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Raymond Whelan pretendia assistir à final da Copa do Mundo

Foram encontradas entradas para a decisão em nome do CEO da Match no apartamento onde ele estava hospedado no Rio

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Por Tiago Rogero e Jamil Chade
Atualização:

Mesmo após ser preso pela primeira vez, o CEO da Match, Raymond Whelan, pretendia assistir à final da Copa do Mundo no Maracanã - provavelmente de camarote (alto executivo que é da empresa que negocia as entradas VIP), mas, no mínimo, de arquibancada mesmo. No quarto do CEO, no Copacabana Palace, policiais encontraram dois ingressos em seu nome para a decisão, na quinta-feira da semana passada. Whelan passou quatro dias foragido, não foi visto no Maracanã e se entregou na última segunda-feira, um dia após a final. "Ray Whelan, Fifa", lê-se nas entradas, ambas de categoria 2, assentos 10 e 11 da fileira FF, bloco 235 (atrás do gol), cada uma no valor de R$ 1,32 mil. No quarto do Copacabana Palace, deixado às pressas por Whelan (TV e ar condicionado ligados, malas abertas no chão), os policiais da 18ª DP (Praça da Bandeira) encontraram também ingressos em nome da esposa de Whelan, Ivy Byrom, e de seus filhos, Paul e Hellen; também dois por nome.

Raymond Whelan é acusado de liderar a quadrilha que fazia venda de ingressos da Copa do Mundo de forma ilegal Foto: Tasso Marcelo/AFP

Todos, como Ray Whelan, são funcionários da Match. Mas nos ingressos consta que são da "Fifa". Desde a eclosão do escândalo da máfia dos ingressos, Fifa e Match têm insistido em desassociar seus nomes e esclarecer que tratam-se de entidades diferentes. Mas, como mostrou o Estado esta semana, executivos da Match fecharam negócios milionários nos últimos anos, no Brasil, apresentando-se como representantes da Fifa. Os irmãos Enrique e Jaime Byrom controlam a Match - irmã deles, Ivy é diretora. Oficialmente, a empresa é apenas "sócia" da Fifa na venda de entradas. Mas um cartão de visitas dado por Enrique à reportagem do Estado traz somente o símbolo da Fifa e, em nenhum momento, o nome da Match. Dos 84 ingressos encontrados no quarto de Raymond Whelan, sete estavam em nome de seu filho, Paul, e onze em nome de seu sobrinho Harry Byrom, filho de Enrique. Ambos trabalham na Match. Em 28/06, um sábado, Paul e Harry tinham, cada um, entradas para jogos em cidades diferentes que aconteciam praticamente ao mesmo tempo: as oitavas de final Brasil x Chile, no Mineirão, às 13h, e Uruguai x Colômbia, no Maracanã, às 17h. A primeira partida, decidida nos pênaltis, terminou uma hora antes da segunda - a distância entre os dois estádios é de 446km. Na sexta-feira, um dia após Whelan ter nova prisão decretada pela Justiça, o GAP (Grupo de Apoio aos Promotores), do Ministério Público, esteve no apartamento de Paul, na Barra da Tijuca. Segundo o promotor Marcos Kac, o local dava a impressão de ter sido revirado pouco antes. Nada de muito significativo foi apreendido: tíquetes de acomodação, réplicas de 'tacinhas' da Copa do Mundo e dinheiro. O MP suspeita que o apartamento possa ter funcionado como uma base avançada da central ilegal de venda de ingressos que operava no Copacabana Palace, onde esteve reunida a cúpula da Fifa durante o Mundial . Explicações. Em nota, a Match explicou que o "regulamento da Fifa" permite a compra de até dois ingressos para a final, e que "quando o requerente principal não tem certeza de seu convidado, o nome dele é impresso nos bilhetes". Segundo a empresa, a quantidade de ingressos impressos para a família de Whelan também é "usual". "Ivy Byrom, Ray Whelan, Paul Whelan e Helen Whelan trabalharam para a Match e todos fizeram solicitações de ingressos", informou a companhia. Sobre a descrição "Fifa" nos ingressos de todos, a Match informou que "os bilhetes foram vendidos seguindo as regras que regem a venda de ingressos para a comunidade do futebol e todos os ingressos foram fornecidos a partir da FIFA Football Community Tickets". 

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