Aleksander Ceferin, presidente da Uefa, critica a pressa da Fifa em adotar o árbitro de vídeo e insiste que na Liga dos Campeões, organizada pela entidade, não há qualquer tipo de plano para embarcar por esse caminho.
“Nós não vamos adotar por enquanto”, disse o cartola ao Estado. “Não está certa a maneira que está sendo realizada. Isso não pode ser algo imposto de forma tão acelerada”, insistiu o esloveno, que também acumula o cargo de vice-presidente da Fifa e comanda o torneio de clubes com a maior audiência do mundo.
Apesar de dois anos de provas e testes, inclusive pela Europa, Ceferin acredita que é ainda prematuro e arriscado adotar a tecnologia já na Copa do Mundo de 2018. “Precisávamos de mais uns dois ou três anos de testes para saber exatamente qual é o impacto. Não estava na hora”, afirmou. “Até mesmo os árbitros estão vindo até nós para alertar sobre os problemas. Não é algo tão fácil e óbvio”, alertou o dirigente da confederação mais rica do mundo.
Na avaliação da Uefa, ainda existe confusão sobre os procedimentos, sobre o que fazer quando existem dúvidas e mesmo sobre o impacto no jogo.
No início de março, a International Board (Ifab) – entidade que serve de guardiã das regras do futebol – realizará uma reunião na Fifa e irá declarar que o período de testes com a tecnologia funcionou. O anúncio permitirá que, pela primeira vez, uma Copa do Mundo seja equipada com o vídeo. “Eles (Fifa) irão adiante com o plano, não há dúvida sobre isso”, disse Ceferin.
No total, 25 competições em 15 países diferentes estavam participando da fase de testes, entre eles a CBF, no Brasil. O cartola europeu se surpreendeu diante da decisão dos clubes brasileiros de interromper o uso da tecnologia para 2018. Mas insistiu que isso não fará diferença para os planos da Fifa.
O Brasil foi o primeiro caso de um país que fazia parte do grupo de campeonatos que testavam o sistema a optar por abandonar a tecnologia, antes mesmo de sua aprovação oficial. Os 20 clubes da Série A do Campeonato Brasileiro decidiram que, por conta dos custos, não haverá árbitro de vídeo no torneio deste ano. O sistema custaria R$ 20 milhões e, para a CBF, caberia aos clubes bancar o investimento. Doze deles votaram contra, com uma abstenção e sete a favor.
No caso da Fifa, a introdução da tecnologia tem ainda uma outra dimensão: a financeira. A entidade espera que possa, já para a Copa da Rússia, obter patrocínios específicos para bancar a tecnologia.
A entidade, assim, quer abrir um novo capítulo, mudando de tradicionais patrocínios de multinacionais para atrair as empresas de high-tech do Vale do Silício nos Estados Unidos ou na China. Para isso, porém, precisa apresentar um esporte que tenha componentes tecnológicos e uma interatividade maior com a audiência.
Com seus cofres com dificuldades diante da crise de corrupção nos últimos três anos, a Fifa tem tido problemas para convencer tradicionais marcas a fechar acordos com a entidade, marcada por escândalos. A introdução da tecnologia, portanto, pode ajudar a reverter as contas.