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Uma seleção brasileira

Tite começa uma renovação e novidades no time titular surpreendem

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Por UGO GIORGETTI
Atualização:

Acho que o que o técnico Tite mais ambicionava era reconquistar a torcida brasileira. E a tarefa não era nada fácil. Uma grande seleção brasileira começa quando são claras as demonstrações de que se reconhecem naquele time em campo pelo menos um pouco do que fomos e do que queremos voltar a ser. Tite percebeu isso. Fez uma daquelas convocações sensatas bem ao seu estilo que parecem não mudar nada, mas mudam tudo. Há muitos nomes conhecidos e já vistos de outras convocações. São a parte intencionalmente prudente e pouco polêmica da convocação. Daí, porém, vem como quem não quer nada, alguns nomes novos e esses fazem a diferença. Elenco é uma coisa, time titular é outra. E é no time titular que Tite inovou. Quem esperava Paulinho, ou mesmo Gabriel Jesus entre os titulares?

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Mesmo os que estão muito tempo na Europa foram escolhidos também por suas motivações pessoais em jogar na seleção. Alguns já em estado avançado na carreira, outros porque se deram relativamente mal na seleção, todos precisavam ser recuperados aos olhos do torcedor. Jogadores que durante muito tempo estiveram longe de nós, se exibindo para outras torcidas, com outros esquemas de jogo, deram lugar ao que temos de mais recente e conhecido de todos. Convencido provavelmente de que só o Brasil salva o Brasil, Tite iniciou seu trabalho. E a renovação que se anuncia começa com ele mesmo. Dunga é certamente uma pessoa correta, honesta, que trabalha duro. Mas não é um treinador de futebol. Não para a seleção. Sua carreira como treinador é incrivelmente pobre. Nunca treinou qualquer equipe, a não ser o Internacional durante breve período. O grito enfurecido de burro, que faz parte da biografia de qualquer treinador de nossos times, parecia não atingi-lo. Tinha mais a postura de um burocrata ou um funcionário público, momentaneamente designado para o cargo. Naturalmente, ganhou pouco e perdeu muito. Tudo ao contrário de Tite, que hoje é uma unanimidade nacional, de conquistas feitas aqui, entre nós. E, curiosamente, aquele que veio para inovar, imediatamente começou por restaurar o bom e velho futebol brasileiro. Abandonou completamente brucutus e trombadores, que cantavam o hino com muito ardor, mas jogavam pouco. Chamou jogadores técnicos que tocam a bola, driblam e chutam em gol. Dificilmente haverá muitos gols de cabeça nesse ataque que jogou contra o Equador. Mas vai haver muita bola rolando na grama e tabelas rápidas. E, entre todos, Tite nos apresentou um novo jogador: Neymar. Sonho com um diálogo imaginário entre o treinador e o craque antes da partida. Sonho com Tite dizendo: “Neymar, você é um ponta de lança como sempre tivemos, como Zico, como Ronaldinho Gaúcho. Gente que parte com a bola dominada e vai para cima em tabelas furiosas. Hoje você vai ter alguém com quem tabelar. Vai lá, então, e faça seu jogo. Não é você que tem que se preocupar com seu marcador, é ele que tem que se preocupar com você”. Neymar terá ouvido algo parecido? Não importa. O fato é que tivemos um outro Neymar, que faz tempo não víamos. Como não víamos um meio de campo soberano sem errar passes, e uma defesa segura, diante de uma equipe da qual não ganhávamos faz muitos anos, em seu estádio, aliás, lotado.

Não se trata aqui de execrar o jogador que vem de fora, até porque muitos desse time vêm de fora. Se trata de saudar a mudança tão esperada que se esboça, algo que parecia esquecido: impor nosso jogo sobre o adversário, seja ele qual for seja em que campo for. Tite começa bem. Estou certo que sua primeira intenção foi conseguida. A torcida vai encher o estádio na próxima partida, mas uma torcida já diferente, com outro sentimento, que vai pra ver em campo não um futebol qualquer, mas um futebol de seleção brasileira. Esse time não vai ganhar sempre, mas isso não é tão importante. O orgulho é muito mais.