14 anos de títulos e escândalos

A administração Alberto Dualib começou em 1993 e, apesar das conquistas, sempre foi agitada por confusões

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Por Cosme Rímoli
Atualização:

A queda de Alberto Dualib significa a queda dele, de Nesi Curi e do mentor e manipulador da dupla, Wadih Helou. Por cinco décadas, eles lutaram pelo poder no Corinthians. Os 14 anos de Dualib marcam a decadência da ala mais conservadora e ditatorial do clube, que prometia manter o poder até pelo menos 2010. Quem importa, porém, é Dualib. O homem de 87 anos resistiu o quanto pôde, mas teve de desistir. Renunciou para não ser expulso e ter seu nome riscado do clube como se nunca tivesse existido. Foram 14 anos apegado ao cargo que sempre sonhou desde menino. Porém, o presidente que mais conquistou títulos (leia arte) sai pela porta de trás. A origem do Dualib no Parque São Jorge é fácil de explicar. Wadih Helou se aproximou de empresários ricos que pudessem colocar dinheiro no Corinthians. Dualib era dono de nove empresas, entre elas a indústria fabricante de tênis All Latex. Sempre cobiçou comandar o clube. Prometia modernizar o futebol. Sonhava com a participação das empresas privadas no clube e na construção do estádio. Como o mentor demorou a dar poder ao afilhado político, Dualib foi procurar justo o maior inimigo de Helou. "O Dualib veio pedir um cargo ao Vicente Matheus. Senti que era muito ambicioso. Tentei avisar o meu marido, mas ele não me ouviu e acabou traído", relembra Marlene Matheus. Dualib ganhou de Matheus vários cargos. Ele gostava da obstinação de Dualib de conseguir o que quisesse. A que preço for. Em 1986, quando era diretor de futebol, foi acusado de ter tentado subornar o árbitro Ulisses Tavares da Silva em um clássico contra o Palmeiras. Um escândalo. Abafado pela Federação Paulista. Enquanto deixava tudo se acalmar, Dualib se voltou para Paulo Maluf, seu ídolo na política, na batalha para a presidência da República em 1989. Fez o que pôde, colocou dinheiro, pediu votos. Mesmo com a derrota é malufista até hoje. Depois se voltou outra vez ao Corinthians. Aliou-se outra vez a Helou e se lançou como candidato à presidência. Ganhou do desgastado Matheus. O Corinthians tinha 40 mil sócios. E fez questão de denunciar: "Por causa de má administração, o clube está endividado. Devemos US$ 3 milhões. Vocês da imprensa sabem quanto é US$ 3 milhões?", perguntava em fevereiro de 1993, criticando Matheus. Dualib fazia promessas que, ele sabia, não poderia cumprir. Dizia que compraria o Pacaembu da prefeitura. Pura bobagem que encantava a torcida e enganou a mídia. Ele havia ganho um mandato de dois anos. Mas, dando um golpe escoltado pela Lei Zico (antecessora à Lei Pelé), modificou os estatutos do clube e pôde começar o metódico trabalho de conquistar os conselheiros com viagens, churrascos e cargos que acabaram lhe garantindo as reeleições por 14 anos de poder. "O trabalho do Dualib foi perfeito. Conquistou a base do clube e pôde usar a democracia a seu favor. Ditador ele sempre foi. Mas eleito. Ele conseguiu fazer o trabalho de amarrar os conselheiros de forma competente e ganhou as eleições", diz o conselheiro vitalício e ex-presidente da OAB, Rubens Approbato. E foi essa fortíssima base eleitoral que garantiu Dualib nas várias confusões que arrumou. Em dezembro de 1994, trocou a Finta pela Penalty como fornecedora de material esportivo. A troca era lucrativa já que a Finta pagava R$ 100 mil por ano e a Penalty, R$ 3,1 milhões. O estranho foi que a Penalty passou a licenciar a marca All Latex, que pertencia ao dirigente. Em novembro de 1996, crise no departamento amador - que sempre foi tratado como feudo de Nesi Curi. A Euroexport loteou o departamento colocando 50 jogadores seus. O dono da empresa, Antônio Ferreira, brigou com Dualib e levou os atletas para o Juventus. O Corinthians ficou na mão. Mal começou 1997 e com Ezequiel Nasser promoveu o que chamou de revolução: a parceria com o Banco Excell. Nasser colocou R$ 20 milhões e montou um time com Vampeta, Túlio e outras estrelas. O time foi campeão paulista. Dualib aprontou de novo. Chantageado pelo comandante da arbitragem brasileira, Ivens Mendes, prometeu ajudar. "Vou dar um, zero, zero", disse, se referindo a uma contribuição de R$ 100 mil para a campanha política de Mendes ao deputado por Minas Gerais. Primeiro deu uma desculpa esfarrapada. "Estava falando em cem camisas do Corinthians." Depois, aos deputados da subcomissão da Câmara Federal que investigava o caso, disse a verdade. "Estava com medo que o Corinthians fosse prejudicado pela arbitragem. Por isso dei o dinheiro." Foi suspenso por dois anos pelo STJD. Houve uma batalha jurídica até na Justiça Comum. Até que em 1998 o TJD cancelou as penas que estavam ligadas ao escândalo da Arbitragem e Dualib foi liberado para continuar fazendo o que nunca parou: comandar o Corinthians. Seguiram-se novos escândalos com os términos das parcerias com o Excell e com a Hicks Muse. As reclamações de Ezequiel Nasser e do representante do fundo de investimento americano, Dick Low: o Corinthians ficou com o dinheiro e não deu o retorno prometido. O banco Excell teria perdido R$ 20 milhões e a Hicks Muse, R$ 25 milhões. Ficou famosa a frase que Dualib teria dito ao seu vice e companheiro, Nesi Curi. "A gente traz os investidores estrangeiros e depois dá um bico neles e fica com o dinheiro." Foi com essa filosofia que ele recebeu Renato Duprat. O executivo trazia a proposta de um fundo de investimento que tinha como principal investidor o russo Boris Berezovski, a MSI. A promessa era dar US$ 20 milhões de cara e US$ 10 milhões em contratações. Parecia um sonho. Dualib estava preocupadíssimo porque o clube devia R$ 60 milhões e havia o forte boato de que ele teria de dar suas propriedades particulares para cobrir o déficit. Dualib, Nesi e Wadih fizeram o impossível para dobrar o Conselho e aprovaram a parceria no final de 2004. As confusões, políticas e na polícia, da relação são conhecidas. E o dirigente, após 14 anos, acabou apeado do poder.

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