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Cachorra disputa maratona aquática e rouba cena em Ilhabela

Leona é da raça labrador, tem 8 anos e encara provas no mar

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Por Carlos Alciati Neto
Atualização:

O público se aglomerou entusiasmado no pórtico de chegada da 3ª etapa do Circuito Paulista de Maratona Aquática, no último domingo, de muita chuva, em Ilhabela. O interesse pela prova de 2 km, que já contou com a participação de atletas como a campeã mundial Poliana Okimoto, não era por algum medalhista olímpico. Sob aplausos, urros e gargalhadas saiu do mar uma cachorra da raça labrador. Leona, de 8 anos, é cercada pelas pessoas em busca de uma foto e carinho. Há cinco anos ela rouba a cena dos medalhistas nas provas de travessia em Ilhabela, uma competição oficial do calendário esportivo da Ilha.

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Engana-se quem acha que o animal entra na disputa por causa do amor do engenheiro Cláudio Placa pela natação. "Meu esporte é o jiu-jitsu. Eu entro nas provas porque ela gosta muito de nadar", revela o morador de São Paulo, que tem uma casa de veraneio na praia. Placa foi até alvo de brincadeiras durante o contorno da última boia de sinalização do percurso, quando a narradora oficial do evento chamou a atenção do público, uma vez que a cachorra estava nadando na frente do dono. "Eu atrapalho, se ela não tivesse de me esperar e, às vezes, até voltar um trecho para ficar ao meu lado, ela faria um tempo bem melhor. Chegaria no pelotão da frente", aposta.

De fato, Leona chegou na frente de muitos atletas amadores. "Ainda bem que cheguei um pouco antes", brinca Fabiana Peres, atleta de Jacareí medalha de bronze em sua categoria. A presença de Leona não incomodou a nadadora, pelo contrário. "Nessa prova, eu consegui me guiar por meio da boia que a cachorra usava (a largada do feminino é depois). Para mim, foi legal", diverte-se.

Leona tem o aval da veterinária Vanessa Padredi, que receita não mais que ração e vitaminas para a competidora. "Ela come muito, assalta a geladeira, rouba comida da gente. Se não gostasse tanto de nadar, estaria gordinha", conta Placa. Segundo o dono do animal, Leona dispensa o colete para cachorro e, de acordo com a veterinária, pode nadar até chegar aos 12 anos.

NASCEU NADANDO

Após a morte de um cachorro da família, Placa procurou um novo animal para atenuar o pranto do filho. Encontrou Leona, ainda filhote, nadando dentro do bebedouro improvisado no canil. "Comecei a construir minha casa e, toda vez que eu entrava no mar para mergulhar, a cachorra estava atrás de mim. Um dia cansei de levá-la de volta e disse que ela ia ficar. Não vou mais pescar sem ela ao lado." Na água, Leona guarda a boia de sinalização e tem boa serventia para segurar a rede com frutos do mar colhidos pelo engenheiro.

Com habilidade incomum para encarar a maré, Leona já protagonizou episódios de heroísmo, quando busco dois mergulhadores iniciantes que não conseguiam retornar à costa. Também arrastou até o barco dos bombeiros o corpo de um pescador que se afogou, relata seu dono. "O barco não conseguia tirar o corpo do pescador, vizinho meu, inclusive, e ela 'empurrou' até eles".

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Leona tornou-se patrimônio de Ilhabela. Não é raro vê-la se atirando do píer da Praia Grande junto com outras crianças. Tem, de acordo com Placa, uma autorização informal da municipalidade para manter sua rotina de treinos e competir. De dentro de sua casa de transporte, no carro do engenheiro, basta visualizar o mar para começar a chorar pela chance de um mergulho. Em uma das cachoeiras da ilha, Leona brinca e encoraja turistas a arriscar uma descida pelo escorregador natural. O melhor amigo de Cláudio Placa é mais do que uma atleta de travessia aquática. "Ela me ensina muito sobre companheirismo e como amar sem exigir muito, sem guardar rancor. É um amor incondicional." (Colaborou Luiz Felipe Barbiéri)

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