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(Viramundo) Esportes daqui e dali

Sombra estrangeira

Técnicos brasileiros expõem preconceito com temor de concorrência de colegas de fora

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Por Redação
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Reinaldo Rueda chegou ao Flamengo com pompa e circunstância, animado com a receptividade da torcida e cercado de expectativa. Desembarcou com um título de Libertadores na bagagem e com a missão de recolocar no rumo certo um dos mais importantes times brasileiros. A presença do colombiano, porém, provocou olhares e comentários enviesados de alguns técnicos locais, que consideram desnecessária a presença de estrangeiro para orientar os nossos boleiros. “Há gente de alto nível em casa” é um dos argumentos utilizados para embasar a tese da inutilidade da importação de professor. “As vagas ficarão restritas” também é raciocínio exposto com frequência. “Experiências recentes com gringos no banco não deram certo” igualmente está na ponta da língua dos defensores da reserva de mercado para os profissionais da terra. De fato, há técnicos nativos com capacidade para comandar bem as equipes de peso. Assim como existem muitos meias-bocas, como em qualquer profissão e em qualquer parte do planeta. Existe risco de menos oportunidades de trabalho, mas para os que não atenderem às exigências das agremiações; os bons não ficarão à margem – salvo as infelizes exceções de praxe. E, sim, não foram um sucesso tentativas com Gareca (Palmeiras), Osorio e Bauza (São Paulo), Paulo Bento (Cruzeiro), para ficar em alguns exemplos recentes. Fiascos, como centenas de passagens fugazes e frustrantes de técnicos tupiniquins. Uma rápida olhada para a Série A e as trocas semanais de “chefes” basta para escancarar a realidade que atinge categoria tão instável.  As reações de desconfiança não passam de manifestações de insegurança e medo do desconhecido, com pitadas de clichê e preconceito. O imigrante assusta, aqui, ali, acolá – no mundo todo. Sempre foi assim, sobretudo em épocas de crise econômica. Por egoísmo, o homem teme que será desbancado por um usurpador estrangeiro. Atitude corriqueira, mesmo em países com larga e centenária tradição de acolher gente de outros lugares, como o Brasil. Não deveria ser assim, mas é. A troca de experiências, culturas, formas de encarar a vida, métodos de exercer ofícios só enriquecem para quem está disposto a aprender e a ter mente aberta. Isso tudo vale para o futebol, desde que encarado com naturalidade. Rueda não deve ser visto como um perigo, um mistificador – um enganador, para ficar em palavras simples. Tampouco como superior a seus pares brasileiros, um mestre. Mas como alguém que vem mostrar do que é capaz, que acrescentará com algo que traz de fora e que assimilará conceitos daqui. O intercâmbio natural, sem traumas, como aquele que há muito ocorre dentro de campo. O Brasil desde sempre exporta craques, espalhados pelos mais diversos cantos do mundo, e certamente ajudou a modificar, para melhor, formas de jogar. De uns tempos para cá, por razões de mercado, também importou talentos. Argentinos, uruguaios, colombianos, equatorianos, peruanos são ídolos cá. “Ah, mas para os técnicos há restrições para trabalhar fora”, alega, por exemplo, o jovem e promissor Jair Ventura, do Botafogo. Antes de lamentar, que tente detectar por que isso acontece e como romper fronteiras. Sugerir preconceito com brasileiros soa simplório. Treinadores argentinos, chilenos, uruguaios se dão bem em grandes centros, e não é de hoje. Por que suas concepções táticas são mais bem aceitas? Os técnicos daqui precisam encarar as incursões de colegas de fora como estímulo para se aprimorarem, se fazerem respeitados e desejados. Em vez de ficarem amuados e enciumados, melhor vê-los como companheiros e parceiros e não como concorrentes ou sombras. Dessa forma crescerão, como profissionais da bola e como seres humanos. 

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