'Rogério Ceni terá patamares de performance', revela Leco

Presidente do São Paulo confirma que remuneração fixa é significativamente menor do que do mercado

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A confiança de Rogério Ceni convenceu o presidente do São Paulo, Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, de que era o momento certo para contratá-lo. O risco, admite o dirigente, é enorme. Prova disso é que o ídolo receberá muito menos do que é pago atualmente no mercado. Em entrevista ao Estado, ele revelou que o ex-goleiro terá de conquistar resultados e títulos para se aproximar da remuneração dos treinadores de outras equipes.

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Em qual momento, o senhor decidiu pela contratação do Rogério Ceni?

A decisão foi construída em uma série de reflexões e observações em conversas que tive com algumas pessoas, com ele próprio em duas situações em que nos encontramos, sem nada programado ou definido para este fim. Concluímos que ele, o próprio Rogério afirma isso com toda segurança e veemência, estava pronto para o desafio no São Paulo, uma equipe que ele ama e conhece profundamente. Isso nos convenceu.

Era necessário uma figura da importância do Rogério Ceni para ter uma virada após um ano tão ruim?

Não é questão de virada. O São Paulo concluiu pela contratação de um novo técnico e viu nele todos os requisitos para isso. Somamos ainda que ele é são-paulino, vitorioso, obstinado, conhece profundamente a instituição e não teve nenhuma dúvida em assumir o risco que isso possa representar. O que sabemos que existe em qualquer tipo de contratação. No caso dele, há uma expectativa maior, em razão da figura dele, da pessoa dele, mas, seguramente, ele tem atributos que conhecemos imensamente, capazes de dar tranquilidade ao São Paulo para contratá-lo e de que vai dar resultado.

  Foto: FELIPE RAU | ESTADÃO CONTEÚDO

O Rogério Ceni fez alguma exigência no contrato?

Ele quis que o contrato fosse determinado. Diferentemente dos últimos acordos que fizermos, ele quis que tivesse multa. Essa multa é recíproca. Caso contrário o contrato não seria legítimo. Ele estabeleceu conosco patamares de performance. A remuneração dele é significativamente menor do que do mercado e, conforme os patamares forem sendo alcançados, ele terá um ganho, ainda assim inferior aos grandes nomes. Ele terá ainda premiações expressivas em caso de conquistas de título. Também vai ganhar por porcentagem de resultados, algo que é muito fácil de mensurar. Será reconhecido e recompensado quando conquistar bons resultados.

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O senhor vê o Rogério Ceni menos ou mais pressionado?

Inicialmente ele estará menos pressionado porque há uma expectativa positiva, favorável. Mas existe o risco de, não conquistando bons resultados, ele causa descontentamento, descrédito... O que é um fenômeno absolutamente natural. A torcida me aplaudiu quando o time chegou à semifinal da Libertadores e, quando estivermos, assim, próximos da zona de rebaixamento, pois nunca entramos na zona de rebaixamento, os torcedores criaram instrumentos de pressão, alguns deles até condenáveis. Mas isso faz parte da dinâmica do futebol.

Como o senhor acredita que será o São Paulo do Rogério Ceni em campo?

Um São Paulo intenso, que exercerá uma marcação alta, que buscará resultados, com características ofensivas. Para isso não basta uma formulação que eu imagino que ele já tem na cabeça porque foi estudar, se aconselhar, aprender com muita gente credenciada no mundo do futebol. Precisamos ter um elenco que possa corresponder e isso está sendo objeto de planejamento.

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O Rogério Ceni pediu quantos reforços?

Ele foi até um pouco modesto. Em vez de fazer grandes exigências, exigir nomes importantes como outros treinadores costumam fazer, ele está privilegiando o que temos de melhor no nosso futebol de base. Ele está observando muito, está em um contato muito grande, já tem alguns nomes da base que ele vai trazer para o profissional, que vai levar para o período de pré-temporada nos EUA e utilizar no Campeonato Paulista para desenvolver. Claro que, além disso, precisamos de alguns protagonistas. Não ignoramos isso nem ele. 

O São Paulo terá dinheiro para investir nesses reforços? Os nomes são do nível do Felipe Melo, que inclusive disse recentemente ter carinho pelo São Paulo...

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Felipe Melo disse isso?

Sim, disse. São jogadores deste porte que o senhor quer?

Sim, sim... 

A torcida pode esperar quantos reforços? Quatro, cinco?

Quarto, cinco, não. Acho que dois ou três são suficientes para compor o grupo e essa equipe. Tudo isso, segundo análises que estamos fazendo em conjunto.

Rogério Ceni, técnico do São Paulo Foto: Igor Amorim / saopaulofc.net

O senhor se sentiu frustrado pelo desempenho do São Paulo e, por isso, optou pela demissão do Ricardo Gomes?

Digo que me senti frustrado na medida que poderíamos ter conquistado mais, mas isso não dependia do empenho, da qualidade, da capacidade do Ricardo, que são indiscutíveis. Mas o futebol tem uma dinâmica que depende de resultados, isso em todos os níveis, especialmente quando se fala da figura do técnico. O ser humano sempre precisa ter um culpado, o bode expiatório. A torcida naturalmente focaliza sua frustração em um determinado jogador, ou determinados jogadores, e conhecemos esta história aqui recentemente no São Paulo. Assim funciona também com o técnico. As pessoas acabam tendo ideias, ideias que acabam convergindo para isso. É desaconselhável você lutar contra uma situação anímica, negativa. Você precisa lutar para uma perspectiva melhor. Isso foi conversado entre nós e com o próprio Ricardo, que é uma pessoa elevada em termos de compreensão, de entendimento, de educação... Ele entendeu. Foi uma forma de preservação. Insistir seria muito arriscado. E tendo um nome que está ansioso para dirigir o São Paulo, como é o caso do Rogério, não foi uma decisão difícil.

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Os comentários entre os dirigentes de oposição é de que foi uma decisão política, que, ao demitir o Ricardo e contratar o Rogério, o senhor garantiu sua vitória na eleição de março...

Comentários iriam existir sobre qualquer decisão. Infelizmente há, principalmente quando a intenção tem um tempero maldoso e a maldade é inesgotável. As pessoas parecem não ter outra coisa a pensar em se tratando de São Paulo a não ser em desestabilizar uma gestão que está sendo inconveniente porque é correta, porque está pondo o São Paulo novamente no seu caminho de retidão, de correção de conduta, de atitude... O futebol é um componente fundamental nesta história toda. Ele, claro, se vincula de alguma forma ao que é uma administração mas não total e necessariamente. Este ano chegamos à semifinal da Libertadores. Éramos o time mais desacreditados entre os brasileiros que estavam na competição. E fomos eliminados em condições minimamente discutíveis, questionáveis. Chegamos lá, mostramos força, devolvemos ao torcedor o orgulho, a confiança, a vontade de torcer. Falar que isso é eleitoreiro ou não? As pessoas falam qualquer tipo de coisa. Não podemos pautar a nossa conduta e a forma de administrar o São Paulo pelo que um ou outro fala.

Há uma explicação para a queda da equipe no segundo semestre? As saídas de Ganso e Calleri... (Interrompe) Alan Kardec... pesaram bastante no desempenho?

Estamos falando de três grandes jogadores, que fazem falta para qualquer time, mas também a perda da nossa comissão técnica. O nosso treinador, que seduzido pelo convite da seleção do seu país, ainda mais de um povo da intensidade do argentino, era irrecusável. Temos de compreender. Mas claro que isso criou uma ruptura, desorganizou uma estrutura, além disso tivemos a eliminação na Libertadores, há um certo arrefecimento. Tem toda uma transição aí, que cuidamos de vencê-la e conseguimos vencer. Se tudo correr bem vamos terminar com 52 pontos, o que é expressivo. É um conjunto, uma obra muito grande.

O senhor temeu ficar marcado como o presidente do primeiro rebaixamento do São Paulo?

Ouso te dizer que jamais vivi esse sentimento. Embora não fosse irresponsavelmente indiferente, porque concretamente era uma hipótese possível, em nenhum momento eu imaginei que isso fosse acontecer. Ouvi de uma série de pessoas desabafos, colocações, ameaças, não digo ameaças físicas, mas de pessoas falando que eu teria uma mancha com o rebaixamento, mas confesso que nunca imaginei que fosse acontecer. Como não aconteceu. O São Paulo mostrou em Mesquita (na vitória sobre o Fluminense) qual é o seu tamanho. 

O São Paulo não soube lidar com o Michel Bastos?

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Ele passou por episódios específicos. Um gesto entendido pela torcida como desrespeitoso e ofensivo, alguns maus momentos jogando, condição emocional que o fez render menos do que pode. Todo mundo sabe que ele é bom jogador, que sabe jogar. Estado de ânimo ruim, negativo, tudo isso fez parte de um conjunto. Ele não conseguiu reverter isso. Acabou conduzindo não a inviabilidade de ele jogar no São Paulo, mas uma perspectiva de que seja melhor ele não jogar mais no São Paulo. Vai jogar em outro lugar, vai jogar bem e o que temos de fazer é administrar bem esta situação.

Rogério Ceni vai comandar o São Paulo Foto: Igor Amorim / saopaulofc.net

Muitos clubes demonstração interesse. O senhor acredita que poderia conseguir uma boa negociação?

Tomara que sim. 

O que o Santos te ofereceu por ele?

Me reúne com o Modesto (Roma Junior, presidente do Santos), mas não chegamos neste detalhamento de negociação. Falamos de uma forma genérica. 

Ficou frustrado pela postura do Michel Bastos?

Prefiro não comentar. 

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Concorda com os comentários de que o São Paulo tinha um elenco ruim?

Não considero ruim. É um elenco de boa qualidade. Demonstrou na Libertadores o quanto ele pode. Mas o ser humano não produz no mesmo nível sempre. Em alguns momentos, por uma série de circunstâncias, houve uma queda coletiva, mas isso pode ser perfeitamente recuperado agora, com uma equipe um pouco mais forte, com algumas aquisições, teremos um elenco muito qualificado.

Os jogadores da base terão ainda mais espaço em 2017?

É uma política necessária. A realidade econômica não permite que se faça grandes investimentos. Não que não sejam recomendáveis, são impossíveis de se fazer. Temos de agir com serenidade para ajustar as duas coisas. Montar uma boa equipe sem que ela tenha um custo maluco e absurdo. 

O Palmeiras é uma exemplo fora da curva, já que o presidente Paulo Nobre coloca dinheiro do próprio bolso. Não há um Mecenas no São Paulo...

A figura do Mecenas, até o Paulo não gosta, não é exata. O clube é que deve reunir condições para se formar grande e essa é a realidade do São Paulo.

O casamento com os torcedores organizados foi uma ruptura total?

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Ruptura total temos de entender é que não há mais nenhuma relação negocial com torcida organizada. O que não significa que seja uma atitude de enfrentamento ou de resistência. Temos respeito pelo torcedor são-paulino, ele é a essência e a razão da nossa existência. Queremos que ele sempre esteja perto de nós e que faça da sua presença e da proximidade uma coisa importante, positiva. É isso que queremos. 

A decisão do Juvenal Juvêncio de indicar o Carlos Miguel Aidar como candidato em vez do senhor te magoou? O tempo provou que o Juvenal errou naquele momento?

A expressão que você usou vou me a ter a ela. Magoou. Eu tinhaconsciência de que eu estava qualificado e, pela minha história de vida, pela atitude permanentemente comprometida,parceira, leal, que eu devesse ser a pessoa indicada para isso. Não era um novato, caindo do céu. Tinha um histórico imenso de dirigente do São Paulo. Ele fez a escolha. Tenho a leitura da escolha dele. Sei perfeitamente que ela não foi movida por interesses subalternos, escusos, como poderia sugerir a coisa. Mas sim por questões do íntimo dele. Eu fui capaz de superar isso, capaz de engolir um sapo enorme, capaz de me manter aqui, ir embora para casa era uma solução muito fácil mas mortal, e me credenciar para ser presidente do Conselho. Como presidente do Conselho me credenciei para ser presidente da diretoria. Faltava um pouco desse plus, desta pós-graduação, que eu alcancei. São fatos que acontecem. O movimento político aqui é muito maior, mais contundente do que se possa imaginar. Aconteceu daquela forma, mas superei. 

A imagem do São Paulo já está recuperada depois do processo de impeachment do Aidar e do pior momento da história do clube?

O São Paulo estava ferido de morte, estava em frangalhos. O São Paulo estava concreta e moralmente na pior situação de sua história. Com uma gestão serena, séria, bem intencionada, nós recuperamos isso. Hoje temos credibilidade. As nossas contas estão menores. O São Paulo tem condições de honrar seus compromissos de uma maneira natural.

Os comentários negativos da oposição te incomodam?

Leio muito pouco sobre isso, não participo de redes sociais. Recebo algumas informações que já chegam filtradas. Algumas coisas me aborrecem muito menos pelo que elas têm de conteúdo e muito mais pelo que elas representam em termos de deturpação, maldade... Há sempre um interesse. As pessoas são movidas por interesse. Seja pela não participação na gestão, porque é uma gestão que não se identifica pela forma de ser, com a ânsia do poder. O poder é fascinante. Eles só não tem uma ideia do tamanho da encrenca. Me aborrece muito menos do que podem imaginar, porque eu me defendo. Me preocuparia se alguém tivesse alguma coisa para falar da honradez da gestão do São Paulo. Como não tem, pode falar o que quiser, que o time é ruim, que eu sou feio, que isso, que aquilo, não estou minimamente preocupado.

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Qual era o tamanho da encrenca que encontrou ao assumir à presidência?

Muito grande, um quadro muito ruim, uma nuvem negra sobre nós e que conseguimos dissipar e transformar. É uma responsabilidade gigantesca.