Presidido por uma mulher, Tupi chega à Série B do Brasileiro

Myrian Fortuna comanda o clube desde 2013

PUBLICIDADE

Por Paulo Favero
Atualização:

Entre todos os times do Campeonato Brasileiro, levando-se em conta as séries A, B, C e D, o único presidido por uma mulher é o Tupi, de Juiz de Fora. Myrian Fortuna comanda o clube de Minas Gerais desde 2013 e conseguiu neste ano o acesso inédito à Série B. “Ser presidente nunca tinha passado pela minha cabeça. Sempre estive envolvida, torcia, mas não pensava nisso’’, revela. Só que a formação dela como advogada, empresária, pedagoga e até nutricionista não foi suficiente para romper o preconceito em um meio tão machista. “Sinto dificuldade por ser mulher. A postura masculina impõe facilidades, ouvi isso de uma pessoa quando fui atrás de patrocínio. Falaram que homem entende mais, pois entra no campo e no vestiário, domina o jogador. Diziam: ‘Como uma mulher vai conversar com jogador?’. Isso eu ouvi muito.” Só que ela não recuou. Ao contrário, insistiu e agora colhe os frutos do sucesso. “Achava um pouco loucura, mas os conselheiros acreditaram na minha capacidade. Foi isso que me levou a acreditar que vamos conseguir ter uma boa administração com a diretoria e as pessoas que estão ao meu lado’’, diz.

Myrian sonha com o Tupi na elite nacional Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Myrian sempre gostou do futebol. Sua família tinha presença marcante no Tupi, o avô foi presidente do clube na década de 1950 e 60, então ela cresceu nesse meio. “Meu irmão também já foi presidente do Tupi, então nossa história é muito ligada ao futebol’’, conta.RENOVAÇÃO No clube, ela começou como nutricionista. “Eu abri mão de tudo quando fui trabalhar no Tupi. Deixei de fazer coisas que exercia para renovar muita coisa dentro do clube. Muita gente achava loucura isso, mas eu achava natural me dedicar ao máximo. Assumo uma coisa, quero que ela flua bem. Sei que também muitos acham loucura uma mulher estar no meio do futebol’’, afirma. Myrian relata que já passou por situações constrangedoras. “Tem dez anos que estou nisso e acredito que é um meio machista. Já sofri muito preconceito. Muita gente falava: ‘o que uma mulher está fazendo aqui dentro’. Mas nunca me importei com isso. Sempre fiz meu trabalho. Nunca fui desrespeitada por ninguém, muito menos jogadores, comissão técnica ou dirigentes.’’ Além de quebrar paradigmas, ela passou a exercer uma curiosidade por onda passava, só pelo fato de ser uma presidente mulher. Quando o Tupi foi enfrentar o Alecrim em Natal, no início do ano, pela Copa do Brasil, ela chamou muita atenção dos dirigentes locais. “A diretoria do clube me chamou, tirou fotos, e disse que no Nordeste isso era raro. Aí alguém lembrou que em um clube amador lá perto tinha uma mulher presidente, a Jurema, e me encontrei com ela.’’ Agora ela já pensa na próxima temporada, quando tentará levar o Tupi à elite do futebol brasileiro. A tarefa não será fácil, mas Myrian já se acostumou a lidar com as dificuldades. Tanto que fala com bom humor do empresário que não quis patrocinar o clube porque tinha uma mulher no comando. “Me falaram que o time iria cair. Hoje me olham com outros olhos.’’

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.