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TV leva clubes brasileiros a ter receita recorde em 2016

Luvas pagas pelos novos contratos de transmissão têm peso decisivo no melhor resultado da história, mas 'prosperidade' pode não se repetir em 2017

Foto do author Almir Leite
Por Almir Leite
Atualização:

Os clubes brasileiros tiveram receita recorde em 2016. O balanço de 20 deles – 19 que vão disputar o próximo campeonato da Série A e o Internacional, rebaixado à Série B –, registrou entradas de R$ 4,774 bilhões no ano passado, ante R$ 3,694 em 2015, crescimento de 29,2%. No entanto, o céu ainda não é de brigadeiro. Os bons números foram ajudados pelo recebimento de luvas dos novos contratos de TV. Como essa não é uma renda recorrente, há risco considerável de ocorrer redução de ganhos este ano. A não ser que os clubes encontrem alternativas.

Essa é a conclusão do consultor Pedro Daniel, especialista em gestão esportiva e responsável pela área Sports Management da BDO. Sua análise, feita com exclusividade para o Estado com base nos balanços dos clubes, mostra que os números podem não ser tão bons quanto parecem. A realidade se apresenta mais dura.

Palmeiras está quitando seus empréstimos Foto: JF Diorio|Estadão

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“O maior impacto em termos de receita foram os contratos de TV. O recorde em relação à receita é basicamente em função da contabilização de luvas’’, diz Pedro. “Mas no ano que vem os números tendem a não ser positivos, a não ser que (os clubes) encontrem novas fontes de receita’’, completa, referindo-se aos balanços que serão divulgados em 2017

O alerta se justifica. Vários clubes colocaram em seus balanços o valor recebido como luvas pelos novos contratos de direitos de transmissão (basicamente para o período de 2019 a 2024). Com isso, a participação das cotas de TV nas receitas subiu de 37% em 2015 para 50% no ano passado. No entanto, como luva não é receita regular não se repetirá no exercício atual. A consequência é o risco de o dinheiro que entra ficar mais curto.

Uma das saídas para manter as receitas em patamares semelhantes às do ano passado é bastante conhecida: a negociação de jogadores. Pedro Daniel acredita até que alguns clubes precisarão recorrer a ela em pouco tempo. “Nessa busca por fontes de receita, muito provavelmente vai ocorrer no segundo semestre deste ano a necessidade de venda de atletas, numa situação semelhante à de 2015.’’

As luvas da TV serviram para alavancar o balanço de muitos clubes. Vários deles, porém, não recorreram a elas para melhorar a arrecadação. Ou então colocaram valores parciais. Foi o caso do Flamengo, que “pegou’’ R$ 70 milhões das luvas e deixou provisões para os anos de 2019 e 2021.LADO BOM Há, porém, aspectos positivos. Dos 20 clubes analisados, apenas três (Internacional, Cruzeiro e Avaí) apresentaram queda em suas receitas em comparação com 2015. Muitos apresentaram excelente crescimento. O Flamengo foi o dono da maior receita, com R$ 510 milhões. O Corinthians veio a seguir com R$ 485,4 milhões, pouco mais que o Palmeiras (R$ 468,6 milhões). Foram verificadas outras variações positivas destacáveis, com as de Santos (74%) e Grêmio (72%). O endividamento também teve redução significativa.  Pedro Daniel observa outro fator positivo: o endividamento tributário, de maneira geral, está consolidado. Isso graças ao Profut, o programa de refinanciamento das dívidas fiscais e tributárias com o governo federal.  No entanto, o pagamento das parcelas dos Profut exigirá mais recursos dos clubes a partir de outubro. Nesse mês, o desconto nas parcelas passa a ser de 25%, em vez dos 50% em vigor nos dois primeiros anos do programa. “Ou seja, a parcela do imposto vai aumentar. A situação muda um pouco, mas imagino que os clubes já estão provisionando para isso.’’BONS E MAUS EXEMPLOS Palmeiras e Flamengo seguem sendo os melhores exemplos de gestão, na análise do consultor da BDO. O Alviverde, que tinha endividamento alto por conta de empréstimos para investimentos, já está quitando os compromissos, amparado pelo crescimento das receitas – o clube tem o maior faturamento com patrocínio do País, o maior ganho com bilheteria e aumentou as receitas em 20%. O rubro-negro reduziu o custo da dívida e, com o refinanciamento do Profut, entre outras ações, conseguiu voltar a bom patamar de receitas.

Já o Corinthians tem problemas, na visão de Daniel. “Está com um nível de exposição muito alto por causa da arena. Não tem receita de bilheteria com o estádio e tem um passivo de curto prazo muito alto. É problema de fluxo de caixa. Está vendendo atletas e não está repondo.’’

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O Inter também precisa tomar cuidado. Rebaixado à Série B, tem de subir também por segurança financeira. “Vai ter receita de Série B, mas tem contratos e despesas da Série A. Se ele não subir, o contrato vira de Série B. Por isso, é um ano mais perigoso para ele do que para os outros’’, alerta o consultor.

DÍVIDA COM EMPRÉSTIMO CAI A entrada de mais dinheiro nos caixas dos clubes em 2016 também teve como fator salutar a redução dos endividamento com os empréstimos. Dos 20 clubes analisados, 13 terminaram 2016 devendo menos do que no ano anterior.

“É um ponto bastante positivo. Diminuíram os empréstimos. É o tal negócio: como eu recebi luvas, consigo quitar aquilo que está me impactando a curto prazo. O grande aumento de receita acabou por diminuir o endividamento”, observa o consultor Pedro Daniel. Palmeiras, São Paulo, Corinthians e Santos, os paulistas considerados grandes, estão entre os clubes que conseguiram reduzir as dívidas.

Comparação entre as receitas dos clubes em 2015 e 2016 Foto: Arte/Estadão
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