Foi como nos velhos tempos, em que ser campeão era uma doce rotina. Jogando um futebol de entrega e velocidade, o São Paulo bateu o Cruzeiro por 2 a 0, chegou aos 42 pontos e agora está a quatro do líder, resultado que põe fogo no Campeonato Brasileiro e aumenta nove jogos a invencibilidade da equipe.
Os dois principais postulantes ao título no momento não chegaram ao confronto nessa condição por acaso. São Paulo e Cruzeiro absorveram melhor que o futebol moderno se ganha com e sem a bola e conseguiram criar um estilo de jogo difícil de ser vencido. O Tricolor muito em conta da inteligência tática de seus homens de frente, que entenderam que só a marcação pode sustentar a formação ofensiva.
Ainda dá para dizer que o Cruzeiro está na frente da briga pelo título. A derrota ontem foi a primeira desde 28 de maio, na oitava rodada e aconteceu diante de um rival de altíssimo nível na casa lotada do adversário. Não é pouca coisa. Mas imaginar o São Paulo chegando forte para roubar a supremacia passa longe de um exagero; nenhum time tem tantos jogadores capazes de resolver um jogo como a equipe, e isso muitas vezes suplanta até mesmo esquemas táticos mais fortes, como é o caso do Cruzeiro.
Mesmo fora de casa, os mineiros não abdicaram de fazer seu jogo e mostraram as credenciais que o colocam como melhor time do Brasil: compactação nas linhas de meio e defesa, marcação pressão intensa e ataque em bloco. Foi assim que o time começou no Morumbi e fez os donos da casa pela primeira vez em muito tempo não conseguirem se impor.
Com Mayke ameaçando avançar nas costas de Kaká e Ganso bem vigiado por Nilton, restava apenas Pato para tentar quebrar o sistema defensivo. Na frente, Éverton Ribeiro vinha como elemento surpresa e triangulava com Marcelo Moreno e Ricardo Goulart; aos poucos, a Raposa envolvia o rival e controlava a partida sem muitos sustos. Uma linda defesa de Rogério Ceni em chute de Goulart impediu a abertura do placar.
Mas a beleza do futebol reside em sua imprevisibilidade, e justamente quando os mineiros pareciam mais próximos de abrir o placar, foi o São Paulo quem foi às redes. Depois de saída de bola errada, Ganso começou a jogada acionando Kardec e terminou recebendo o pênalti, após falta de Dedé, que poderia tranquilamente ter sido expulso – já tinha o amarelo. Rogério cobrou e fez explodir o Morumbi pela primeira vez.
SUPERIOR
O gol acalmou os donos da casa, que voltaram mais soltos para a segunda etapa. É verdade que o Cruzeiro teve chances de chegar ao empate, mas não conseguiu repetir a mesma intensidade na pressão pela bola e foi aceitando a imposição do adversário, que contou com enorme movimentação do quarteto ofensivo.
Mas um time não é feito apenas por estrelas, e os operários Souza, Denilson, Edson Silva e Rafael Toloi foram fundamentais para rechaçar as tentativas do forte adversário marcar.
Era preciso, porém, dar a estocada final, e ela veio com Alan Kardec, que pegou o próprio rebote em defesa de Fábio para encher o pé na pequena área e levar a torcida ao delírio.
Daí por diante o Morumbi se transformou num grande salão de festas e o São Paulo chamou o rival para dançar ao seu ritmo e o colocou na roda, algo raríssimo de se acontecer. O clima de festa só terminou com o apito final e a saudação dos jogadores à torcida.
Ainda faltam quatro pontos, mas há muito campeonato pela frente. O Cruzeiro ainda lidera com alguma folga, mas vê o adversário cada vez mais perto no retrovisor. A emoção voltou.
FICHA TÉCNICA:
SÃO PAULO 2 X 0 CRUZEIRO
SÃO PAULO - Rogério Ceni; Auro, Rafael Toloi, Edson Silva e Alvaro Pereira; Denilson, Souza, Ganso e Kaká; Alexandre Pato (Michel Bastos) e Alan Kardec. Técnico: Muricy Ramalho.
CRUZEIRO - Fábio; Mayke, Dedé (Manoel), Léo e Ceará; Nilton, Lucas Silva (Dagoberto), Everton Ribeiro e Ricardo Goulart (Júlio Baptista); Alisson e Marcelo Moreno. Técnico: Marcelo Oliveira.
GOLS - Rogério Ceni (pênalti), aos 35 minutos do primeiro tempo; Alan Kardec, aos 25 minutos do segundo tempo.
ÁRBITRO - Leandro Pedro Vuaden (Fifa/RS).
CARTÕES AMARELOS - Dedé e Ricardo Goulart (Cruzeiro); Kaká, Alvaro Pereira e Alan Kardec (São Paulo).
RENDA e PÚBLICO - Não disponíveis.
LOCAL - Estádio do Morumbi, em São Paulo (SP).