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SUCESSO DA COPA É CHANCE PARA FUTEBOL BRASILEIRO ENTRAR NA MODERNIDADE

Enxergar o esporte como entretenimento e investir na formação de atletas são ações apontadas como chave para o Brasil abandonar raízes arcaicas

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Por Fernando Faro
Atualização:

Quando abrir os olhos na segunda-feira e acordar do sonho da Copa do Mundo, o Brasil deverá retornar à realidade de estádios vazios, calendário mal planejado e pobreza tática e técnica. À vista dos pessimistas, trata-se de um caminho sem volta que tem como destino apenas o fundo do poço. Mas o fato é que o futebol nacional tem uma rara chance de abandonar suas raízes arcaicas e definitivamente entrar nos trilhos da modernidade.

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Especialistas em marketing esportivo ouvidos pelo Estado acreditam que a Copa pode ter como benefício principal a reformulação das bases que regem o esporte no país.

A primeira, e possivelmente mais importante, é que o torcedor está disposto a pagar caro por um jogo se tiver como retorno um espetáculo além da partida em si. Isso envolve não apenas grandes jogadores, mas também a experiência do evento. 

“O que leva o público para o estádio é a atratividade da competição como um todo. Precisa melhorar a qualidade do espetáculo”, afirma Pedro Trengrouse, consultor da Organização das Nações Unidas para a Copa do Mundo no Brasil e coordenador do curso de Gestão, Marketing e Direito no Esporte da Fundação Getúlio Vargas.

Portanto, apenas craques em campo não resolvem a equação. O Mundial mostrou que as pessoas estão dispostas a sair de casa se tiver acesso fácil aos estádios, conforto e segurança, pontos sempre apontados como maiores responsáveis pelo esvaziamento dos campeonatos. “Não adianta pensar apenas num estádio moderno”, alerta Amir Somoggi, consultor em marketing esportivo. “Na Copa, o torcedor que foi ao Maracanã teve metrô gratuito e, em Salvador, ônibus partiam em linhas expressas para a Fonte Nova. Dá para fazer algo semelhante no Campeonato Brasileiro.”

Para atingir esse Shangri-lá, no entanto, é preciso aumentar o dinheiro que circula no esporte. Para efeito de comparação, os Estados Unidos movimentam R$ 20 bilhões só em patrocínios esportivos. No Brasil, esse valor foi de R$ 665 milhões.

A má notícia é que o valor do ingresso médio é muito baixo (pouco mais de R$ 31). A boa é que existe um enorme potencial de crescimento, e que vai além do valor da bilheteria. 

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“Existe muito espaço para incrementar as receitas com comida e bebida, por exemplo”, aponta Somoggi, que considera possível o Brasileiro chegar à média de 30 mil pessoas por jogo. No ano passado, os números foram metade disso.

Há, ainda, formas alternativas apontadas pelos especialistas. “Você tem gigantes como a OAS e a Odebrecht que entraram na administração de algumas arenas. Essas empresas, entre outras, têm imensa capacidade de atrair verba de seus fornecedores para o futebol”, sugere Trengrouse.

Fábrica. É consenso que de nada adiantam profundas reformulações estruturais se os principais produtos – os jogadores e os times – não entrarem na conta. O massacre sofrido pelo Brasil na semifinal contra a Alemanha evidenciou a disparidade técnica entre os países e coroou a revolução iniciada pelos germânicos após a queda na Eurocopa de 2000.

Foi depois de ser eliminada na primeira fase que a Federação local exigiu que os clubes investissem nas suas categorias de base para ganharem a licença para disputarem o Campeonato Nacional. “A Alemanha investiu, a CBF ficou parada”, critica Somoggi.

Não existem, porém, indícios de que centros como Cuiabá, Manaus e Brasília terão investimentos para desenvolver suas ligas locais para fazer valer o dinheiro empregado para erguer estádios. “Só tem uma solução, que é trabalhar para o futebol local”, diz Ricardo Araújo, especialista em gestão de arenas esportivas.

A Copa do Mundo, que termina neste domingo, deixa aberta uma porta que pode levar a um enorme crescimento. 

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