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Afinal, são bons ou ruins?

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Por Ugo Giorgetti
Atualização:

É a pergunta que faço depois da derrota para a Alemanha. Eu, de minha parte, nem sei onde joga Fernandinho, por exemplo. Nunca o vi jogar, nem sei se terá jogado no Brasil. Será um bom jogador? Um jogador médio? Um mau jogador? E Willian, Luiz Gustavo, Dante, Hulk? Quem é essa gente, afinal? Pessoas que entrevimos em jogos esporádicos da seleção e alguns jogos no exterior, tudo pela televisão. Como é possível formar-se uma seleção com jogadores sobre os quais a maioria da torcida só tem uma vaga ideia? Compramos o que nos venderam. A razão pela qual nos venderam é outra história que pode e deve ser discutida. O fato é que a comissão técnica, sem titubear, fez sua escolha. Certamente por medo. Comissão técnica e CBF sabem que, na cabeça do brasileiro, tudo que está no exterior é melhor. Se alguém se estabelece com um carrinho de pipoca em Paris, imediatamente é elevado a celebridade e Rei da Pipoca. A qualidade da pipoca pouco importa. Mas ele está em Paris, e, como não foi ainda expulso, deve ser gênio. Confesso que seria um risco enorme a requerer dose de coragem imensa, audácia e mesmo temeridade, não aceitar nomes só porque estão no exterior. Porque se acontecesse o vexame, haveria sempre uma desculpa. Agora, há uma desculpa. Afinal, trouxemos o que de melhor havia "lá fora"! Que mais podíamos fazer? Convocar nossos campeões brasileiros do Cruzeiro, a começar pelo Dedé, e compará-lo a David Luiz, Thiago Silva? Chamar alguém do mero Grêmio, vice campeão? Quem ousaria? Afinal, as televisões não cansam de mostrar Real Madrid x Barcelona nos indicando como estamos por baixo. Felipão assim pôde vir a público, impávido, e dizer que fez seu trabalho. Fez mesmo. Como fizeram todos que nos impingiram a equipe dos 7 x 1. A começar pela TV Globo, que, ciente de que ninguém conhecia ninguém, produziu pequenos documentários sobre alguns jogadores particularmente misteriosos, veiculados em pleno Jornal Nacional, no intuito de informar o público de que ao menos tinham um dia nascido aqui. Anunciantes, por sua vez, cansaram de produzir comerciais cheios de efeitos especiais e jogadas que qualquer torcedor sabe que jamais se produziriam num jogo real sugerindo, subliminarmente, que esses efeitos especiais fariam parte do repertório desses supercraques fabricados nas ilhas de edição. Recebemos o pacote pronto de uma seleção que ninguém pôde avaliar em termos de qualidade e verdadeiro valor. Isso é impossível, mesmo com os 7 x 1.Todos os insultos recaíram principalmente no Fred por uma razão. É o único que conhecemos, o único "nosso", que vimos com nossos olhos que vinha de um ano fatídico cheio de contusões e más atuações, num time que se salvou da Série B apenas por uma artimanha mal explicada e misteriosa. Bom, sobre um pelo menos, sabíamos alguma coisa.

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