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Valcke recebeu pedido para desviar dinheiro para o Caribe

Carta datada de março de 2008 mostra como operação deveria ser

Por JAMIL CHADE e CORRESPONDENTE EM ZURIQUE
Atualização:

O secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, sabia do pagamento de US$ 10 milhões para cartolas no Caribe em 2008. Ele recebeu uma carta sobre o assunto no dia 4 de março daquele ano, com um pedido para que o dinheiro do orçamento regular da Copa do Mundo fosse desviado para a Concacaf. Para a Fifa a carta não prova nada, mas Valcke vai deixar a entidade junto com Blatter depois da eleição.

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A carta foi enviada pela Associação Sul-Africana de Futebol (Safa, na sigla em inglês), sugerindo que o dinheiro fosse colocado sob a administração de Jack Warner, dirigente de Trinidad e Tobago que à época era presidente da Concacaf e vice-presidente do Comitê de Finanças da Fifa.

“Prezado sr. Valcke”, é o início da carta. O texto pede que ele segure US$ 10 milhões do orçamento da Copa e depois transfira a quantia para um programa de desenvolvimento do futebol na América do Norte, Central e Caribe.

Jerome Valcke diz não ter autorizado pegamento ao então presidente da Concacaf Foto: Cathal McNaughton/ Reuters

O documento, assinado por M. Oliphant, presidente da Safa, ainda diz que Warner, um dos indiciados na investigação que os Estados Unidos estão fazendo sobre corrupção no futebol, seria o “fiduciário” do dinheiro. 

Segundo a Fifa, foram os sul-africanos que instruíram a entidade a mandar o dinheiro para Warner. Ele “administraria e implementaria” o projeto.

O nome de Valcke apareceu pela primeira vez no escândalo em uma reportagem publicada segunda-feira pelo New York Times. Segundo o jornal norte-americano, é ele o “alto dirigente da Fifa” que autorizou o envio dos US$ 10 milhões para Jack Warner.

O dinheiro seria uma retribuição ao voto dele pela África do Sul como sede do Mundial de 2010, de acordo com o FBI. A quantia, segundo a investigação feita pelos norte-americanos, teria sido prometida em 2004. Mas, sem recursos, os sul-africanos não conseguiram honrar o acordo. E, diante da insistência de Warner em receber o pagamento, pediram ajuda à Fifa – que quitou a “dívida” usando dinheiro que seria enviado à África do Sul como ajuda para a organização da Copa do Mundo. 

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No informe financeiro da entidade sul-africana, porém, nenhuma referência é feita aos US$ 10 milhões no balanço aprovado e publicado em 2008. NAS COSTAS DO MORTOEm defesa de um de seus principais dirigentes, a Fifa declarou oficialmente que a liberação do dinheiro foi autorizada pelo diretor do Comitê de Finanças à época, o argentino Julio Grondona, que morreu no ano passado. “O pagamento de US$ 10 milhões foi autorizado pelo então presidente do Comitê de Finanças e executado de acordo com os regulamentos da Fifa”, diz um comunicado da entidade.

“Nem Valcke nem nenhum outro membro de alto escalão da administração da Fifa foi envolvido na aprovação, início e implementação do projeto.” Grondona, que era o primeiro vice-presidente da Fifa, morreu logo depois da Copa do Mundo de 2014, num momento que deixou Blatter abalado.

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