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Barbas de molho

Prisão de Coaracy Nunes Filho tira o sono de muita gente na cartolagem

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colunista convidado
Por Antero Greco
Atualização:

Cara de pau não tem limite. E a presunção de impunidade estimula os dedos leves de picaretas de qualquer espécie e atividade. Mas, ao menos no mundo da cartolagem esportiva, a esta altura tem gente com olheiras por horas de sono perdidas, e ouvidos apuradíssimos. Basta um toque da campainha de casa para provocar sobressaltos, acelerar as batidas cardíacas, respingar suor e vir o temor: “Minha vez?!”

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A convulsão na rotina de uma casta de nossa sociedade tem como raiz a prisão, na quinta-feira, de Coaracy Nunes Filho, até recentemente presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos, cargo que ocupou por 29 anos e que deixou só à custa de ordem judicial. O ex-todo-poderoso das piscinas pátrias foi detido por policiais federais sob acusação de desvio de verbas obtidas com patrocínios oficiais – os Correios (ou a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos) são parceiros de longa data da entidade, mais de um quarto de século. Ou eram, pois o contrato foi rescindido. Outros colaboradores também caíram na cilada.

As denúncias contra Coaracy não são recentes. Em diversas ocasiões, levantaram-se dúvidas a respeito do destino dado ao dinheiro que entrava para a CBDA. Atletas mais ousados e menos oprimidos pelo “sistema” e seus interesses soltaram o verbo contra o dirigente. Como ocorre em casos semelhantes, nada mudava, e os rebeldes se viam a reclamar no vácuo.

A maré mansa começou a encrespar com desentendimentos com pessoal do polo aquático, o mar ficou revolto com a entrada em cena do Ministério Público e a ressaca foi total com a operação “Águas Claras”, comandada pela Polícia Federal. Coaracy responderá por supostas fraudes em licitações e compra de material esportivo. 

Há aspectos a considerar nessa história, e dúvidas demais para responder. A primeira delas: como é possível uma pessoa manter-se à frente de uma organização, esportiva que seja, por tanto tempo? Como justificar as seguidas reeleições, por unanimidade, numa confederação com tanta importância e que recebia somas altíssimas? Não surgiu ninguém, em três décadas, com perfil confiável para estimular alternativa no poder? E o que leva alguém a passar boa parte da vida a dedicar-se a uma empreitada amadora? Abnegação pra chuchu.

Tem mais: pelo investimento, era de se esperar resultados mais expressivos. No reinado de Coaracy foram dez medalhas olímpicas. Proeza? Nem tanto, para os recursos recebidos. Pior foi o retorno nos Jogos do Rio, em que veio um bronze, na maratona aquática. 

Interrogações se estendem pro lado de cá, o de minha profissão. Já que na sexta-feira se comemorou o Dia do Jornalista, valem reflexões: é justo o espaço, muitas vezes generoso, concedido para “pronunciamentos de autoridades”? Essas ocasiões não servem como plataformas para eles, ao invés de funcionarem como momentos de apertá-los? Não se dá importância excessiva ao que dizem? Não são tratados como sumidades relés paraquedistas sociais? 

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Ainda na esteira das especulações: como está na moda a Delação Premiada, seria razoável supor que, se Coaracy resolve abrir o jogo, ocorreria efeito dominó. Já pensou o que pode ter de engomado com insônia? A CBDA não é a única em torno da qual pairam imensas nuvens cinzas.

Vale a pena chegar a 78 anos, idade de Coaracy, e passar por tal constrangimento? Ou, quem sabe, adquirir fobia de pôr os pés fora do País, sob temor de ir preso? Que vida é essa?

RISCO Corinthians e Santos pegam Botafogo (neste domingo) e Ponte (segunda-feira), respectivamente, para irem para as semifinais do Paulista. Os alvinegros famosos são favoritos, mas não disparados, para seguir em frente. Tiveram dificuldade nos jogos de ida, com empate em Ribeirão e derrota em Campinas. Olho nas zebras...

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