Pressão sobre Blatter aumenta por escândalo de corrupção na Fifa

Políticos e grandes patrocinadores fizeram alertas à federação

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Por MIKE COLLETT E BRIAN HOMEWOOD
Atualização:

A pressão sobre o presidente da Fifa, Joseph Blatter, cresceu nesta quinta-feira com o aprofundamento do escândalo de corrupção na entidade máxima do futebol mundial, à medida que aumentaram as críticas de importantes políticos ocidentais e grandes patrocinadores fizeram alertas à federação.

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Apesar das declarações da Fifa de que a prisão de sete importantes dirigentes por acusações de corrupção feitas nos Estados Unidos não afeta suas atividades, Blatter não foi visto nesta quinta-feira e não compareceu ao congresso médico da entidade.

O suíço de 79 anos, que raramente perde um evento relacionado à Fifa e, geralmente, faz uma parada para falar com a imprensa, também foi uma ausência notável na quarta-feira, quando não participou de uma reunião de delegados de futebol de países africanos, reunidos em Zurique antes do Congresso da entidade, marcado para sexta-feira.

O diretor médico da Fifa, Michel D'Hooghe, da Bélgica, disse às autoridades médicas: "O presidente Blatter pede desculpas por não poder vir hoje (quinta-feira) por causa das turbulências de que vocês já ouviram falar".

Mas Blatter participou de uma reunião fechada com representantes das seis confederações continentais da Fifa nesta quinta para "discutir a atual situação", de acordo com um representante da Fifa.

Essas "turbulências" incluem uma investida de policiais à paisana no início da manhã de quarta-feira em um dos hotéis mais luxuosos de Zurique, com a prisão de sete das figuras mais poderosas no futebol mundial, incluindo o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol José Maria Marin, e sob o risco de extradição para os Estados Unidos por acusações de corrupção.

As autoridades suíças também anunciaram uma investigação criminal sobre a atribuição das próximas duas Copas do Mundo, marcadas para a Rússia em 2018 e o Catar em 2022.

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Autoridades dos EUA disseram que nove dirigentes do futebol e cinco executivos de marketing e mídia esportiva estão sendo acusados de corrupção envolvendo mais de US$ 150 milhões em subornos.

Essas ações provocaram a crise mais grave nos 111 anos de história da Fifa, com confederações agora aparentemente em guerra aberta umas com as outras, apenas um dia antes de Blatter concorrer à reeleição como presidente da Fifa para um quinto mandato, na sexta-feira.

Blatter, que nega as acusações de envolvimento em corrupção na Fifa, disse em um comunicado na quarta-feira: "Deixe-me ser claro: tal conduta não tem lugar no futebol e vamos garantir que aqueles que se envolvem nisso fiquem fora do jogo."

DIVISÃO NO MUNDO DO FUTEBOL

O caso abriu uma fissura no mundo do futebol. A Uefa, a confederação europeia de futebol, pediu o adiamento do Congresso da Fifa e da eleição do presidente, em meio a sugestões de que poderia boicotar o evento, mas a AFC, a confederação asiática, apoiou Blatter e disse que a eleição tem de seguir em frente.

O secretário britânico de Relações Exteriores, Philip Hammond, disse haver "algo profundamente errado no centro da Fifa", enquanto o secretário de Esportes, John Whittingdale, declarou que "uma mudança na liderança da Fifa é muito necessária".

A Grã-Bretanha há muito tempo critica a Fifa e foi derrotada em sua campanha para sediar a Copa do Mundo de 2018, concedida à Rússia.

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A promotoria suíça também abriu um inquérito criminal para apurar as acusações de má gestão e lavagem de dinheiro relacionadas com a atribuição do direito de sediar o torneio de 2018 e o evento 2022 ao Catar.

Blatter, no entanto, tem o aval do presidente russo, Vladimir Putin, que acusou os Estados Unidos de ingerência em área fora de sua jurisdição ao pedirem a prisão dos dirigentes da Fifa.

"Esta é mais uma flagrante tentativa de estender a sua competência a outros Estados", disse Putin, acrescentando que as prisões foram uma "clara tentativa" de evitar a reeleição de Blatter, e que ele tem o apoio da Rússia.

Enquanto isso, os principais patrocinadores da Fifa, incluindo muitos que têm apoiado solidamente a entidade apesar de quase 20 anos de alegações de suborno e corrupção, parecem estar inesperadamente preocupados com o desenrolar dos acontecimentos em Zurique.

Em um comunicado contundente, algo raro para a empresa, a Visa afirmou: "É importante que a Fifa faça mudanças agora, para que o foco permaneça sobre essas mudanças. Se a Fifa não fizer isso, nós informamos que vamos reavaliar nosso patrocínio."

A empresa alemã de artigos esportivos Adidas assinalou que a Fifa deveria fazer mais para estabelecer padrões de conformidade transparentes. A Anheuser-Busch InBev, cuja marca Budweiser é patrocinadora da Copa do Mundo de 2018, informou que está monitorando de perto os desdobramentos na Fifa.

A Coca-Cola Co, outra patrocinadora da Fifa, disse que as acusações tinham "manchado a missão e os ideais da Copa do Mundo da Fifa e temos repetidamente expressado nossas preocupações sobre essas graves alegações".

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No Rio de Janeiro, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) retirou o nome "José Maria Marin" da fachada de sua sede na zona oeste da cidade um dia após a prisão do ex-presidente da entidade na Suíça.