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Sem paixão pela bola

No Brasileirão, quem tem menos posse de bola costuma levar a melhor

Por Mauro Cezar Pereira
Atualização:

O desdém pela bola tem caracterizado o futebol do País, o que se amplifica quando a liderança fica com quem frequentemente tem menos a “pelota”. Dos primeiros 150 jogos do Brasileiro, 37 terminaram empatados, e, nos demais 113, exatos 70 tiveram como vencedores times com menos posse, aponta o Footstats. No 1 a 0 sobre o Fluminense, neste domingo, no Maracanã, o Corinthians chegou a seu oitavo jogo com menor tempo tendo a “redonda’’ nos pés em 16 aparições.

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Em casa os corintianos a tiveram mais do que os oponentes diante de Atlético-PR, Botafogo, Cruzeiro, São Paulo, Santos e Chapecoense. Apenas contra Ponte Preta e Bahia o tempo com a bola foi menor em Itaquera. Fora, só superou os adversários neste quesito ao visitar Coritiba e Avaí. E não venceu. Palmeiras, Grêmio, Vasco e até Vitória e Atlético-GO acumularam mais posse nos confrontos com a equipe de Fábio Carille atuando longe de casa.

A obsessão pelo “balão de couro” virou “febre” quando o Barcelona de Pep Guardiola chegou ao auge, seguindo o raciocínio de Johan Cruyff: “Se você mantém a bola, o adversário não a tem’’. A lógica? Ficando com ela, uma equipe pode construir jogadas, fazer os gols. O adversário não. Mas há times que controlam partidas com postura inversa. Como? Se defendendo bem a ponto de o rival trocar passes estéreis, nada produtivos. E aí, o pouco tempo com a “criança” nos pés pode ser o bastante para vencer.

Há jogos nos quais o Corinthians é assim, como na visita ao Palmeiras. Teve 39% e venceu por 2 a 0 em apenas duas finalizações certas. Em suma, deixou a “maricota” com os rivais, se defendeu de maneira eficaz, não cedeu espaços, e quando no ataque foi cirúrgico. Um time capaz de vencer com ela por mais ou por menos tempo do que o adversário, e que não se constrange quando opta por se fechar, cedendo-a sem traumas.

Mas a grande quantidade de triunfos dos times com menor posse aponta uma tendência no futebol praticado no Brasil, onde os arremessos laterais insistentemente disparados na direção da área inimiga viraram moda. Situação na qual se abre mão do “esférico” para que os times briguem por ela no alto. Quem está no ataque faz isso sonhando com as migalhas, com a sobra da disputa. E as equipes insistem na primitiva jogada, mesmo com risível índice de aproveitamento nesse tipo de lance.

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Times abrem mão da bola por não saberem o que com ela fazer quando a têm por muito tempo. Em tese é mais fácil se entrincheirar, apostar na velocidade e nos espaços que costumam ser generosos contra quem se posiciona no ataque e com mais posse. Há diferentes maneiras de se jogar bola. Mas num país que sempre foi berço, um celeiro de gente talentosa, não deixa de ser estranho tantos times sem apego, sem paixão pela “gorduchinha”.

O PROJETO VERDE - 2 a 0 no time de Luxemburgo

Não encarar o Sport na Ilha do Retiro costuma ser interessante para os visitantes. Na Arena Pernambuco, o campeão brasileiro teve menor posse de bola, finalizou menos, mas mostrou precisão para definir a vitória no primeiro tempo. Rápidas transições deram ao Palmeiras três de seus quatro últimos gols. Foi como Keno decidiu o cotejo.

O SANTOS EM CASA - No Pacaembu, 3 a 0 no Bahia

A maior parte da torcida vive na região metropolitana de São Paulo. Mera questão matemática. A população é mais de dez vezes maior que a da Baixada Santista. Na ensolarada manhã de domingo, 35.769 pessoas foram ao estádio. E, com ingressos acessíveis, o Santos é opção até para quem apenas deseja ver futebol.

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