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Vamos virar o jogo?

Por Paulo Calçade
Atualização:

O FBI entrou no jogo para escancarar ao mundo o real significado do tal padrão Fifa. Quando os norte-americanos identificaram o volume de corrupção que move o futebol, a partir da sede da entidade na Suíça, o time da polícia movimentou-se com a destreza de Lionel Messi e a volúpia da seleção alemã em dia de inesquecíveis 7 a 1. Golaço mesmo foi reconhecer que ninguém, aqui no Brasil, ficou perplexo com os fatos que conduziram José Maria Marin para a prisão. A medalha surrupiada de um jogador na Copa São Paulo de Futebol Júnior é símbolo de um estilo de vida que o FBI começa a dissecar. A ação policial, que remeteu velhas figurinhas carimbadas da picaretagem futebolística internacional ao xilindró, humilhou o Brasil. Inexplicavelmente, até hoje nossas autoridades engavetaram quase 100% de todas as investigações que envolveram cartolas da bola.  Os fatos estão aí, cuspidos no rosto do torcedor. Não é difícil entender porque essa gente busca blindagem política, com o recrutamento de deputados e senadores para o ventre da mãe CBF. Diante desse quadro, é natural que a MP do futebol tenha sido rejeitada e desfigurada no Congresso, graças à eficiência da bancada da bola, de prontidão para garantir que nada mude. Quem possui alguma intimidade com o futebol já viu placares confortáveis serem transformados. O momento é didático, enquanto o adversário perde um de seus craques, em temporada de cadeia na Suíça, é perfeitamente possível virar o jogo por aqui. Desde que nossas autoridades tenham algum interesse em cumprir seu papel. Estamos diante de uma oportunidade ímpar para melhorar o futebol brasileiro. É inaceitável a blindagem criada em torno do esporte, para o qual migraram vários personagens do crime organizado, da lavagem de dinheiro ao tráfico de drogas. Chegou o momento de dar ao futebol embalagem especial, de transparência e de controle, como pediu ontem (domingo) editorial do El País, em seu caderno de negócios. O diário espanhol defende um modelo de gestão e de equilíbrio. E vai além, fala em limitar mandatos de dirigentes. Em vários pontos, o texto se aproxima da MP 671. “Se os clubes forem disciplinados e houver um marco jurídico para suas finanças, a superestrutura (Uefa, Fifa) vai melhorar desde a base”. Bingo! Enquanto a Europa parte para o ataque, para abrir a caixa-preta das instituições do futebol, inclusive dos clubes, qual será o nosso comportamento? Vamos permitir que os negócios e as negociatas da CBF permaneçam intactos?  Esse ambiente desregulado interfere diretamente no desempenho do seu time, mantenedor e vítima do sistema. O futebol precisa se explicar, mostrar como as coisas funcionam. Pergunte ao presidente do seu clube como ele se comportou na eleição de Marco Polo Del Nero. Contestou ou ajudou a elegê-lo? A Europa partiu para o ataque. Fifa, confederações e federações nacionais serão intimadas a prestar esclarecimentos. Se não melhorar agora, é melhor desistir. E o Brasil, vai fazer o quê? Vai continuar ignorando? A semana promete. A temporada europeia termina no sábado com a final da Liga dos Campeões da Uefa. Juventus e Barcelona se enfrentam em Berlim. Até lá, haverá muito tempo para o lado bom do futebol, principalmente com Messi, Neymar e Suárez. No sábado, o argentino fez um gol antológico no Athletic Bilbao, o primeiro dos três que deram ao Barcelona a Copa do Rei. Quem estava no estádio não acreditou. Torcedores, jornalistas e até os jogadores duvidaram, por instantes, daquele momento, de que Messi havia mesmo conseguido superar quase meio time adversário antes de marcar. A bola de futebol gruda nos pés do craque, que em nenhum momento perde seu controle. Que seja assim.  

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