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'Brasil sabe fazer grandes eventos', diz embaixador britânico

Diplomata acredita que Copa e Olimpíada vão consolidar posição do País como bom anfitrião na área esportiva

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Por Almir Leite
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SÃO PAULO - Alexander Ellis é, desde julho, o embaixador britânico no Brasil. Ele assumiu o cargo no momento em que o País prepara-se para realizar a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016 e tem vários acordos de cooperação com o Reino Unido, em áreas como a esportiva, a comercial e a de segurança. Aos 46 anos, o entusiasmado torcedor do Arsenal se diz um privilegiado."Houve bastante competição por este lugar. Por isso, fico ainda mais feliz por estar aqui", disse ao Estado Alex Ellis, como é conhecido, na sexta-feira, em Interlagos, onde esteve para assistir aos treinos do GP do Brasil de Fórmula 1. Antes do segundo treino livre, ele falou de futebol, do que espera da seleção inglesa na Copa, das questões de segurança e da organização do Mundial e da Olimpíada.ESTADO - Como o Reino Unido poderá colaborar com o Brasil na organização da Copa e da Olimpíada?ALEX ELLIS - Temos experiência em várias áreas que têm a ver com esses grandes eventos. No caso da Olimpíada, temos parceria fortíssima com o Brasil há muito tempo. Tivemos um enorme grupo de brasileiros que foram a Londres em 2012. Mantemos um trabalho de cooperação. Temos a experiência do pessoal que trabalhou em Londres e agora está trabalhando no Rio/2016. Há muita coisa.ESTADO - E na área de segurança?ALEX ELLIS - Também temos muita cooperação na área de segurança por causa da Olimpíada e também da Copa. Treinamento, intercâmbio de informações entre as polícias britânica e brasileira... Reconhecemos que o Brasil já tem bastante experiência nos grandes eventos esportivos. A Fórmula 1 é um exemplo. O Brasil já organiza o GP há décadas. Vimos a grande experiência que o Brasil tem na visita do papa, funcionou bem. ESTADO - Mas como é essa cooperação?ALEX ELLIS - Eu diria que se dá em várias áreas. Já tivemos sessões com mais de 300 policiais brasileiros, com oradores britânicos vindo aqui, 140 policiais brasileiros foram a Londres por causa da Copa e vamos ter daqui a duas semanas o Cris Alisson, o número dois da nossa polícia de Londres (a Scotland Yard), que foi o responsável pelo policiamento da Olimpíada (era o coordenador da segurança nacional olímpica), para falar com as autoridades (da área de segurança) daqui. Então é bastante intenso. Cooperação sobre estádios, eventos e como lidar com grandes grupos.ESTADO - O terrorismo preocupa os britânicos em relação à segurança da seleção inglesa e dos cidadãos britânicos na Copa? O Brasil não convive com terrorismo...ALEX ELLIS - Isso é uma grande vantagem do Brasil. Nós infelizmente temos experiência nisso. Antes da Olimpíada de Londres tivemos de ter muito cuidado. Pode ser feita muita coisa (para prevenção). Por exemplo, na imigração. Vamos ter aqui na semana que vem um dos responsáveis pelo controle de fronteira antes da Olimpíada. Também temos expertise em como lidar com o tráfego aéreo. Nosso ministro do Transporte (o adjunto Robert Goodwill) falou na quarta-feira com seus colegas brasileiros sobre essa área de controle de tráfego aéreo durante a Olimpíada.ESTADO - É uma preocupação dos britânicos a possibilidade de um ato terrorista no Brasil?ALEX ELLIS - Acho que as autoridades brasileiras podem responder melhor sobre isso, mas é claro que cooperamos com as autoridades brasileiras em muita coisa, incluindo este (aspecto).ESTADO - Na Copa das Confederações ocorreram manifestações. Existe temor de que isso se repita?ALEX ELLIS - Essas manifestações têm um lado positivo, a impaciência do cidadão. Mas não ocorrem só no Brasil, eu vejo em muitos países, sejam democráticos, sejam autocráticos, essa impaciência. Eu acho que o Brasil já tem bastante conhecimento sobre como lidar com isso, mas é claro que estamos à disposição para trabalhar conjuntamente. Nós, no Reino Unido, também tivemos algumas manifestações em 2011 e estamos aprendendo sempre com essas experiências. Por isso, vai ser muito frutífera a visita do nosso número dois da polícia de Londres ao Brasil. Ele vai falar sobre várias coisas, incluindo esse tema.ESTADO - Vai ser feito um trabalho para controlar ou impedir que hooligans ingleses venham ao Brasil?ALEX ELLIS - A incidência dos hooligans na Inglaterra atualmente é muito menor do que no passado. Mudou muita coisa desde os anos 80. Hoje em dia é bem diferente. Durante a Copa da África do Sul, houve apenas 11 detenções, por problemas pequenos. Claro que a associação de futebol tem conosco e com a polícia muito conhecimento de como manejar os torcedores. Quase todos os torcedores são excelentes. O brasileiro vai ver milhares de torcedores (ingleses) fiéis e ótimos.ESTADO - O que o senhor espera da seleção inglesa na Copa?ALEX ELLIS - (rindo) Vamos ser prudentes. Temos garantidos três jogos. Depois disso, vamos ver. Eu prefiro começar com perspectivas baixas e depois subir. Confio nos grandes jogadores do Arsenal, Wilshere, vamos ver se Chamberlain vai conseguir (vir à Copa), Walcott também.ESTADO - Gostaria que a Inglaterra enfrentasse o Brasil?ALEX ELLIS - Seria excelente pegar o Brasil na primeira fase. Já pegamos em uma oportunidade, em 1970 (Brasil 1 a 0), foi um grande jogo, a fotografia de Pelé com Bobby Moore é significativa. O Brasil está muito bem. Ninguém chega a uma Copa para evitar adversários.ESTADO - A Inglaterra ficará no Rio? As instalações escolhidas foram criticadas pela imprensa inglesa...ALEX ELLIS - Acho que está confirmado. O essencial é criar as melhores condições para ter o melhor desempenho do time. Eu acho que nossa federação está em melhor posição de julgar isso (as instalações do hotel onde ficará hospedada a seleção).ESTADO - Em relação à Olimpíada, existem conselhos que possam ser dados às autoridades brasileiras?ALEX ELLIS - Não estou aqui para ensinar. Estamos aqui para ouvir e cooperar. É tudo questão de planejamento, visão de longo prazo. Uma questão interessante para o Brasil, que foi para nós também, é como tornar isso um evento nacional, e não só o evento de uma cidade. A tocha tem um papel importante. Nós conseguimos colocar a tocha em toda parte. Não é conselho meu, mas nunca esqueço as palavras de Lorde Cole (Sebastian Cole, presidente do Comitê Organizador dos Jogos de Londres). Ele disse: "Em primeiro lugar vem o atleta. Em segundo, é muito importante explicar para a própria cidade para onde vai o dinheiro. Em terceiro, sempre ter cuidado sobre qual é o verdadeiro legado".

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