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Torcedor do Boca que usou spray de pimenta ajudará em igreja

Adrián Napolitano fará serviços comunitários por 8h por mês durante 3 anos

Por Rodrigo Cavalheiro e correspondente em Buenos Aires
Atualização:

Sites argentinos afeitos a trocadilhos classificam como castigo divino o que os mais críticos consideram um perdão. Adrián Napolitano, de 37 anos, torcedor do Boca Juniors que maio de 2015 apimentou o superclássico ao usar um spray contra jogadores do River Plate, terá de prestar serviços comunitários durante 8 horas por mês, por três anos. As tarefas não foram detalhadas pela Justiça. Uma hipótese forte é que a cozinha seja o destino do "Panadero", apelido que esse "xeneize" de classe média alta ganhou em função da rede de padarias que sua família estabeleceu na Grande Buenos.

A partida válida pelas oitavas de final da Libertadores do ano passado não terminou e o River levou a classificação. Os rivais se cruzaram porque o Boca tinha a melhor campanha da primeira fase e o River, a pior. O padeiro disparar o spray de pimenta caseira no túnel inflável por onde regressava o rival, perto da barrabrava 12. Errou a mão. 

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A irritação causada pela substância, que intoxicou e causou queimaduras leves em quatro jogadores, chegou até o último dos três níveis de arquibancadas do estádio. O clube foi punido pela Conmebol a quatro jogos de torneios internacionais com portões fechados, mas foi anistiado. A autoridade máxima do futebol sul-americano associou o indulto à celebração de seus 100 anos.

A quase absolvição de Napolitano foi divulgada nesta quinta-feira, 22, pelo juiz Carlos Manuel Bruniard, após acordo com a promotoria. Conhecido por seguir o clube em viagens internacionais, ele evitou um julgamento público por lesões corporais. Por três anos, ele não poderá frequentar estádios. 

Mariano Bergés, ex-juiz que preside a ONG Salvemos el Fútbol e comandou de 1993 a 2004 investigações contra barrabravas, aponta uma falha da Justiça no início do caso. "Deveria ter sido enquadrado como associação ilícita, pois ficou claro que a ação foi organizada e não poderia ter sido concluída sem participação de funcionários do clube e de policiais, que deixaram ele chegar à cerca próxima ao túnel. Começou investigado como um delito menor e terminou numa contravenção", analisa. 

Bergés diz ter recebido uma ligação do advogado de Napolitano pedindo que a ONG, uma referência nacional em segurança, desse palestras a seu cliente sobre comportamento em estádios. Ele respondeu que aceitaria, pela obrigação de acreditar na recuperação. "A lei atual prevê a possibilidade de serviço comunitário para réus primários. Há um projeto em trâmite que muda isso para delitos em estádio, mas ainda não foi aprovada", explica. Napolitano é casado, tem um filho e não apresentava antecedentes penais.

Nos últimos meses, o padeiro denunciou ameaças de torcedores irritados com a eliminação que ele desencadeou. Em julho, sua defesa culpou o Boca clube por não ter um túnel inflável em boas condições. Um buraco na lona teria estimulado Napolitano a usar o spray, que segundo ele era para proteção pessoal. O Boca foi à Justiça contra 17 sócios que expulsou e considera envolvidos no incidente. O pedido de indenização, de improvável êxito, está próximo dos US$ 7,8 milhões (R$ 25 milhões).

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Morador de Lanús, o Panadero prestará o serviço comunitário na Igreja Nuestra Señora de Fátima, no bairro de Belgrano, em Buenos Aires. Trata-se de uma vizinhança que ele deixou de frequentar desde 2013, quando os jogos passaram a ter torcida única na Argentina. O templo fica a 25 quilômetros da maior das três padarias de sua família e a apenas 1,5 quilômetro do estádio Monumental de Nuñez, casa do River, campeão do torneio de 2015. 

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