que tem que sustentar o clube e não o clube que tem que sustentar a torcida. Pretendo ter a melhor relação institucional possível.

Em relação ao time, os reforços chegaram de acordo com indicações do Guto Ferreira?

Não, não! Não há indicação do treinador para pautar os reforços. Ele seleciona, mas quem escolhe é uma comissão de futebol, que o Guto integra junto com o diretor, o departamento de análise de desempenho, o presidente e o vice-presidente. Conjuntamente, determinamos o sim ou o não na hora da contratação e também estratégias para negociar. A decisão não é meramente de A ou B.

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Como está estruturado o setor de análise de desempenho?

A gente tem na análise de desempenho o grande trunfo, na nossa opinião. Somos um clube com força econômica menor do que os adversários que vamos enfrentar, então temos que errar menos. Por isso, damos muita força ao setor de análise de desempenho. Tínhamos quatro pessoas e agora chegou a quinta, o Ari, que tem muita experiência e estava trabalhando no Japão. Ele aumenta a tecnologia e também o capacidade operacional do setor. É uma parte fundamental nas contratações e não tem nenhuma que não tenha o aval do setor. Durante o ano, serve para análise de jogo, lacuna do nosso time, o adversário, uma série de coisas. O fortalecimento do setor de análise de desempenho é muito importante.

O perfil dos reforços é sempre definido com antecedência?

Sim, totalmente. A gente faz uma análise de custo, estamos abertos a tal perfil e vemos todos que tem à disposição. O Bahia não funciona como uma prateleira de jogadores oferecidos e a gente sai na escolha, pelo contrário. A gente define o perfil que queremos e vamos buscar os atletas que tem disponíveis no mercado ou mesmo aqueles que não tem disponibilidade. Vamos analisar o contrato, conversar com o clube que ele faz parte e a partir daí avalizar a contratação. Mas a lógica é definir o perfil e depois sair atrás.

Você não tem mais diretores, e sim gerentes. Por quê?

Foi uma mudança que a gente entendeu primeiramente como conceitual. Depois disso, diretores tem um custo alto. Tenho experiência empresarial de 20 anos e vi a oportunidade de concentrar em mim e direto com os gerentes as principais decisões. Tenho experiência em marketing e peço que os gerentes contatem direto a mim ou o vice-presidente. A gente vai conseguir enxugar custos e dar a esses setores a qualidade que eles merecem, de maneira mais institucionalizada.

O que será aproveitado da gestão do Marcelo Sant'Ana?

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Muita coisa. Acho que o clube vem numa crescente administrativa e a gente vai aproveitar essa crescente. Seguimos com responsabilidade administrativa, seriedade nos contratos e cumprindo as obrigações, esse é o grande proveito. E é claro, quando uma nova gestão chega, queremos colocar coisas novas também, com uma outra visão de administração, para não apenas repetir a fase anterior. Por isso, estou dando exemplos da área de marketing, a própria divisão de base, são duas coisas que estamos mudando bastante.

Quais são as mudanças nas categorias de base?

Acho que talvez seja a maior mudança que a gente tem feito. Queremos outros modelo de divisões de base, um modelo mais audacioso. Um clube que tem a dificuldade econômica que a gente tem precisa apostar nas divisões de base como uma saída econômica a médio prazo, então faremos isso de forma intensa.

Quais são as metas dentro de campo?

A gente não faz isso. O que queremos é que o Bahia vá gradativamente melhorando e de resultados em campo, mas não colocamos meta de título nem de colocação. Queremos um time melhor que o do ano passado e uma melhor colocação no Brasileiro que a do ano passado. Temos metas internas, mas não faz sentido torná-las públicas, porque o futebol não é matemática, que a gente possa prever isso. Queremos um crescimento absoluta da equipe dentro e fora de campo, com melhoria das contas e alavancagem de receitas.

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