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(Viramundo) Esportes daqui e dali

Cabeça de ervilha

Por Antero Greco
Atualização:

Conto um episódio que tem a ver com o tema da crônica de hoje. Muitos anos atrás, ganhei de presente, numa festa de fim de ano aqui do Estado, viagem para a Disney. Fiquei num hotel chique, perto dos parques, e toda noite, antes de deitar, tomava chocolate quente, ao preço de US$ 0,99. Dava um dólar e recebia um centavo de troco. Já me impressionava aí, ter troco! Depois de uns dias, a garçonete me deu 11 centavos. Alertei-a do engano e ouvi a seguinte explicação: "O produto é novo, teve boa aceitação e o preço caiu." Meu queixo idem. Naquele momento, entendi que fabricante e comerciante queriam minha fidelização ao consumo. Isso é capitalismo inteligente. Cruzeiro e Atlético-MG decidem, na quarta-feira, a Copa do Brasil. Desde a classificação de ambos para a final, as respectivas diretorias brigam, fazem pirraça uma contra a outra. Dentre as provocações, está o preço dos ingressos. Já foram extorsivos na ida, no Horto (R$ 400 reais em média). Agora, no Mineirão, o Cruzeiro colocara bilhetes até por mil reais para os fãs do Galo que se atreverem a ir ao estádio. O Ministério Público interveio e a Justiça determinou redução pela metade. A alegação cruzeirense é de que o pontapé inicial da confusão veio do rival, ao encrespar com as entradas para o clássico da semana passada. Assim, o aumento mastodôntico de agora seria uma espécie de revide velado. Fica um empurra-empurra de culpas. No meio do tiroteio está o torcedor, o cidadão apaixonado por um desses clubes tradicionais, que no fundo não tem nada a ver com as picuinhas de dirigentes. O prêmio que ele recebe pela empolgação, pela ansiedade de ver o time levantar uma taça, é a facada no bolso. Que não sejam os mil reais, que se limite à metade ou a 40% não importa: os valores são escorchantes. Joga-se com um sentimento sério e, por trás da suposta incompatibilidade entre as cúpulas sobra para a finança do aficionado. Na base do impulso, estimulado pelas desavenças - reais ou de araque -, gasta até o que não pode. Capitalismo estulto, de ocasião, de mentalidade do tamanho de ervilha. Em vez de cativar o torcedor, tê-lo sempre por perto, se opta por arrancar o couro dele, faturar o máximo possível e tocar adiante. Ganha-se em uma partida, perde-se em outras 70 e vem lamentação. Ensaio de inteligência são os programas de sócio-torcedor. Uma pequena evolução na relação com o público - ainda assim há oportunidades em que estes são preteridos ou pagam muito. Fica difícil tornar o futebol rentável se falta argúcia aos que o dirigem. E, como perguntar não ofende: cartolas pagam ingresso? E as Organizadas? Para elas também a conta é tão salgada? Ou são subsidiadas? Mensagens com exemplos dignificantes para cá. Horror verde. Não era premonição, muito menos exercício de futurologia. Mas, na coluna de anteontem, escrevi que o Palmeiras jogaria na casa refeita, linda, e que só faltava time. Os jogadores entrariam em campo divididos entre a alegria e o temor. Os 2 a 0 para o Sport confirmaram a expectativa negativa. Infelizmente.O novo Palestra é magnífico, quem esteve lá aprovou. Houve falhas que, com tempo e profissionalismo, sumirão. Antes disso, deve desaparecer a péssima imagem deixada por um dos elencos mais insignificantes na história centenária da agremiação. Não concordo com quem cante "vergonha, time sem vergonha". Isso é atacar o caráter dos rapazes. O time é ruim de doer, muitos não têm condições de envergar camisa tão pesada. O fantasma do rebaixamento voltou com força. Os próximos passos serão Coritiba e Inter fora, Atlético-PR em São Paulo. Sofrimento à vista. Como li num tuíter sagaz, lamentável é chamar essa equipe de Palmeiras. Uma afronta.Rogério decide. Há pressão para Rogério Ceni confirmar aposentadoria já, e por interesse comercial. Ele avisou que a decisão é pessoal e não quer interferência. Muito bem.

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