EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

(Viramundo) Esportes daqui e dali

Queixa contra Bispo

Na confusão do Ba-Vi, sobrou o papel de canastrão para o jovem jogador rubro-negro

PUBLICIDADE

Por Antero Greco
Atualização:

Vitória e Bahia fizeram papelão no popular clássico baiano disputado no domingo, no Barradão. Era para ser mais um “jogo da paz”, que, como tantos nessa mesma condição, ficou só na conversa fiada. Não sei se você acompanhou, mas sobraram sopapos e expulsões, a ponto de a partida ter sido encerrada por falta de quórum, antes do tempo regulamentar, quando o placar apontava 1 a 1. A confusão começou depois do gol do Bahia, comemorado pelo autor (Vinícius) com movimentos de “créu”, que é uma dança, um ritmo, uma música, ou seja lá o que for. São gestos meio grosseiros, que têm lá seus fãs e passariam batidos em outros tempos. Porém, como vivemos época em que tudo é motivo para explosões de ira, a farra do moço desencadeou represália de jogadores do Vitória, que viram ali desrespeito com as cores do clube, ultraje ao público, infâmia contra a instituição, e partiram pra briga.  Foi um festival de ignorância, com agarrões, empurrões, socos, investidas à traição. Um Deus nos acuda, uma balbúrdia dentro e fora de campo. Na trégua, o juiz colocou pra fora um punhado de atletas de cada lado – três do Vitória, dois do Bahia, incluído Vinícius, que apanhou e foi expulso.  Pouco depois, porfia reiniciada, Jaílson Freitas mostrou vermelho para Uillian Correia. Com isso, o Vitória ficou com 7 pra aguentar o tranco até o final. Então, veio o momento culminante e motivo desta crônica: ali adiante, numa falta para o Bahia no ataque, tem reclamação deste ou daquele, fora conversa de pé de ouvido entre o técnico Vagner Mancini e Ramon à beira do gramado.  De repente, sem mais nem menos, Bruno Bispo, zagueiro em início de carreira, se aproxima do local onde está a bola e ameaça tocar nela. O árbitro fez gesto de afastar o rapaz, que ainda assim dá um chutinho, para provocar, como se estivesse de birra. Infantil. Um jogador do Vitória se aproxima de sua senhoria e parece pedir punição ao companheiro. Que vem. Ao ver o vermelho, Bruno, todo sem graça, se afasta em direção ao vestiário, enquanto os restantes rubro-negros igualmente vão embora, conformados, sem sequer esboço de revolta por decisão que, em tese, prejudicaria o time.  Estranho, não acha? Na hora em que devia ferver o sangue... esfriou.  Pois Bruno Bispo representou papel, que deveria ser o de vilão, mas não passou o de canastrão de péssima qualidade. E, aparentemente, sem vontade própria. Basta ver imagens, para notar que participou da pantomima a contragosto, entrou vendido na história. Funcionou como bode expiatório, novato que vai para o sacrifício, e sem discutir, porque não tem cacife para recusar. Não sei se foi Mancini quem deu ordem para Bruno Bispo agir de maneira tão inconsequente. Especialistas em leitura labial consultados por emissoras de televisão detectaram que o treinador havia dito a Ramon para orientar o zagueiro a cometer a indisciplina; Mancini nega de pés juntos – e, desse jeito, transfere iniciativa, e culpa, pro Bispo, que assim, do nada, esculhambou o duelo. Se foi isso, merece punição severa por parte da direção do Vitória. Que, pelo jeito, não fará coisa alguma, o que leva a duas hipóteses: ou concordou com a ação antidesportiva do Bispo ou é relapsa e não preza pela disciplina do elenco. Nas duas alternativas, se comporta mal. Ironia à parte, deu pena de Bruno Bispo, para mim o menos culpado na representação de terceira categoria do fim de semana. Com pouco tempo de estrada, viu-se no centro de episódio feio, a borrifar-lhe de lama; e, pior, sem poder manifestar-se. Ele é a parte frágil e precisa ser preservado; caso contrário, veremos agravado assédio moral. Um dia a verdade toda virá à tona.  Cá entre nós: hoje em dia nem na várzea tem lugar pra um mico desses.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.