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(Viramundo) Esportes daqui e dali

Se é para copiar...

Por Antero Greco
Atualização:

Um lazer nacional em alta é brasileiro falar mal do País. Postura cool, chic (vai em francês mesmo) consiste em esculhambar qualquer coisa daqui, não interessa o tema, nem se a crítica tem fundamento. Importa descer a ripa. Esporte, claro, não poderia ficar fora da lista das negações locais. O que se pratica nestas bandas não serve para nada; já o que vem da Europa ou dos EUA... ah, merece aprovação, louvação e admiração.

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O exagero nas comparações entra na conta da falta de discernimento outra atividade bem difundida nesta terra de Santa Cruz. Comportamento reducionista, simplista e raso, marcado por clichês. Obviamente lá e cá há o que elogiar e o que repudiar.

Após o rococó introdutório desta crônica, cabem algumas considerações a respeito do Super Bowl, a finalíssima do campeonato de futebol americano, marcada para hoje e tratada com pompa e circunstância. Passo ao largo de julgar méritos dos postulantes ao troféu, pois essa praia frequento apenas como observador. A missão da análise técnica cabe aos especialistas, e conheço alguns ótimos.

Há aspectos, porém, que chamam a atenção – e destes gostaria de falar. Referem-se à organização, à forma como se vende, se divulga, se explora o maior evento dos gringos. Fascinam o espetáculo, o business (lá vem palavrinha em inglês), a mise en scène (eita!), a mistura de combate e dolce vita (agora, é demais). O duelo não se limita ao gramado e no tempo estabelecido; antes, o jogo parece ser só parte da engrenagem – a motivadora, mas não única.

O Super Bowl é um símbolo dos EUA, ícone de como lidam com esporte e entretenimento. Mostra como tiram o máximo proveito da paixão do público por um monte de marmanjos a trombar e a correr por estranha bola oval, numa coreografia que imita batalha e tem estratégias perfeitas. Mas sobretudo é lição de respeito ao consumidor e prova de profissionalismo. O bolso do cidadão leva mordida, mas recebe produto de qualidade. Não é à toa que o negócio se expande pelo mundo. Os executivos da NFL não brincam em serviço, e botam as mangas de fora.

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A semana da partida de encerramento da temporada tem programação intensa – e dela fazem parte, obrigatoriamente, os artistas do show. Os atletas têm encontros com mídia e público, participam de entrevistas coletivas em bloco, fogem da rotina habitual do binômio campo/bola. Os moços têm consciência do valor do papel deles nessa história. Não ficam confinados, isolados, à espera de irem para a arena. Vivem o fato. O mesmo ocorre na série decisiva do basquete americano.

Todos ganham com a interação – a plateia, os astros, os clubes, os patrocinadores, a mídia, os prestadores de serviços (alimentação, transporte, bugigangas vendidas a rodo). O torcedor sente o ídolo próximo, humanizado, e não uma entidade inatingível, metido numa redoma. Sacia-se a expectativa criada ao longo da competição.

Pois bem, e o que isso tem a ver com a gente? Na prática, nada, mas seria bacana se tivesse. Algumas boas ideias poderiam ser trazidas para o Brasil, com adaptações. Imaginou se houvesse planejamento especial para as finais dos Estaduais, da Copa do Brasil, de uma Supercopa do Brasil (neste ano, o duelo ficaria entre Corinthians e Palmeiras!)?

Seria muito divertido os jogadores se encontrarem num ginásio para entrevistas, com o público a acompanhar. Por que não liberar um ou outro treino para os fãs? E ações de marketing nas comunidades? Promoções para ir ao estádio? O aperfeiçoamento viria com o tempo.

Mudaria o foco do noticiário. Não iria para discussões estéreis sobre quem terá mais ou menos ingressos, nem para ameaças de brigas entre torcidas organizadas, tampouco para os mistérios dos técnicos. Já que a gente gosta de copiar, que pelo menos copiássemos coisas simpáticas.

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Mas o que me intriga, pra valer, no Super Bowl é como a turma arma (e depois desarma) o palco para o show do intervalo. Como pode?!

Já que elogiamos sempre os gringos, por que não tirar boas ideias do Super Bowl?

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